sábado, 29 de dezembro de 2012

A guerra das Falkland

Afundamento do navio argentino General Belgrano
pelo submarino nuclear britânico HMS Conqueror em
2 de Maio de 1982
Um documentário a não perder, com a qualidade BBC, sobre a guerra das Falkland/Malvinas[1] de 1982 com um nível de detalhe que até aqui não tinha encontrado. Fiquei surpreendido com a violência da batalha terrestre e com o nível de sacrifício que ambos os lados (Reino Unido e Argentina) aguentaram numa guerra cujo valor estratégico era (e continua a ser) nulo. Muitos documentários estão focados na entrada dos Harrier em combate pela primeira vez. Aqui temos não só essa perspectiva, mas também a batalha naval e por fim o desembarque e o avanço dos marines britânicos até à capital do arquipélago,  Stanley. Simplesmente uma questão de orgulho de parte a parte que fez jorrar muito sangue e que mantém o potencial de o voltar a fazer.




quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tu também Medina?

Todos somos inocentes até considerados culpados. Mas é desanimador quando vemos algumas pessoas que julgamos que nunca poderiam estar sequer próximas destas histórias mais sujas aparecer em capas de jornal desta forma[1][2]. Não há muito a dizer. Estou boquiaberto. E ainda na esperança de haver uma explicação lógica para isto.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

24 hours for Palestine

Carta que recebi do Avaaz e cuja assinatura da petição online recomendo. Para já, pelo que percebi para além de Portugal, também a Espanha e França votarão favoravelmente à entrada da Palestina nas Nações Unidas como estado observador não-membro.




Only 24 hours until the UNGA vote, we are winning country after country across Europe with our massive push. Click below to sign up and send a direct message:

Dear Avaazers,


In 24 hours the UN will vote on whether to recognise a Palestinian state. 1.6 million of us have helped get over 100 countries to back this historic peace initiative! But Israel's far-right government is furiously opposing it and many countries are still on the fence -- let's get to 2 million voices for Palestinian freedom!  

Sign the petition
In 24 hours, the UN will face a historic vote on Palestinian statehood. While extremists in Israel and Gaza killed civilians on both sides last week, responsible leaders backed this peace initiative, and it needs our help to win.

UN recognition of Palestine could help end 40 years of repression and lead to two states -- Israel and Palestine -- living in peace and security side by side. 1.6 million of us have signed on and helped get over 100 countries to support the bid! But Israel's far-right government is lobbying hard and many countries are still on the fence.

Heads of state are deciding right now. Our petition is already being widely covered in the media and delivered through actions like a 4 storey-high flag (at right) in front of key government buildings. Click below and let's get to 2 million voices for a freedom and peace that the Palestinian people have not known for a generation:

http://www.avaaz.org/en/palestine_worlds_next_nation_eu_rb/?bVEOXbb&v=19616

After the terrible violence and killings in Gaza and Southern Israel in recent weeks, the urgency for a sustainable solution could not be more obvious. This is a legitimate, non-violent proposal that could turn the tide on endless bad-faith 'peace' talks that simply provide cover for the steady illegal colonization of Palestine by Israeli ‘settlements’. This bid could rescue the path to a fair peace process between two states.

The Israeli and US governments are strangely calling the Palestinian bid ‘unilateral’, when in fact it's a massively popular initiative and all it's asking is for the world to vote. The UN, World Bank and IMF say that the Palestinians are ready to run their own state, if only the Israeli military occupation would end.

Last year the US alone blocked a Palestinian bid at the UN Security Council. But in the UN General Assembly, all nations vote and this resolution could end the US hegemony over this conflict. It can't make Palestine a UN member, but it can declare Palestine a state that could have access to a range of international organisations, and it is a crucial step towards ending the occupation.

After our mega campaign in Europe, France and Spain appear to be voting yes! If we all raise our voices now we can persuade all countries to stand on the right side of history and back a Palestinian state. With firm support and financial aid, this could be a turning point. Join the urgent petition to support the bid now:

http://www.avaaz.org/en/palestine_worlds_next_nation_eu_rb/?bVEOXbb&v=19616

Palestinian statehood will not bring a resolution to this intractable conflict overnight, but UN recognition will change the dynamics and will begin to unlock the door towards freedom and peace. Across Palestine, people are preparing, with hope and expectation, to reclaim a freedom their generation has never known. Let's stand with them.

With hope and determination,

Dalia, Alice, Jeremy, Marie, Ricken, Aldine, Nick, Pascal and the rest of the Avaaz team

MORE INFORMATION

Two-State Solution on the Line (New York Times)
http://www.nytimes.com/2012/11/26/opinion/global/brundtland-carter-two-state-solution-on-the-line.html

UK to back upgrading Palestinian UN status (FT)
http://www.ft.com/intl/cms/s/0/2cc62538-37f3-11e2-b8d3-00144feabdc0.html

Palestinian statehood wins European backing (The Guardian)
http://www.guardian.co.uk/world/2012/nov/19/palestinian-statehood-wins-european-backing

France indicates support for Palestinian UN vote (Reuters)
http://www.reuters.com/article/2012/11/22/france-palestine-vote-idUSL5E8MMCID20121122

Palestinian Authority rejects calls to postpone statehood bid (RT)
http://rt.com/news/abbas-palestine-un-statehood-504/

Q&A: Palestinian bid for upgraded UN status (BBC)
http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-13701636

sábado, 17 de novembro de 2012

Mais uma guerra em Gaza

Tropas israelitas na fronteira com Gaza
 nos seus Caterpiller D9 - 17 NOV 2012
(Imagem CNN)
Voltamos ao mesmo. Subitamente a tensão entre o governo do enclave de Gaza nos territórios ocupados da Palestina e Israel sobe[1] e começam as acusações de parte a parte[2][3]. Ambos os lados falam em auto-defesa e no entanto cada um dos dois é culpado de cada passo na escalada para um conflito total. Como em 2008, na Operação Cast Lead[4], os eventos sucedem-se e arriscamos-nos a assistir nos próximos dias a uma invasão terrestre[5]. Entretanto cada um dos lados vai mostrando o que aprendeu nos últimos 4 anos e as suas novas capacidades militares. Pelo meio, milhões de civis israelitas e palestinianos fogem para onde podem sem conseguir viver uma vida normal. A comunidade internacional vai-se colocando nas suas posições habituais preocupando-se muito pouco com os factos que levaram a isto e o que pode ser feito para evitar o pior. A esquerda e os países de maioria muçulmana colocam-se do lado do Hamas, a direita e os países ocidentais do lado de Israel[6][7][8].

É difícil voltar ao início e perceber o que aconteceu. Provavelmente teríamos que voltar até 1948 e à criação do estado de Israel[9] ou ao final do século XIX e ao aparecimento do movimento Sionista[10]. Num tempo mais recente, vimos a liderança palestiniana partir-se em duas depois de o partido islâmico Hamas, baseado na tradição egípcia da Irmandade Muçulmana que agora governa o Egipto, ter tomado conta da faixa de Gaza no que esteve perto de se tornar na primeira guerra civil palestiniana[11]. Desde então, Israel e o governo de Gaza têm mantido um estado de guerra que levou a uma invasão total em 2008. Israel mantém ainda um bloqueio ao território deixando passar apenas o mínimo essencial à sobrevivência da população. Este bloqueio é considerado ilegal pela maioria dos especialista em direito internacional[12]. Por outro lado, quer o Hamas quer o governo israelita foram acusados pelas Nações Unidas, no famoso relatório Goldstone liderado pelo juiz Richard Goldstone, de crimes de guerra[13] durante a Operação Cast Lead de que falamos anteriormente. Não ficarei de todo surpreendido se daqui a uns meses estivermos a ler um novo relatório a dizer rigorosamente o mesmo.

