quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Obrigado Cristiano!

Onde quer que eu vá, na aldeia mais remota do deserto do Sahara, às espectaculares metrópoles do Médio Oriente, das belas capitais europeias aos confins da Índia, Cristiano Ronaldo chega sempre antes de mim.

Obrigado Cristiano!









domingo, 10 de novembro de 2013

As Bruxas da Noite

As Bruxas da Noite - URSS 1942
Este é um artigo que demorei mais de um ano a compor. A primeira vez que ouvi falar das "Bruxas da Noite", uma unidade de aviadoras soviéticas durante a segunda guerra mundial, foi no livro "Um Escritor na Guerra", de Antony Beevor e Luba Vinogradova. Na altura retirei uma conjunto de pequenas histórias que achei bastante interessantes. Só mais tarde, depois de ver mais alguns documentários sobre o assunto é que me decidi a escrever sobre o assunto.

Agora, com o Halloween no War Thunder a anunciar o clássico avião das "Bruxas da Noite" Polikarpov PO-2[1], e a revista "All About History"[2] a dedicar uma série de páginas às famosas pilotos, já não tinha mais desculpas para manter o silêncio. Todas as informações de que precisava estavam agora disponíveis.

O contexto, claro está, é a Operação Barbarossa[3], quando em Junho de 1941 a Alemanha Nazi invade a União Soviética. Derrotas atrás de derrotas dão a clara impressão a ambos os lados (e a todos os outros que assistem horrorizados) de que estamos perante mais uma bem sucedida blitzkrieg da Alemanha Hitleriana sobre mais uma potência mundial.

Em poucas semanas, milhões de soldados vindos de todos os cantos da URSS morriam ou eram feitos prisioneiros. Stalin, o todo poderoso ditador soviético envia todas as tropas para a frente de combate que pode. Mal preparadas, mal organizadas e mal equipadas.

É neste ambiente de derrota total e absoluta que Marina Raskova[4], famosa piloto russa detentora de vários recordes aéreos de distância e que já conquistara a medalha de "Herói da União Soviética" pede uma audiência com Josef Stalin. E foi através do seu conhecimento pessoal e do desespero da URSS que consegue passar a sua proposta. Sem nada a perder, Stalin aceita a criação da primeira esquadrilha feminina. A sua prioridade é no entanto muito baixa. O seu equipamento não passava de sobras da muito desfalcada e mal equipada força aérea soviética.
Policarpov Po-2

Três regimentos da força aérea foram criados, exlusivamente compostos por mulheres. Não só as pilotos, mas todo o pessoal de terra era também do sexo feminino. Destes três, um haveria de ficar famoso. Curiosamente, não o que tinha os mais modernos aviões nem as missões de combate mais espectaculares, mas sim o Regimento 588 de Bombardeamento Noturno[5]. Equipado com velhos Polikarpov Po-2[6], biplanos dos anos 20 que já estavam absolutamente ultrapassados quando a guerra se inicia, nada faria crer que este regimento teria quaisquer condições para se destacar.

Assim, um conjunto de raparigas com cerca de 20 anos de idade lideradas por Yevdokia Bershanskaya[7], com os seus ultrapassados Po-2, vestidas com roupas dos aviadores masculinos em segunda mão e botas vários números acima dos adequados entram na guerra depois de um apertado e insuficiente treino.


Yevdokia Bershanskaya
A sua missão era o bombardeamento de precisão, harassment e reconhecimento aéreo. Os seus aviões, originalmente desenhados para treino e apoio agrícola, encontravam-se agora a lutar contra modernos Messerschmitt 109 e FW-190. A vitória parecia impossível, e nem uma coragem extrema permitiria acreditar na sobrevivência destas mulheres contra os maiores pilotos de todos os tempos. Afinal de contas, os cem primeiros ases (pilotos com mais aviões abatidos) da segunda guerra mundial são todos da Luftwaffe, a força aérea alemã. Curiosamente, o primeiro não alemão foi um finlandês, Ilmari Juutilainen[8] que também lutou também contra a URSS (e equipado com o caça alemão Bf 109. Mas nem tudo eram más notícias para o regimento feminino. Os seus ultrapassados biplanos eram de tal forma lentos (a sua velocidade máxima era 152 Km/h) que os aviões alemães não conseguiam voar à mesma velocidade. Por outro lado, como acontecia com grande parte dos biplanos da época, eram extremamente ágeis por isso conseguiam enganar os ataques da Luftwaffe. Se a isso acrescentarmos o facto de este regimento se ter especializado em ataques noturnos, a aviação alemã tinha imensas dificuldades em impedir as corajosas aviadoras.

Assim, os seus bombardeamentos normalmente passavam sem obstruções. O 588º, mais tarde renomeado 46º Regimento da Guarda devidos aos seus feitos durante o período mais negro da guerra, melhorou ainda as suas prestações especializados no voo planado com o motor desligado. Atravessavam as linhas inimigas sem se denunciarem, largando então as suas bombas quando viam os cigarros acessos nas trincheiras do inimigo. As tropas soviéticas deixavam pequenas velas no fundo das suas próprias trincheiras de forma a que elas soubessem exactamente onde terminava o território controlado pelo Exército Vermelho. Voavam tão baixo que a utilização de pára-quedas era irrelevante. Ao ponto de nem sequer os trazerem a bordo.

Foram os amedrontados alemães nas trincheiras do leste da europa que lhes deram o nome: Nachthexen. As russas gostaram e adoptaram-no, ficando para a história como As Bruxas da Noite. Ao todo, as tripulações (que nunca excederam os 40 pares) receberam 23 medalhas de Herói da União Soviética.

No final da guerra, cada piloto tinha feito mais de 1000 saídas. 3 mil toneladas foram lançadas sobre o inimigo e 30 dos seus membros morreram em combate. Uma história em grande parte desconhecida no Ocidente. Apenas uma das muitas pequenas histórias de coragem e desespero que marcaram a mãe de todas as guerras.