sábado, 20 de julho de 2013

The Ethnic Cleansing of Palestine

Não admira que Illan Pape tenha sido considerado como o mais corajoso de todos os novos historiadores israelitas. O seu livro "The Ethnic Cleansing of Palestine"[1] desfaz categoricamente os mitos de que o milhão de refugiados de 1948 eram simplesmente o resultado colateral da guerra de independência. Um dos muitos males provocados naturalmente pelas guerras, como vemos hoje na Síria por exemplo. Os factos apontam para uma verdade bem mais sinistra. A vaga de refugiados de 1948 é o corolário de uma acção preparada e implementada durante muitos anos por Ben Gurian e a liderança zionista e obedece a um plano muito claro, o Plano Dalet[2].

Como parte deste plano, as aldeias e cidades do mandato da Palestina foram catalogados segundo as suas etnias, os nomes dos seus líderes locais e todos aqueles suspeitos de envolvimento nas revoltas dos anos 30 registados cuidadosamente. O plano tinha como objectivo explícito a conquista de todas estas cidades, o homicídio da sua liderança e a prisão indiscriminadas de homens em "idade militar", ou seja, entre os 10 (!!!) e os 60 anos. Incluia também a expulsão de todos os seus habitantes para fora do que os zionistas consideravam que deveria ser o seu estado e por fim a destruição metódica das aldeias até que nada sobrasse delas.

É um livro pesado, relatando cuidadosamente as violações, homicídios e destruições uma após a outra. Aldeia após aldeia. Cidade após cidade. Muitos destes massacres foram feitos ainda antes da saída dos britânicos. Em diversos casos, foram até ajudados por estes. Grande parte da limpeza étnica foi feita muito antes dos exércitos árabes declararem guerra ao novo estado de Israel, e curiosamente, o esforço de guerra foi tão pouco de parte a parte que nem sequer teve influência no calendário da limpeza étnica que continuou o seu curso sem problemas.


Explica-nos ainda porque motivo algumas cidades foram poupadas. Como as cidades santas cristãs, quando os zionistas temeram que o mundo se virasse contra ele já que muitas dessas cidades eram de maioria cristã. E como a Legiões Árabe jordana, o mais formidável dos exércitos árabes envolvidos, manteve o seu território mesmo quando o Rei Abdullah da Jordânia dividia os despojos da Palestina com a liderança zionista.

Por fim, mostra que o exército paramilitar judaico (denominado Haganah, que mais tarde se tornou no IDF) e as suas unidades de elite, a Palmach, trabalharam lado a lado com organizações terroristas judaicas, como o Stern Gang e o Irgun. Com estes, fizeram atentados bombistas, assassinaram líderes políticos e procederam ao Plano Dalet, tal como programado. Mais de 500 aldeias desapareceram do mapa. Muitos refugiados e os seus descendentes, ainda hoje esquecidos no Líbano e Jordânia sem documentos ou nacionalidade, mantém as chaves de casas há muito dinamitadas, como nos conta Robert Fisk[3].

Em discussões sobre o conflito Israelo-Palestiniano, existe sempre um momento em que um dos pró-israelitas pergunta se estamos a colocar em causa a existência do estado de Israel. A resposta é simples. Ele nunca deveria ter sido criado. Agora, até aceito que terá que existir, mas isso não altera o facto de que é um estado que está a ser montado por atropelo diário aos direitos humanos. Que praticamente todos os crimes que um estado pode cometer sobre uma população indígena estão a ser ali cometidos. E isso iniciou-se há 65 anos mais ainda não parou. Só mudou em intensidade e  estilo.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bismarck

Bismarck
A curta história do Bismarck[1], o super-couraçado nazi que ultrapassava tudo o que marinha inglesa da segunda-guerra mundial tinha, é um dos momentos decisivos do cenário europeu. Navio almirante da Kriegsmarine, com uma tripulação de 2000 marinheiros e um total de 55 mil toneladas, este era um dos mais poderosos navios de guerra alguma vez feitos. O seu armamento, velocidade e poder de fogo eram simplesmente superiores aos dos seus inimigo. A sua missão era juntar-se às alcateias de submarinos no Atlântico Norte e impor o bloqueio naval sobre o Reino Unido. O espectacular navio era - como tantos outros antes dele - considerado inafundável.

Na sua primeira viagem, afunda o navio almirante britânico, o Cruzador de Batalha HMS Hood com um único tiro certeiro. Praticamente todos os navios disponíveis da marinha britânica são então lançadas sobre o Bismarck. O final, como quase sempre acontece na guerra, é trágico. Nestes dias, milhares de homens dos dois lados morrerão no mar, abandonados pelos navios que os poderiam ter salvo. Golpes de sorte e azar definem o vencedor e, para a história, fica as intermináveis discussões habituais: o que poderiam ter acontecido se não tivessem tido sorte/azar? que poderia ter sido feito para evitar esse final?