Mas não obstante as dificeis condições em Gaza, os eventuais rockets Qassam atirados sobre Sderot[14] e os ocasionais ataques da força aérea israelita[15][16], a situação parecia nos últimos meses estar relativamente controlada. É complicado aceitar isto como uma situação normal, mas comparado com o que estamos a ver hoje, era menos mau.

No final de Outubro, o Emir do Qatar Sheikh Hamad bin Khalifa Al Thani tornou-se no primeiro chefe de estado a visitar a faixa de Gaza desde que o Hamas tomara o controlo da mesma[17]. Prometeu investimentos e ajudas para reconstruir o país e beneficiou de, com a queda do governo de Mubarak no Egipto e da subida da Irmandade Muçulmana ao poder, Gaza ter agora acesso ao mundo e um novo aliado às portas. Também o Primeiro Ministro egípcio, Hisham Qandi, foi também ao território confirmar esse apoio já em plena crise (no dia 16 de Novembro)[18] declarando publicamente que o mundo tem que parar a "agressão israelita em Gaza". Uma outra das estrelas da Primavera Árabe, a Tunísia, através do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros Rafik Abdesslem visitou a cidade de Gaza afirmando que "[Israel] não tem total imunidade e não está acima da lei internacional".

Apenas horas depois do Emir do Qatar sair de Gaza, Israel e o Hamas já voltavam à sua rotina. O Hamas atirando com morteiros e foguetes enquanto a Força Aérea Israelita bombardeou causando 4 vítimas[19].

A partir daí, os relatos são confusos porque ambos os lados justificam todas as suas acções como auto-defesa ou contra-ataques. Nas suas mentes endurecidas por décadas de violência, tudo o que fazem é compreensível e não existe nenhum outro caminho a seguir. Para os civis de ambos os lados, a vida é um inferno vivendo sob uma chuva constante de ataques[20][21].

Eu próprio, que procuro acompanhar os acontecimentos na Palestina com algum cuidado por lá ter vivido durante anos, quando olho para trás vejo o erro que é procurar cair na discussão de quem começou primeiro. Um lado e outro (à semelhança do que acontece na fronteira norte de Israel entre este e o Hizbullah) mantém normalmente um certo nível de violência. Depois fazem os seus planos e utilizam o seguinte ataque do adversário para iniciar o seu próprio movimento, tipicamente preparado com bastante antecedência. Aconteceu assim em 1982, como ficou brilhantemente descrito em "Israel's Lebanon War" dos israelitas Ze'ev Schiff e Ehud Ya'ari[22]. E voltou a acontecer o mesmo, nas palavras da própria imprensa israelita que admite que "A resposta de Israel de quarta-feira estava planeada há muito mas tinha sido adiada devido à campanha eleitoral"[23].

Mas alguns eventos são relativamente claros, embora nem todos tenham tido a mesma reprecursão na imprensa internacional. No dia 5 de Novembro, o IDF (forças armadas israelitas) admitiu ter morto um palestiniano desarmado que se aproximou demasiado da barreira que separa Gaza de Israel no dia anterior[24]. O homem, que não reagiu aos avisos feitos pelos militares israelitas sofria de perturbações mentais e foi alvejado por não se ter afastado. Infelizmente não fico surpreendido pelo evento. Nas anos que passei na Palestina tive que cruzar check points israelitas centenas de vezes, para além das entradas nas fronteiras terrestres (para a Jordânia) e no aeroporto Ben Gurion (perto de Tel Aviv). Diz-me a experiência que embora estas travessias (em especial as das fronteiras) fossem lentas e aborrecidas, normalmente não eram arriscadas. Não era incomum ser revistado e interrogado inúmeras vezes e passar 4 a 6 horas no processo de segurança. O processo era mais simples e mais profissional quanto mais velhos e experientes fossem os militares ou seguranças envolvidos no processo. No entanto, por vezes tinha o azar de encontrar alguns acabados de entrar no serviço. E com esses assisti ou fiz parte de algumas situações bastante mais complicadas. Numa ocasião, num check point à saída de Nablus (Cisjordânia) um jovem militar israelita que parecia ainda não ter saído da adolescência entrou subitamente em pânico quando se apercebeu que eu tinha um casaco vestido, enquanto os restantes passageiros estavam apenas de t-shirt. O facto de ser um pouco mais friorento que os meus colegas valeu-me um susto grande já que o guarda acreditou que eu poderia ser um bombista suicida e o casaco esconder os explosivos. Apontou-me a M16 (salvo erro) ao peito enquanto dava alertas e me gritava num inglês difícil de compreender para abrir o casaco imediatamente. A situação também era resultado de umas horas antes um comando israelita (provavelmente do Shin Bet) ter entrado na cidade de Nablus para uma operação na cidade e de cidade ter sido fechada ao mundo durante horas, mas essa história ficará para outro dia. Numa outra situação, esta no check point imediatamente antes de chegarmos ao Aeroporto de Ben Gurion, o meu taxista (apropriadamente chamado Arafat) estava preocupado por o guarda que fazia a revista ao seu Mercedes novinho em folha estar a ser muito pouco cuidadoso. Enquanto procurava bombas debaixo do carro, com um espelho pendurado na ponta de um tubo de ferro, o aparelho acertava continuamente no carro deixando o pobre Arafat desesperado. O jovem militar israelita entrou subitamente em stress quando viu a forma como o taxista olhava para ele, apontou-lhe uma arma ao corpo e desatou aos gritos. Só a intervenção de um militar mais veterano impediu que a troca de palavras que se seguiu acabasse de forma mais dramática.

Mas voltemos ao incidente que levou à morte do doente mental palestiniano. Não é difícil imaginar que algum soldado mais inexperiente tenha disparado em pânico. Terá sido provavelmente um acidente. Típico quando há armas a mais e juízo a menos, mas ainda assim um acidente. Mas existe ainda outra questão em relação a esse disparo, que é a total impunidade de qualquer militar israelita quando mata um palestiniano. Essa inexistência de accountability leva também a que estes eventos se repitam em inúmeros check points. Seja porque alguém não ouviu a ordem, porque não a compreendeu (sei por experiência que muitas vezes as ordens são dadas em hebraico e não em árabe ou inglês), ou qualquer outro motivo. O facto é que todos sabem que nada acontecerá a um israelita que dispare num palestiniano. E isso já é um problema político e uma questão de justiça, não um acidente. Para piorar, neste caso específico, as equipas médicas do lado de Gaza foram impedidas de se aproximar do homem durante horas, acabando este por morrer[25]. Não sou jurista, mas quase que aposto que isto seria um crime de guerra, se estes crimes se aplicassem a todos os países e não só aos derrotados.

