quinta-feira, 4 de julho de 2013

Das Boot



Filme

Nesta longa procura de encontrar os melhores filmes de sempre sobre a Segunda Guerra Mundial, chego agora a um que terá que estar no pódium de qualquer lista deste género. "Das Boot" (cujo título em português é um infeliz "A Odisseia do Submarino 96"[1]) conta-nos a história do U-Boot 96[2] sob o comando de Heinrich Lehmann-Willenbrock[3]. Este filme alemão foi em 1981 um sucesso inesperado em todo o mundo tendo feito enorme sucesso nos Estados Unidos da América. Alguns dos seus principais actores (nomeadamente Jurgen Prochnow[4]) tornaram-se estrelas em Hollywood e o seu realizador, Wolfgang Peterson[5], ganhou um protagonismo que lhe permitiu fazer depois super-produções, como Tróia e Air Force One.

A versão que acabei de ver é precisamente o Director's Cut do "Das Boot". Mais de três horas de um ambiente absolutamente claustrofóbico, de enorme suspense e de um lado muito cru e mecânico da guerra. A comida cada vez mais estragada, as barbas maiores, a sujidade por todo o lado e um crescente cinismo em relação a tudo o que se relacione com a guerra, tornam o filme pesado e triste, num crescendo onde se espera sempre o pior.

Como escrevi noutras ocasiões, a exatidão histórica destes filmes é um dos critérios que mais utilizo para os apreciar. E este, não obstante alguns detalhes abusivos sobre as personagens e lugares, mostra fielmente o que era a vida num dos submarinos alemães durante a Batalha do Atlântico. Enquanto a propaganda alemã mostrava heróis, lobos que levavam o Império Britânico ao chão, os submarinistas eram na realidade dos militares que viviam em piores condições. A sua taxa de mortalidade era absurdamente alta, sendo que dos 40.000 marinheiros que serviram nos submarinos da Kriegsmarine[6], quase 30.000 perderam a vida. O que significa que a esperança de sobrevivência de um submarinista era inferior à dos homens que fizeram o desembarque na Normandia. O filme captura este medo constante, uma relação de amor entre os homens e o seu navio, uma unidade do grupo à volta do seu capitão e uma posição bastante apolítica da guerra. Também o tratamento dos náufragos inimigos mostra alguns dos dramas da guerra submarina.


"Delães" o Bacalhoeiro português
afundado quando regressava da Terra Nova
Pegando agora no lado histórico, o verdadeiro U-96 passou depois para as mãos de um novo comandante: Hans-Jurgen Hellriegel[7]. E é com este novo líder que o submarino se vê envolvido num acontecimento trágico para um navio português. A 11 de Setembro de 1942, o belo Bacalhoeiro português "Delães"[8] regressava a Portugal quando foi interceptado pelo submarino. Não tendo respondido às ordens de paragem, tendo mostrado uma navegação suspeita e ainda devido à passagem na noite anterior de um combóio de navios aliados (ON 127[9]), o "Delães" acabou por ser afundado com o canhão de bordo embora todos os seus tripulantes tenham sido salvos dos seus barcos salva-vidas umas horas depois[10].

Um filme extremo, sujo e pesado. Cuja comparação com qualquer outro filme sobre submarinos é desnecessária e sem sentido. Todos os outros se comparam a este.


Dossier Filmes da Segunda Guerra Mundial:



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