quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Burkas, Abayas e a Mulher Árabe

Se o motivo para as mulheres muçulmanas usarem burkas ou abayas era o de impedirem os seus instintos de vaidade, provavelmente não estará a resultar muito bem. Ao contrário do que imaginava quando cheguei pela primeira vez ao Médio Oriente, o tradicional vestido negro que cobre as árabes locais da cabeça aos pés - e em alguns casos até a totalidade da cara - mostra uma realidade muito mais complexa a uma variedade muito maior.

O uso de roupas que cobrem o corpo todo é, em muitos casos, anterior ao Islão (como é o caso da burka afegã), no entanto acabaram por ficar associados a esta religião por apropriação cultural no momento da sua criação. Sem querer entrar em excessivos detalhes sobre a história e desenvolvimento da religião muçulmana e da cultura árabe, gostava só de apontar um pormenor relevante que distingue o Islão dos dois outros grandes monoteísmos (Judaísmo e Cristianismo): o facto de o seu líder religioso ter-se tornado em vida também como líder político e militar e ter participado na criação do seu império. Isto fez com que o Islão tivesse muito cedo, ainda durante a vida do profeta Mohammed, que definir muitas regras práticas de governação, de justiça, policiamento, estratégia militar e até leis de família. 

É, no meu entender, essa praticalidade que podemos encontrar em muitas das regras que distinguem o Islão de, por exemplo, o Cristianismo[1]. Pode-nos parecer estranho a aversão que esta religião mostra ao álcool, ao jogo ou à carne de porco, mas basta imaginarmos uma época de caos e escravidão, onde as pessoas arruinavam as suas famílias e acabam como escravas pelas suas dependências (será que mudamos assim tanto?) para compreendermos que estas proibições, embora puritanas, são em grande medida também regras de auto-defesa de uma sociedade. A proibição do consumo de carne de porco, inegavelmente associado a inúmeras doenças da altura e sendo um animal profundamente sujo, também não é estranha. Noutros casos, essa necessidade prática pode ter tido benefícios inimagináveis, como por exemplo na obrigação de lavagem (hoje considerada ritual) antes de rezar. Será que não se teria evitado ou limitado a Peste Negra, se calhasse de estar escrito na Bíblia que um banho uma vez por semana agradava a Deus?

O que me leva novamente à questão do uniforme árabe. A lei islâmica não é totalmente clara em relação à roupa, mas defende que as mulheres devem vestir de forma modesta  para que não atraiam uma indevida atenção dos homens. Ou seja, procura-se evitar a atração do sexo oposto e condena-se a vaidade de o tentar fazer. 


Princesa Haya da Jordânia com o seu marido Sheikh Mohamed Al Maktoum,
Primeiro-Ministro dos EAU e Sheikh do Dubai

No entanto, se as mulheres da península arábica tentam seguir a letra da lei, parece-me claro que a cada dia que passa estão mais longe do espírito da lei. Quando fui viver para o Dubai, há quase uma década atrás, as abayas eram quase todas iguais: pretas da cabeça aos pés, e muito raramente com um fio dourado ou diamantes bordados nas mangas ou no hijab (o lenço que cobre a cabeça). Com o tempo, foram-se tornando mais visíveis, com fios pendurados nos ombros, pequenos recortes em azul escuro, dourado ou castanho e com cortes mais à medida. Grandes nomes da moda, como Yves Saint Laurent investem cada vez mais neste mercado e algumas abayas têm agora a marca bem visível. Nos desfiles de moda, como aconteceu na recente inauguração do Yas Mall, em Abu Dhabi, onde os vestidos ocidentais e locais foram mostrados em conjunto na mesma colecção. Não é de descurar também a influência de algumas personalidades, como a Princesa Haya, segunda esposa do Sheikh Mohammed do Dubai, que - tal como o marido - utiliza por vezes roupas tradicionais ou modernas, quer do Médio Oriente como do Ocidente.

Com as mulheres dos Emirados a tomarem conta das universidades e, cada vez mais, a ganharem espaço na vida pública e profissional do país, podemos estar a assistir a uma mudança cultural muito relevante neste país, a da emancipação real das mulheres, onde a roupa é apenas uma pequena parte de tudo o que poderá estar para vir.




[1] Como declaração de interesses, devo informar os leitores que me considero agnóstico, tendo sido educado no cristianismo de Roma.

15 comentários:

  1. Na verdade o uso de roupas pretas nao é obrigatorio para a mulher pois a cor preta reflete tristeza ou ódio e solidao e o isla nao e uma religião que apoia iste tipo de sentimentos e é muito melhor para uma mulher muçulmana usar cores alegres mas que nao chamem muita atenção...tambem nao sao todos os paises arabes que obrigam a mulher a usar preto como por exemplo a síria o egito o libano etc. Ha paises arabes que sao muito rigidods e obrigam a caisas absurdas que nem a religiao concorda com como por exemplo ( a mulher nao pode dirigir) o que e um absurdo pois o isla deu todos os direitos a mulher e ela faser tudo aue o homem faz como estudar, trabalhar, escolher o seu marido, passear, ter amigos etc.
    O islã é uma religião que foi criada por deus pelo seu mensageiro profeta mohamad para facilitar a vida das pessoas e não perturbalos e fazer tudo mais complicado

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    1. Ninguém disse que a religião obriga a usar preta. Apenas que é a tradição da península arábica, o que é um facto.

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  2. Desejo para quem escreveu este testo enorme que parece ser conta o islã que tenha mais serteza do que publica e faça mais pesquizas sobre um assunto tao fragil e o respeite como o islã respeita todas as religiões pois o profeta Mohamad disse que( nem uma religioa é regeitada) mas cada ser humano é obrigado a estudar todas as religioes e se convenser da sua religiao...quem nao respeita o outro nao se respeita em primeiro lugar

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    1. Não compreendo porque "parece ser contra o Islã". Vivo há muitos anos no mundo islâmico e tenho tanto respeito pelo Islão comot tenho pelo Cristianismo e todas as outras religiões.

      Explique em que momento eu fui anti-islâmico ou islamofóbico.

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    2. Quantos erros, Certeza, convenCer e teXto com S? ReJeitada com G? PesquiSas com Z? A pessoa não sabe escrever e quer criticar um texto, o mundo esta perdido mesmo!!!

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    3. O Islã é sim uma religião de ódio, pois entendem que os líderes islâmico tem um ódio por cristãos​ e judeus, é apenas vocês pesquisa.
      As mulheres usam preto por serem viúvas outras é porque gosta...
      Más parem é pensam o Islã não bem o que vocês acham que é ok?
      Os será que vocês não verem o que a religião prega? Ela prega para quem é islâmico, e está fora dela que faz parte de outras religiões.
      Quem se acha o espertinho então me diga porque eles andam matando quem
      É cristã, judeus, gays e dentre outros mais?
      Eu tenho provas que essa religião não é do bem, tenho prova do que deles dizem em ser "inocentes" é bem diferente!
      Conversei com um achando que eu estava errada e e não gostei nada
      e do que ele me disse, se vocês vê-se a verdade, vocês não teriam estômago para isso.

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  3. So quero saber quem teve a coragem de publicar algo errado de um assunto tao serio assim...gente pelo amor de Deus vcs nao podem publicar alguma coisa se nao tem serteza dela...

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    1. Caro Anónimo. Quer explicar melhor qual é a parte que considera errada?

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  4. A parte final do seu artigo deve ter provocado alguma apreensão a certas mentes.

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    1. Caro Alberto, é possível que sim. Mas ao mesmo tempo alguns destes países árabes têm tido uma evolução tão rápida nas últimas 5 décadas que até é possível que se adaptem muito rápido. Se tiver tempo, leia o artigo que escrevi recentemente sobre Abu Dhabi, que é relacionado com este assunto. http://oreivaivestido.blogspot.com.br/2015/07/abu-dhabi-da-pobreza-riqueza.html

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  5. E porque será que ainda há dias foi divulgado um video que mostrou o fuzilamento em praça publica de uma mulher só pelo facto de ela, embora trajando de preto,trazer uma bolsa vermelha. Não será isto a aplicação cega da " sharia" estabelecida pelo auto denominado Estado islamico???????????? ASSASINOS.

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    1. Está honestamente a tentar colocar lado a lado o Estado Islâmico e lugares como o Dubai ou Abu Dhabi?

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  6. EU gostaria de saber qual é o tecido usado na confecção da abaya?

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    1. Estou longe de ser um especialista na matéria, mas alguns sites falam de um tecido chamado "crepe", feito a partir de seda ou lã.

      http://www.modestylounge.co.uk/blog/2015/09/typical-materials-used-for-abayas/

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Crepe

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  7. Nós mulçumanas utilizamos o preto pela religião,um introspectivo interior de cada uma...
    Algumas por respeito,outras por motivos de higiene,outras pela sociedade...
    Religião ingloba tudo isso
    Uso de niqab,se adquiriu na religião...
    Uma doutrina...
    Aliás,uso do véu,desde que mundo é mundo se é utilizado...apenas foi adptado à cultura religiosa .

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