Uns dias depois, a 8 de Novembro, Ahmed abu Daqqa de 13 anos, é morto a tiro enquanto jogava futebol com os amigos a cerca de 1500 metros de um posto israelita. Morreu pouco depois[26].

Durante todo esse período, também o Hamas não esteve parado.  Entre dia 4 e 9 de Novembro, cinco rockets Qassam foram atirados sobre território israelita sem causar feridos ou mortos. A partir de dia 10, os ataques intensificam-se com 25 rockets atirados no dia 10 e cerca de 100 no dia que se seguiu.


A 14 de Novembro, Israel inicia a Operação Pilar de Defesa assassinando Ahmed Jabari, líder militar do Hamas[27] e alegadamente envolvido no rapto do soldado israelita Gilad Shalit[28]. No seguimento do ataque, ambos os lados sobem a parada e no dia seguinte já tinham perdido a vida 3 israelitas e 11 palestinianos, na sua maioria civis[29]. Pela primeira vez desde a guerra do Golfo (em 1991, quando Saddam disparou um grande número de mísseis Scud sobre Israel[30]) que ninguém nas principais cidades israelitas ouvia as sirenes de alerta de ataque. Agora voltou a acontecer em Jerusalém[31]. Também Tel Aviv foi alvo de mísseis disparados de Gaza[32]. Para já o novo sistema de defesa israelita Iron Dome tem conseguido interceptar uma parte considerável dos ataques, mas o facto de existirem já 3 vítimas civis israelitas prova que não é um sistema perfeito[33].

Neste momento em que vos escrevo (madrugada de 17 para 18 de Novembro), acabo de ouvir na SIC Notícias Henrique Cymerman anunciar que mais de 1000 rockets foram disparados da faixa de Gaza e mais de mil ataques aéreos e navais foram feitos pelas forças israelitas. Dezenas de milhares de reservistas estão a ser chamados para a fronteira de Gaza e toda a gente se prepara para o pior.

Veremos que novidades os próximos dias nos trarão. Mas só podemos esperar o pior. Infelizmente devemos estar prestes a ver mais uma invasão. Mais combates no meio de civis. Mais umas centenas ou milhares de vítimas que não têm para onde fugir. Mais um ataque com os indescritíveis IDF Caterpiller D9[34]. Mais uma guerra que deveria acabar com a "infraestrutura terrorista", mas que servirá apenas para criar milhares de novos recrutas para os movimentos fundamentalistas islâmicos. Nem tudo é igual. A nível político (em especial para a Irmandade Muçulmana) está muito em jogo. Mas para os civis de um lado e outro, voltamos ao mesmo. Uma guerra que é ainda pior do que a podre paz em que viviam.





sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Al Qaeda - A História do Islamismo Radical

Book Review

Nos meses que se seguiram ao 11 de Setembro de 2011, inúmeros livros foram publicados sobre Bin Laden e a sua Al Qaeda. Aproveitando a onda de interesse, editores e autores apressaram-se a escrever qualquer coisa com os poucos dados que eram conhecidos, sabendo que o sucesso dessas edições estava garantido à partida. Foi por isso que na altura recusei comprar um único desses livros. As minha expectativas eram simplesmente demasiado baixas. Como nota lateral, lembro-me de uma semana depois dos atentados, em entrevista a uma das televisões portuguesas um responsável por uma das lojas de livros em Portugal explicava que tiveram que adaptar a sua oferta aos novos interesses, detalhando que "as pessoas de baixo nível cultural compravam Nostradamus enquanto as de um nível superior procuravam o Al Corão". Mas com o tempo mais informação foi sendo desclassificada e um sem número de reporteres de guerra lançaram a sua atenção nesta organização e nos países que a albergaram e defenderam durante anos. Um destes foi Jason Burke, que nos trouxe este magnífico "Al Qaeda - A História do Islamismo Radical" publicado em Portugal pela Quetzal Editores. Este inglês, redator chefe do Observer, esteve no terreno nos vários teatros de guerra em que a Al Qaeda controlava operações ou influenciava os movimentos locais e publicou este livro em 2003 embora o seu trabalho já o tivesse anteriormente levado ao Afeganistão e Paquistão anteriormente.

A forma como descreve a Al Qaeda é interessante, mas provavelmente ainda mais relevante é a forma como esta organização se foi transformando ao longo do tempo. Já em 2003 Jason Burke colocava a Al Qaeda ao nível mais de uma ideia do que de uma organização formal. Já nesta altura mostrava que Bin Laden se tinha transformado mais num símbolo do que num líder operacional, que em muitos sentidos nunca fora. Ideias que só foram aceites e compreendidas muitos anos depois, quando inúmeros grupos terroristas se começaram a auto-denominar Al Qaeda. Na realidade, para se ser Al Qaeda, basta declará-lo e estar minimamente alinhado nos seus princípios.

No pós 11 de Setembro ou, para ser mais rigoroso, com o colapso do governo Taliban, a Al Qaeda perde toda a sua estrutura formal e passa a um estado de clandestinidade. Os seus campos de treino são bombardeados, os seus financiadores sauditas e dos reinos do golfo pérsico afugentados, os seus protectores afegãos perseguidos. No entanto, a sua imagem de mártires e de vingadores dos povos muçulmanos oprimidos fica mais forte do que nunca. Bin Laden cresce para um estatuto de lenda, muito mais do que Mohammed Atta e outros que de facto criaram e levaram a operação até ao fim.

Antes disso, uma combinação de eventos e características pessoais levam Bin Laden a tornar-se neste ponto central do financiamento do terrorismo islâmico internacional: a invasão soviética do Afeganistão cria uma onda de apoio entre os milionários e governos árabes no sentido de parar o avanço do comunismo ateísta. Bin Laden, de uma família multimilionária Saudita de origem no Yemen tinha, para além de dinheiro, uma vida simples e sem luxos enquanto voluntário Mujahedeen. Isto levava a que fosse visto como a pessoa perfeita para canalizar o dinheiro árabe para a luta armada. Não tinha necessidade dele porque era rico e o seu estilo de vida garantia que o dinheiro seria utilizado para os fins a que se propunha. Desta forma a Al Qaeda (que durante muito tempo não tinha sequer nome) funcionava mais como uma fundação, que subsidia bons projectos e dá-lhes as condições financeiras, logísticas e humanas para que sejam bem sucedidos. Houve por isso diferentes graus de envolvimento da Al Qaeda com os actos a que está ligada. Por vezes organização tudo do princípio ao fim, com todos os detalhes tratados e garantidos por si, enquanto noutras situações só deram dinheiro e treino para projectos que estavam totalmente desenhados e planeados.

Este livro é, naturalmente, muito anterior à captura e morte de Bin Laden. É também anterior a alguns dos actos a que a Al Qaeda aparece associada, como a guerra na Síria e Líbia. No entanto, não posso dizer que o livro esteja ultrapassado. Jason Burke escreve o caminho que Al Qaeda seguiu e previu com muita exactidão aquilo em que esta se iria tornar nos anos após o atentado de 11 de Setembro. Um livro que provavelmente cairá no esquecimento, mas que li com enorme interesse e que certamente consultarei de vez em quando para compreender um pouco melhor esta "Guerra contra o Terror", que teve data de início mas - não obstante já não se falar muito - não tem ainda data de fim.

sábado, 3 de novembro de 2012

Importa-se de repetir Sr. Embaixador?

Ehud Gol - Embaixador de Israel em Portugal
Não admira que homens como Norman Finkelstein falem na existência de uma "indústria do holocausto"[1]. Esta semana o embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol, foi à conferência "Portugal e o Holocausto, aprender com o passado, ensinar para o futuro" para nos presentear com um conjunto de afirmações que roçam o insulto à inteligência e à memória histórica[2]. Em plena Fundação Gulbenkian, Gol afirmou que Portugal "foi o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias" por morte de Adolf Hitler e acrescentou ainda que "É uma nódoa que para nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal". 

Este tipo de chantagem psicológica aparenta ser mais uma das muitas táticas utilizadas pelo lóbi de Israel para conseguir concessões ou pagamentos directos do país, ao estilo dos relatos de John J. Mearsheimer e Stephen M. Walt[3]. Mas começo por dizer que, tendo os judeus sido vítimas daquele que provavelmente será o maior crime alguma vez cometido, bandeiras a meia haste deveria ser o menor dos seus problemas.

Durante os anos fatídicos de 1933, quando Hitler ascende ao poder, até à sua queda em 1945, o povo judeu foi assassinado aos milhões com a ajuda dos governos fantoches ou legítimos da Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Noruega, Áustria, Checoslováquia, Polónia, Croácia, Itália, Estónia, Letónia, Lituânia, Grécia, etc. Em praticamente toda a europa, as polícias secretas em conjunto com a Gestapo procuravam e deportavam todos os judeus enviando-os para a morte. Portugal, nessa altura, protegeu não só os cidadãos portugueses de religião judaica como também fez vista grossa a milhares de judeus ilegais que entraram no país com vistos falsificados ou produzidos por embaixadas como a de Bordéus cuja validade legal era duvidosa[4]. Tudo isto enquanto o governo de António Oliveira Salazar se via a braços com uma potencial invasão espanhola e/ou alemã de Portugal continental e de uma invasão dos aliados nas ilhas dos Açores pelo que necessitava de manter uma postura o mais neutra possível para evitar ser empurrado para a mais destrutiva guerra de todos os tempos[5]. Se todos os países tivessem tido o mesmo comportamento que Portugal, nem teria existido guerra.

A bandeira a meia haste por Hitler é, obviamente, uma estupidez. A guerra estava decidida e já não havia qualquer interesse em manter a neutralidade. Portugal, aliás, já tinha feito algo bem mais importante do que isso e com efeitos directos na capacidade militar alemã ao proibir finalmente a venda de volfrâmio à Alemanha uns dias antes do Dia D[6]. E, para finalizar o comentário à ridícula conversa da bandeira, atrever-me-ia a dizer que todos ficaríamos muito felizes se Israel em vez de ter expulsado 750 mil palestinanos civis da Palestina e assassinado muitos milhares em 1948 tivesse limitado a sua ação a colocar a sua bandeira a meia haste pela morte de uma qualquer persona non grata dos palestinianos. Estaríamos hoje todos muito melhor.
Aristides Sousa Mendes

Mas como um disparate nunca vem só, o embaixador Ehud Gol acrescenta ainda que lhe foi pedido por parte da Fundação Aristides Sousa Mendes ajuda pelo facto da antiga casa deste estar a ruir. Acrescenta orgulhosamente que não só não ajudará como para não pedirem ajuda aos Estados Unidos. Fiquei um pouco surpreendido por ver um embaixador israelita a falar em nome do governo dos EUA, mas dado o nível de influência do lóbi judeu no congresso americano[7], talvez esta até seja a atitude mais pragmática. Nas suas palavras "Façam vocês algo para promoverem a imagem dos vossos justos". Os justos entre as nações é um título atribuído por Israel e não por Portugal[8]. Nós temos os nossos próprios prémios carreira para os cidadãos portugueses que se distinguem por algum motivo. E somos nós, através dos nossos governos democraticamente eleitos, que decidimos como, quando e a quem apoiaremos dentro das nossas parcas possibilidades. Não cabe ao embaixador de Israel dizer como é que Portugal deve premiar os heróis de Israel. Mais uma vez, o excelentíssimo Ehud Gol parece ter enormes dificuldades em compreender o seu job description. Ele é embaixador de Israel, e não de Portugal ou dos Estados Unidos da América.
Soldados israelitas e o escudo humano

Continuando a sua jihad retórica, o supracitado considera que Portugal tem obrigação de ser um membro e não um observador na task force internacional para a Educação, Memória e Investigação do Holocausto. Para além de estarmos neste momento precisamente a tentar acabar com o "investimento" do estado em inúmeras fundações e observatórios por falta de dinheiro, o estudo do Holocausto não é a prioridade da nossa educação. Felizmente Portugal não teve qualquer envolvimento nesse crime nem, dada a sua dimensão e frágil posição, poderia ter feito algo mais para o impedir. Temos no entanto imensas "nódoas" (para usar mais uma expressão de Gol) no nosso passado que devemos relembrar e fazer todos os possíveis para que não aconteçam nunca mais. Estou a falar por exemplo da tortura ou do racismo de estado que foram cometidos durante séculos no Império Português. Pesadelos que devemos relembrar para que nem nós nem ninguém os volte a repetir. Uma lição que o embaixador poderia até levar para o seu país que sistematicamente viola os direitos humanos, torturando e assassinando os israelitas árabes e os palestinianos[9][10][11][12][13][14].

Por fim, e em jeito de moral da história, temos a afirmação do embaixador de que "(..) os países têm que assumir responsabilidade pelo seu passado". Curiosamente referia-se a Portugal. O meu conselho seria que pegasse nessa lição e a levasse para Tel Aviv para ver se Netanyahu restitui aos palestinianos tudo aquilo que Israel lhes roubou nestes últimos 70 anos[15]

PS: Só faltou mesmo a conversa do ouro nazi, corolário óbvio de toda esta chantagem psicológica. Suponho que essa conversa ficará para quando Portugal tiver mais dinheiro.


domingo, 28 de outubro de 2012

Red Bull Air Race - O naufrágio de António Costa

Parecia uma excelente ideia. De uma só vez, António Costa conseguiria levar para Lisboa um evento de visibilidade internacional com enormes receitas para o sector de restauração e hotelaria da cidade, retirando-o à cidade do Porto, enquanto simultaneamente dava um humilhante golpe naquele com quem provavelmente estará dentro de poucos anos a lutar pelo cargo mais alto do governo, Rui Rio, presidente da câmara do Porto. Para além disso, teria naturalmente o apoio do governo em funções, liderado pelo seu Partido Socialista enquanto as cidades anfitriãs anteriores (Porto e Gaia) eram ambas lideradas pelo Partido Social Democrata. Como se não bastasse o facto de Lisboa ter um poder político naturalmente superior, para além do apoio governamental, António Costa era ainda presidente da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), entidade que estaria responsável pela organização do evento. Por fim, a prova seria efectuada entre Lisboa e Oeiras, cujo presidente Isaltino Morais se tinha afastado do PSD depois de uma série de escândalos de corrupção[1].
O sucesso era mais do que garantido, depois de a 13 de Setembro de 2009, a prova no Porto ter recebido cerca de 720 mil pessoas para verem Paul Bonhomme[2] ganhar o primeiro prémio, batendo todos os recordes de audiência das edições anteriores[3]


António Costa - Presidente da Câmara de Lisboa
Mas a partir daí tudo correu mal. Os acontecimentos dos meses seguintes demonstram o nível de incompetência de António Costa e da sua equipa, juntamente com um desrespeito total pela "paisagem", como tantas vezes os lisboetas falam do resto do país. A diferença é que normalmente fazem-no de forma trivial e inofensiva. António Costa fê-lo com dinheiros públicos, erros processuais, possiveis ilegalidades e intriga política, como iremos ver em seguida.

A primeira indicação de que algo se passava chega de Menezes, presidente da câmara de Gaia uma semana depois do evento, a 14 de Setembro de 2009, considerando um "completo absurdo" levar a prova para Lisboa[4]. A este primeiro aviso seguem-se uns meses de silêncio onde o processo parece estar totalmente no segredo dos deuses.

É a 27 de Novembro desse mesmo ano, que começam a sair um grande número de notícias relacionadas com os boatos de uma transferência da prova para Lisboa. Nesse dia, Luís Filipe Menezes, edil de Gaia, acusa de "mais uma atitude discriminatória do estado"[5] enquanto Rui Rio, o seu homólogo do Porto, segue a mesma linha de raciocínio acusando o governo de não promover o equilíbrio no país. Acrescenta ainda que tem conhecimento, através de uma fonte oficiosa mas credível, de que a prova irá mesmo para Lisboa[6]. O verdadeiro problema para António Costa, começou precisamente aqui, já que as críticas não vieram apenas dos responsáveis políticos mas rapidamente começaram a chegar de todas as forças vivas da cidade. Para Costa, a humilhação de um potencial adversário seria extramemente interessante, mas a humilhação de centenas de milhares de eleitores, quando obviamente acalenta a esperança de um dia vir a ser Primeiro-Ministro, já não. Para além disso, a sociedade civil lisboeta não pareceu particularmente interessada na história toda. Talvez por não ter gostado de esse evento estar a ser retirado a outra cidade portuguesa ou possivelmente por não ter uma noção exacta da dimensão do evento. A verdade é que são practicamente inexistentes as declarações de apoio da sociedade lisboeta à passagem do Red Bull Air Race para a capital. Nesse mesmo dia personalidades portuenses, como o Bispo do Porto D. Manuel Clemente[7], vieram a público demonstrar a sua discordância, sendo seguidas nas semanas seguintes por muitas outras como Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto[8], Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto[9], entre outros. Na sequência destas notícias, é de notar a reacção incrédula da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, que diz não acreditar minimamente na transferência da prova para Lisboa e assegura que sempre assumiu a intenção de a manter nos moldes vigentes[10].

Rapidamente, uma série de entidades passam a estar debaixo de fogo. Nas semanas seguintes ouvem-se apelos à extinção da Associação de Turismo de Portugal por parte da Associação de Bares do Porto[11], e chovem os pedidos de esclarecimento relativos à intervenção do Governo[12][13][14]. Para além de António Costa, o governo e a Associação de Turismo de Portugal, os portuenses resolvem apontar espingardas ao alvo mais fácil e mais eficaz: os patrocinadores. A 1 de Dezembro de 2009, a Associação de Comerciantes do Porto, pela voz do seu presidente, Nuno Camilo, apela ao boicote de todos os produtos dos patrocinadores do evento (TMN, Galp e EDP), acusando-os ainda de terem os seus administradores nomeados pelo governo em total silêncio relativamente a este assunto[15]. A reacção dos três alegados patrocinadores não se fez esperar. Galp e EDP imediatamente fizeram sair à rua os seus porta-vozes para afirmar que não tinham sido patrocinadores do evento[17], enquanto a TMN foi mais longe não só distanciando-se da decisão como assegurando que independentemente da localização não patrociniariam a prova em 2010 não obstante terem-no feito no passado[18][19].
  

A confirmação oficial chega-nos umas semanas depois, através de notícia da Agência Lusa com fonte na própria Red Bull e na edilidade lisboeta[20]. É o momento em que passamos da questão política de termos uma capital a retirar um evento desportivo bandeira de outra cidade com apoio do governo central (com quem partilha afiliação política), para uma nova fase de atropelos legais e processuais cometidos por António Costa. O centro da trama situa-se agora em Lisboa e nas relações entre Câmara Municipal de Lisboa (CML), Câmara Municipal de Oeiras (CMO), Associação de Turismo de Lisboa (ATL), Instituto do Turismo de Portugal (ITP) e governo.


A primeira parte interessante refere-se ao facto de o acordo ter sido assinado pela ATL e não pelo presidente da câmara, não obstante serem a mesma pessoa. Ao fazê-lo evitou ter que se explicar perante a Assembleia Municipal, coisa que viria a acontecer apenas no mês seguinte, em Janeiro de 2010. No entanto isso significou que a ATL estaria a comprometer-se com um sem número de artigos que simplesmente não eram da sua responsabilidade, que iam desde espaço aéreo, leis de ruído, licenças para eventos desportivos, espaço marítimo/fluvial, utilização de publicidade em espaços públicos, etc, como escreveu detalhadamente Rúben Carvalho numa brilhante declaração de voto deste deputado à Assembleia Municipal lisboeta pelo Partido Comunista Português[21]. Esta proposta 14/2010[22] levada à aprovação da Assembleia por António Costa era de tal forma má que acabou por ser retirada pelo próprio, para procurar esclarecimentos junto da Red Bull. Entre outros assuntos, Costa não foi capaz de explicar o que significava exactamente o Event Venue (Local do Evento) já que isto definiria também a área cujos direitos publicitários seriam exclusivos da Red Bull[23]. Depois de falhada a promessa de uma reunião extraordinária para discutir o assunto, o presidente da câmara de Lisboa acaba por conseguir passar o documento em assembleia municipal depois de obter os devidos esclarecimentos da entidade organizadora da prova. O problema é que o documento assinado diz explicitamente que nada do que for acordado de forma verbal ou escrita que não esteja incluída no próprio documento é inválida, e os esclarecimentos (nomeadamente relativos ao Event Venue) não foram incluídos como anexos no documento assinado o que lhes retira qualquer validade legal.

Outros pontos interessantes são, por exemplo, o facto de estar no protocolo uma referência a 500 mil euros que serão pagos pelo Turismo de Portugal, um entidade estatal. A questão do favorecimento do governo central já tinha sido levantada diversas vezes pelas personalidades portuenses e de forma ainda mais violenta por Luís Filipe Menezes[24]. E sabemos pelo presidente do Instituto do Turismo de Portugal, que nos dois anos anteriores não tinha sido pago qualquer valor ao Porto ou a Gaia[25]. Este comunicado é digno de nota pois, por algum motivo que não é totalmente explicado, o presidente do ITP sentiu necessidade de, em pleno escândalo Red Bull, vir a público dizer que o Norte recebia mais dinheiro do que a região de Lisboa e Vale do Tejo. O problema é que no meio desse texto também dizia que Porto e Gaia não tinham recebido qualquer apoio. A partir daí sabemos que de facto, a ATL e o seu presidente António Costa, tinham algum tipo de garantias de apoios estatais que não existiam quando a prova era realizada no Porto, colocando assim o governo central na posição de patrocinador directo não só da prova, mas também da mudança da sua localização, ao contrário do que o autarca lisboeta dissera[26].


Temendo as reprecursões políticas na sua própria carreira, António Costa declara em Dezembro de 2009 que está "sensível para que a prova se realize alternadamente no Porto"[27]. Esta ideia viria a transformar-se num acordo informal entre as múltiplas partes três meses depois, onde nos asseguraram que "nunca houve guerra Lisboa-Porto"[28]. Embora tenha conseguido retirar alguma da pressão vinda do Norte sobre este assunto, é interessante notar que entretanto tivéramos a própria Red Bull, pela voz de Bern Loidl e na companhia de Isaltino Morais e António Costa, afirmando que a única forma de manter a prova em Portugal seria passando-a para Lisboa uma vez que "Porto e Gaia tinham limitações naturais"[29]. Na altura tive alguma dificuldade em compreender isso já que não tinha conhecimento de que o vale do douro tivesse ganho ou perdido alguma montanha, ponte nova ou arranha céus que pudesse ter qualquer impacto na prova. Para além disso, com um anfiteatro natural que comprovadamente conseguia levar para cima de meio milhão de pessoas (segunda a própria organização) seria difícil explicar o que havia de errado com o lugar. Depois de vermos este acordo para alternar a prova, sem que qualquer problema fosse levantado pela Red Bull, ficámos sem quaisquer dúvidas que o representante da Red Bull em Portugal simplesmente mentiu. Uma vez que é difícil imaginar um estrangeiro minimamente interessado nas pequenas guerras políticas entre Lisboa e Porto ou entre PS e PSD, a única hipótese para explicar isto era mesmo o dinheiro que a marca teria a ganhar com a mudança da prova.


Pelo meio tivemos ainda questões jurídicas, causadas pelo facto de António Costa estar literalmente a assinar o mesmo acordo entre a CML e a ATL pelos dois lados, ao ser presidente de ambas. Esta questão levantada na assembleia municipal levou a uma série de ataques e contra-ataques entre as várias forças políticas lá representadas mas não impediu a assinatura da proposta 14/2010. E é quando estes documentos chegam a público que percebemos o motivo porque a Red Bull estava tão interessada na mudança para Lisboa. Inicialmente, a proposta foi submetida à assembleia com muita da documentação relacionada em falta, como pode ser visto no próprio site da câmara municipal[30]. Mas quer na proposta quer no protocolo assinado pela ATL com a Red Bull, conseguimos confirmar que seria feito um pagamento de 3,5 milhões de euros pela host city (CML, CMO, IPT e ATL) o que não vai necessariamente contra o que fora dito por António Costa, que afirmava que a prova iria custar 250 mil euros à câmara[31]. De acordo com ambos os documentos, 2,5 milhões seriam resultantes de patrocínios. Para este efeito foi feita uma espécie de consulta pública a seis entidades para concessionarem o exclusivo da angariação de clientes[32]. Garantiam ainda que o tal valor do quarto de milhão era o mínimo aceite no concurso. Como correctamente escreveu Rúben de Carvalho, segundo o Jornal de Negócios, existiam várias propostas na mesa para além da da TVI[33]. No entanto, o consórcio vencedor deste concurso cujo processo ninguém teve acesso, não obstante ser directamente relacionado com instituições públicas, tinha oferecido apenas o mínimo dos 2,5 milhões exigido para entrar. Mas sabemos que o presidente da câmara de Lisboa anunciou a 4 de Fevereiro de 2010 que os patrocínios estavam garantidos[34].


Esse total a receber pela Red Bull no valor de 3,5 milhões foi, segundo António Costa, o mesmo valor pago por Porto e Gaia nos anos anteriores[34]. No entanto, segundo o deputado do CDS da Assembleia lisboeta por Lisboa, Carlos Monteiro, "as câmaras do Porto e Gaia pagavam um valor fixo de 800 mil euros - 400 mil cada - por dois anos de realização da corrida no Rio Douro. Lisboa, juntamente com os restantes parceiros, pagará 3,5 milhões"[35]. E acrescenta que as despesas de segurança pública e privada, bombeiros e infraestruturas que antes eram pagas pela Red Bull estavam agora na responsabilidade das câmaras de Lisboa e Oeiras e ATL. Também a isenção de taxas de publicidade era inexistente no contrato do Douro e a publicidade estava agora nas mãos da Red Bull[36], o que antes não acontecia. Por esta altura, já dava para perceber por que motivo a Red Bull estava tão empenhada em mudar a localização da prova.

O final, todos o conhecem. Nem Porto nem Lisboa. Uma espécie de solução salomónica mas onde o bebé acaba de facto cortado ao meio. A etapa em Portugal acaba por ser cancelada no dia 7 de Julho de 2010 devido aos incomportáveis atrasos provocados pela procura de um novo acordo[36][37]. Depois de meses de traições, jogos políticos, atropelos à democracia e abusos da interferência do governo central numa disputa entre autarquias, Portugal perdera um dos maiores eventos desportivos alguma vez feitos no seu território. A própria Red Bull acabou por desistir do Red Bull Air Race que não se voltou a repetir em nenhuma cidade do mundo no que antes chamavam de "a Fórmula 1 dos Céus".


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Grande Depressão

Anos 30 - Fila do pão
Iniciada com o crash bolsista de 29 de outubro de 1929[1]a Grande Depressão[2]trouxe ao mundo uma miséria tão repentina e incompreensível que lançou as finanças, a economia e finalmente a sociedade inteira num ciclo vicioso que destruiu tudo o que encontrou pelo caminho. O mais estranho é que as lições aprendidas daquela que foi a mais violenta e global crise do século XX acabaram por ser esquecidas ou - pior do que isso - mal compreendidas. Quando estava na faculdade (num curso de ciências económicas e empresariais), a Grande Depressão não tinha praticamente qualquer expressão no curriculum do curso. Quando este assunto foi brevemente abordado, numa cadeira de história económica, o que nos foi ensinado foi que isso hoje nunca seria possível pois os conhecimentos de economia eram agora infinitamente superiores. Suponho que desde 2007 que já não ensinam tamanho disparate nas universidades...

Para um leigo, não é claro como um crash bolsista provoca uma crise económica e social de grande escala. Lá porque o mercado subitamente resolve avaliar as ações das empresas cotadas em bolsa 25% abaixo, isso não deveria ter um grande impacto na economia, para lá de uma resistência dos detentores de acções em as venderem a um preço tão baixo. Isso não deveria causar uma diminuição directa da capacidade de produção, da qualidade dos produtos ou da procura. E na realidade, directamente, não causa. O verdadeiro problema é o desaparecimento do mercado de dívida. Muitos dos investimentos financeiros (nomeadamente a compra de acções na década de 1920 ou a compra de casas no início do século XXI) é feita com recurso à dívida. Enquanto esses activos continuarem a aumentar de preço, essa dívida é segura, já que qualquer problema pode ser resolvido vendendo o activo e saldando a dívida. O problema começa quando esses activos subitamente valem menos do as dívidas que lhes estão subjacentes. A partir daí entramos numa situação "abaixo da linha de água", o que significa que o cidadão ou empresa que é responsável pela dívida e pelo activo, está agarrado ao activo porque não o pode vender para limpar a dívida e tem que pagar a dívida quer o activo lhe dê o retorno esperado ou não. O financiador, por outro lado, tambem fica numa situação impossível. Sabe que emprestou dinheiro a alguém que terá dificuldades em o pagar de volta e também não quer a penhora do activo porque este vale menos do que a dívida. Quer do lado do devedor quer do lado do emprestador, a tendência será por isso a de controlar os seus gastos de forma a precaver-se contra as previsíveis dificuldades. Isto significa os emprestadores vão parar de emprestar dinheiro enquanto os valores dos activos estão em queda, vão cortar nos empréstimos a outras instituições financeiras por medo que estas estejam ainda mais expostas a crédito malparado e forçam os seus devedores cumpridores a reduzirem a sua exposição. Tudo isto causa uma pressão enorme sobre todos os bancos, que ficam limitados na sua tesouraria, em todas as empresas, cujos investimentos vão ser adiados ou cancelados, e sobre as famílias, que sem acesso ao crédito e com medo do futuro retraem os seu consumo preparando-se para o pior. Nesta altura, todos os agentes da economia entram num ciclo de austeridade do qual ninguém consegue sair sozinho sob pena de ser o primeiro a cair.

Aí, a crise cai em cima da economia propriamente dita. Menos financiamento, menos investimento, menos consumo causam necessariamente mais desemprego, menos produção e cada vez mais dificuldades em pagar as dívidas. Como na história bíblica d'O Sonho do Faraó[3], a única verdadeira solução perfeita para os anos de vacas magras teria passado por poupar durante os anos de vacas gordas. Mas isso, obviamente, já não era possível. Como não é possível hoje.

Nos anos 30, a solução passou pelo New Deal[4] proposto por Franklin D. Roosevelt[5]. Incentivos do estado em grande escala, construção de grandes obras públicas, definição arbitrária da paridade entre o ouro e a moeda americana conseguiram colocar a máquina da economia americana a carburar novamente. O New Deal não foi no entanto uma solução rápida nem limpa. Custou muitíssimo ao estado americano e quando algum desse "falso" investimento foi retirado a economia caiu novamente em recessão, já nos anos 1936 e 1937. O que acabou definitivamente com a Grande Depressão foi mesmo a segunda guerra mundial[6]. Ao tornar-se no "Arsenal da Democracia"[7], os Estados Unidos da América beneficiaram de emprego total, escoamento de toda a produção e exportações massivas que limparam quase em absoluto as reservas de ouro e moeda forte dos aliados, em especial o Reino Unido como Churchill se queixou amargamente (só em 2006 as dívidas de guerra britânicas aos EUA foram finalmente finalizadas[8]). Mesmo no final da segunda guerra, o espectro de uma nova recessão ainda se encontrava no ar, não se tendo concretizado devido ao que ficou conhecido como o Plano Marshall, que por um lado financiou a reconstrução de vitoriosos e derrotados como também garantiu acordos comerciais extremamente vantajosos para os EUA.

Infelizmente, muitas das soluções aplicadas nessa época não são adequadas nos dias de hoje ou (como é o caso de uma guerra mundial) longe de serem algo que queiramos rever. Ao contrário dos anos 30, o mundo hoje tem fronteiras muito mais ténues e existe uma mobilidade populacional, financeira e económica incomparavelmente superior. Um programa massivo de investimento sustentado por um estado pode ajudar a resolver a falta de liquidez da economia temporariamente, mas a quantidade de dinheiro que se iria escapar do país via importações, remessas de imigrantes e fuga de capitais para offshores seria inevitável e em larga escala. Isto será ainda mais verdadeiro no caso dos países da União Europeia onde as barreiras são totalmente inexistentes. E não é preciso ir muito longe para encontrar exemplos disto: Portugal conseguiu entre 2000 e 2011 passar de uma dívida pública de 66 mil milhões de euros para 174 mil milhões. Um aumento de 163% no valor da dívida do estado[9], enquanto o PIB sobe de 127 mil milhões de euros para 171 mil milhões[10]. Um aumento do PIB a valores correntes de apenas 35%. Isto dá-nos uma ideia de como o new deal português falhou completamente nos seus efeitos. Quando as dívidas ultrapassaram o nível que os credores consideraram aceitável a queda era inevitável e este doping financeiro na economia deixou de conseguir sustentar uma economia que estaria provavelmente condenada à recessão.

As bases da teoria económica de John Meynard Keynes[11], tão em voga nos anos 30 e que deram as bases para o New Deal de Roosevelt têm o seu calcanhar de Aquiles no longo prazo. Na realidade o próprio previu isso embora não tenha mostrado grande preocupação com essas consequências. Quando lhe perguntaram o que aconteceria no longo prazo, a sua resposta foi "in the long run, we are all dead". Ele estava certo. Quase todas essas pessoas dos anos 30 estão hoje no céu (ou na sua concorrência). Mas nós estamos cá, e ficamos para pagar as contas todas. A economia está longe de ser uma ciência. A economia é ainda um mundo incompreensível cujas variáveis estão muito longe ser entendidas. Precisamos de novas ideias neste campo. Urgentemente.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Churchill 1940-1945 Os Melhores Anos

Max Hastings, autor deste livro publicado pela Civilização, assim como de outros que já aqui trouxe anteriormente (Operação Overlord) merece sem qualquer dúvida o título de um dos melhores historiadores contemporâneos. Não é fácil escrever um livro sobre Churchill quando 70 anos passaram e já tanto foi escrito. Para além disso, Winston Churchill será provavelmente uma das personagens com mais escritos livro sobre si em toda a história. 

Primeiro-Ministro inglês durante a segunda guerra mundial e líder do mundo livre durante um período em que a noite nazi caía sobre toda a europa central, Churchill aparece-nos aqui como uma personagem ainda mais complexa, desequilibrada e genial do que é habitual. Tive oportunidade de ler as memórias de Sir Winston, um livro magnífico que lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura em 1953 [1], e a impressão com que fiquei dele era a de um homem brilhante, carregado de certezas e de alguma forma amargurado por ter perdido as eleições já mesmo no final da guerra na europa. Não pude deixar de notar também um certo tom apologético em relação a algumas das suas decisões, que foram escrutinadas ao detalhe durante e a seguir à guerra. Desde o desastre de Dunquerque, a perda da frota inglesa no índico, os erros na Grécia até à frustração da perda da Polónia para o bloco comunista (país cuja liberdade foi afinal de contas o motivo porque o Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha), todos esses eventos foram explicados por Churchill numa tentativa de limpar a sua imagem das muitas falhas cometidas pela sua liderança.

Sir Max Hastings no entanto não tem as limitações que Churchill tem a escrever sobre o assunto. Não necessita de dedicar demasiado tempo a explicar o porquê dos erros e tem o distanciamento temporal necessário para não ter que manter nada escondido (Churchill não pode revelar assuntos que eram ainda segredos de estado, tais como a descodificação do ULTRA, os códigos secretos das famosas máquinas Enigma da Alemanha). Para além de ser um historiador extremamente competente, é ainda um escritor de grande nível e um conhecedor profundo da realidade da segunda guerra mundial.

Churchill era um homem completamente fora do seu tempo. E ainda mais seria do nosso. Imperialista convicto, imaginava o lugar do Reino Unido no mundo e o seu na história. A famosa frase de Shakespeare "All the world's a stage" aplica-se melhor a este líder do que provavelmente qualquer outra pessoa antes ou depois dele. Acreditava na vitória em 1940, quando em todo o mundo a derrocada da Inglaterra era dada como garantida, desafiou Hitler a partir da sua pequena ilha e motivou os britânicos para uma vitória impossível, armou o país para lá de todas as suas capacidades humanas e financeiras e envolveu-se em todos os pormenores da guerra de forma obcecada. Cansava-se do jogo político rapidamente, não obstante ser um dos mais brilhantes oradores de que há memória e procurava pessoalmente a frente de batalha contra todas os avisos dos seus conselheiros. Foi o primeiro líder político a voar para a Normandia, dias depois do desembarque. Correu o mundo em conferências com os outros líderes, a animar as tropas e a tentar desbloquear situações militares e logísticas. Procurou batalhas mesmo quando sabia que não havia hipóteses reais de as ganhar, preocupado com o veredicto que a história lhe faria. 

E, em paralelo, acordava todas as manhãs com ideias novas e mirabolantes das quais grande parte foi vetada pelo seu gabinete ou pelos chefes de estado maior garantindo ao mundo livre uma esperança mesmo quando toda a lógica apontava em contrário. Se houve uma faceta  que me ficou marcada pela leitura deste livro, foi a de que Churchill simplesmente não permitia que a lógica lhe causasse quaisquer dúvidas na certeza da vitória. Em qualquer outra situação da vida, isto seria um erro tremendo. Possivelmente, temos ainda hoje que lhe agradecer o facto de na europa não vivermos debaixo de uma tirania nazi. Não fosse a sua voz e os seus actos e o mundo seria hoje muito diferente. E provavelmente para pior.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Passos e os aeródromos fantasmas

Miguel Relvas e Pedro Passos Coelho
A SIC Notícias anunciava esta madrugada que a empresa Tecnoforma, da qual o actual Primeiro-Ministro foi consultor e administrador terá recebido mais de um milhão de euros da Comissão de Coordenação da Região Centro num concurso de formação relacionado com aeródromos inexistentes. Tenho a certeza que os próximos dias dar-nos-ão mais informações sobre este tema, mas para já podemos ver o nome de Miguel Relvas a surgir novamente.

O país assistiu incrédulo à forma como Relvas sobreviveu a uma campanha avassaladora feita sobre ele pela comunicação social. E com bons motivos para isso. O Ministro Adjunto esteve envolvido em diversos escândalos anteriores à sua nomeação, incluindo o da falsificação de residência para obtenção de subsídios e do caso das viagens fantasma[1]. Já enquanto ministro o seu nome volta a aparecer relacionado com outros casos como o das ameaças à jornalista de "O Público"[2] ou da licenciatura tirada na Universidade Lusófona onde conseguiu a incrível proeza de finalizar um curso de 3 anos em apenas um[3].

Conheço algumas pessoas que defendem que toda esta campanha é o resultado de dois dossiers complicados pelos quais Relvas está responsável: o do mapa autárquico, cujas decisões têm impacto em dezenas de milhares de políticos locais, e a privatização da RTP, decisão que terá impacto em todo o mercado dos media. Talvez seja essa a principal motivação. Mas não será certamente aí que encontrarão a lenha com que o estão a queimar. A lenha foi dada pelo próprio e é o efeito directo da sua actuação como político ao longo das últimas décadas. E a cada dia que passa vamos sabendo mais sobre essa carreira de enorme sucesso iniciada ainda na década de 80, tendo sido deputado desde 1985, com apenas 24 anos.

Mas a lealdade de Passos Coelho a Miguel Relvas ultrapassa toda a normalidade. Destituído de qualquer apoio do eleitorado, constantemente associado a escândalos, o Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares mantêm-se firme no seu posto. E o Primeiro-Ministro queima-se mais a cada dia que passa, porque já não estamos perante um erro de casting mas sim de uma opção consciente. E a verdadeira questão passa a ser... porquê? Porque motivo não isola o problema demitindo-o?

Talvez visse enormes qualidades em Relvas que se sobreponham a essa passado mais obscuro. Mas essa seria uma lógica pouco sólida quando os defeitos são públicos e na esfera moral.

Ou possivelmente Passos Coelho olharia para ele como carne para canhão. Deixava-o tratar desses dois dossiers complicados e depois punha-o fora, já com o problema da RTP resolvido e o mapa autárquico desenhado e aprovado. Talvez não fosse uma ideia descabida, mas dificilmente conseguiria aguentar tantos meses de um autêntico pelotão de fusilamente mediático.

Ou, por fim, talvez Passos Coelho estivesse entalado e simplesmente não tivesse poder para o demitir. Poder formal teria certamente, já que a legitimidade democrática está no Primeiro-Ministro e não nos nomeados como é óbvio. Mas por vezes, e em especial com figuras públicas, quando se está perante alguém que sabe mais do que deveria saber talvez não seja possível confrontar directamente. Foi uma hipótese que muitas pessoas começaram a colocar discretamente quando perceberam que Relvas não ia mesmo cair. Mas mantida fora dos grandes canais de televisão e jornais já que se estaria a lançar suspeitos sobre alguém baseando-se exclusivamente em indícios contextuais.

Esta terceira hipótese ganha agora forma, à medida que as investigações jornalísticas sobre a empresa Tecnoforma e o seu antigo administrador Passos Coelho aparecem junto do nome de Miguel Relvas (então Secretário de Estado da Administração Local) e de concursos públicos pouco claros.

Só em 2003, no programa Foral (da responsabilidade de Relvas enquanto Secretário de Estado), 82% do valor das candidaturas aprovadas na Região Centro foi parar a esta empresa administrada pelo actual Primeiro-Ministro[4].

Agora esperemos que a investigação não acabe aqui, como aconteceu a tantas outras relacionadas com políticas e altas figuras da nação...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Primeiro Ministro demitiu-se

Pedro Passos Coelho
Aconselhado por um dos nossos leitores, aqui fica o momento deplorável em que a televisão pública nacional resolve ensinar o povo português a escrever a palavra "Primeiro-Ministro". A frase que escolheu no (usualmente muito interessante) programa "Bom Português" foi:

O Primeiro-Ministro demitiu-se 

ou 

O Primeiro Ministro demitiu-se

Este exemplo mostra um posicionamento político claro, de extremo mau gosto e - em termos gramaticais - perfeitamente desnecessário. Fez-me lembrar os exercícios de matemática do Ministério da Educação da Alemanha Nazi[1] onde se faziam perguntas como: 

A construção de um asilo para doentes mentais custa 6 milhões de Reichsmarks. Quantas casas poderiam ter sido construidas pelo valor de 15 mil Reichmarks cada, com esse mesmo dinheiro?

Não obstante a diferença de grau, a lógica é a mesma. Procurar usar o ensino para passar mensagens subliminares. Agora só falta o nosso Goebbels mostrar a cara.