Uma última questão que não é colocada neste brilhante documentário: para quê construir couraçados numa era em que pequenos aviões com um torpedo os conseguiam destruir? Na realidade, mesmo os japoneses que perceberam a fraqueza dos grandes navios e fizeram de Pearl Harbour um dos mais espectaculares ataques surpresa da história militar não conseguiram evitar gastar quantidades inacreditáveis de recursos para construir dois couraçados que ultrpassavam até o famoso Bismarck (e o respectivo gémeo Tirpitz[2]). Com um total de 72.000 toneladas, o Yamato[3] e o Musashi[4], provaram-se igualmente inúteis e indefensáveis.

Este documentário[5] utiliza de forma bastante elegante as novas tecnologias, criando imagens CGI dos navios e das batalhas durante esses decisivos dias de Maio de 1941, com entrevistas com os últimos sobreviventes de alguns dos navios envolvidos na batalha, com os detalhes de uma expedição submarina. Muito interessante, e com alguns detalhes interessantes sobre a questão dos radares, que não tinha visto desenvolvida noutros documentários.




quinta-feira, 4 de julho de 2013

Das Boot



Filme

Nesta longa procura de encontrar os melhores filmes de sempre sobre a Segunda Guerra Mundial, chego agora a um que terá que estar no pódium de qualquer lista deste género. "Das Boot" (cujo título em português é um infeliz "A Odisseia do Submarino 96"[1]) conta-nos a história do U-Boot 96[2] sob o comando de Heinrich Lehmann-Willenbrock[3]. Este filme alemão foi em 1981 um sucesso inesperado em todo o mundo tendo feito enorme sucesso nos Estados Unidos da América. Alguns dos seus principais actores (nomeadamente Jurgen Prochnow[4]) tornaram-se estrelas em Hollywood e o seu realizador, Wolfgang Peterson[5], ganhou um protagonismo que lhe permitiu fazer depois super-produções, como Tróia e Air Force One.

A versão que acabei de ver é precisamente o Director's Cut do "Das Boot". Mais de três horas de um ambiente absolutamente claustrofóbico, de enorme suspense e de um lado muito cru e mecânico da guerra. A comida cada vez mais estragada, as barbas maiores, a sujidade por todo o lado e um crescente cinismo em relação a tudo o que se relacione com a guerra, tornam o filme pesado e triste, num crescendo onde se espera sempre o pior.

Como escrevi noutras ocasiões, a exatidão histórica destes filmes é um dos critérios que mais utilizo para os apreciar. E este, não obstante alguns detalhes abusivos sobre as personagens e lugares, mostra fielmente o que era a vida num dos submarinos alemães durante a Batalha do Atlântico. Enquanto a propaganda alemã mostrava heróis, lobos que levavam o Império Britânico ao chão, os submarinistas eram na realidade dos militares que viviam em piores condições. A sua taxa de mortalidade era absurdamente alta, sendo que dos 40.000 marinheiros que serviram nos submarinos da Kriegsmarine[6], quase 30.000 perderam a vida. O que significa que a esperança de sobrevivência de um submarinista era inferior à dos homens que fizeram o desembarque na Normandia. O filme captura este medo constante, uma relação de amor entre os homens e o seu navio, uma unidade do grupo à volta do seu capitão e uma posição bastante apolítica da guerra. Também o tratamento dos náufragos inimigos mostra alguns dos dramas da guerra submarina.


"Delães" o Bacalhoeiro português
afundado quando regressava da Terra Nova
Pegando agora no lado histórico, o verdadeiro U-96 passou depois para as mãos de um novo comandante: Hans-Jurgen Hellriegel[7]. E é com este novo líder que o submarino se vê envolvido num acontecimento trágico para um navio português. A 11 de Setembro de 1942, o belo Bacalhoeiro português "Delães"[8] regressava a Portugal quando foi interceptado pelo submarino. Não tendo respondido às ordens de paragem, tendo mostrado uma navegação suspeita e ainda devido à passagem na noite anterior de um combóio de navios aliados (ON 127[9]), o "Delães" acabou por ser afundado com o canhão de bordo embora todos os seus tripulantes tenham sido salvos dos seus barcos salva-vidas umas horas depois[10].

Um filme extremo, sujo e pesado. Cuja comparação com qualquer outro filme sobre submarinos é desnecessária e sem sentido. Todos os outros se comparam a este.


Dossier Filmes da Segunda Guerra Mundial: