Miguel Relvas e Pedro Passos Coelho |
O país assistiu incrédulo à forma como Relvas sobreviveu a uma campanha avassaladora feita sobre ele pela comunicação social. E com bons motivos para isso. O Ministro Adjunto esteve envolvido em diversos escândalos anteriores à sua nomeação, incluindo o da falsificação de residência para obtenção de subsídios e do caso das viagens fantasma[1]. Já enquanto ministro o seu nome volta a aparecer relacionado com outros casos como o das ameaças à jornalista de "O Público"[2] ou da licenciatura tirada na Universidade Lusófona onde conseguiu a incrível proeza de finalizar um curso de 3 anos em apenas um[3].
Conheço algumas pessoas que defendem que toda esta campanha é o resultado de dois dossiers complicados pelos quais Relvas está responsável: o do mapa autárquico, cujas decisões têm impacto em dezenas de milhares de políticos locais, e a privatização da RTP, decisão que terá impacto em todo o mercado dos media. Talvez seja essa a principal motivação. Mas não será certamente aí que encontrarão a lenha com que o estão a queimar. A lenha foi dada pelo próprio e é o efeito directo da sua actuação como político ao longo das últimas décadas. E a cada dia que passa vamos sabendo mais sobre essa carreira de enorme sucesso iniciada ainda na década de 80, tendo sido deputado desde 1985, com apenas 24 anos.
Mas a lealdade de Passos Coelho a Miguel Relvas ultrapassa toda a normalidade. Destituído de qualquer apoio do eleitorado, constantemente associado a escândalos, o Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares mantêm-se firme no seu posto. E o Primeiro-Ministro queima-se mais a cada dia que passa, porque já não estamos perante um erro de casting mas sim de uma opção consciente. E a verdadeira questão passa a ser... porquê? Porque motivo não isola o problema demitindo-o?
Talvez visse enormes qualidades em Relvas que se sobreponham a essa passado mais obscuro. Mas essa seria uma lógica pouco sólida quando os defeitos são públicos e na esfera moral.
Ou possivelmente Passos Coelho olharia para ele como carne para canhão. Deixava-o tratar desses dois dossiers complicados e depois punha-o fora, já com o problema da RTP resolvido e o mapa autárquico desenhado e aprovado. Talvez não fosse uma ideia descabida, mas dificilmente conseguiria aguentar tantos meses de um autêntico pelotão de fusilamente mediático.
Ou, por fim, talvez Passos Coelho estivesse entalado e simplesmente não tivesse poder para o demitir. Poder formal teria certamente, já que a legitimidade democrática está no Primeiro-Ministro e não nos nomeados como é óbvio. Mas por vezes, e em especial com figuras públicas, quando se está perante alguém que sabe mais do que deveria saber talvez não seja possível confrontar directamente. Foi uma hipótese que muitas pessoas começaram a colocar discretamente quando perceberam que Relvas não ia mesmo cair. Mas mantida fora dos grandes canais de televisão e jornais já que se estaria a lançar suspeitos sobre alguém baseando-se exclusivamente em indícios contextuais.
Esta terceira hipótese ganha agora forma, à medida que as investigações jornalísticas sobre a empresa Tecnoforma e o seu antigo administrador Passos Coelho aparecem junto do nome de Miguel Relvas (então Secretário de Estado da Administração Local) e de concursos públicos pouco claros.
Só em 2003, no programa Foral (da responsabilidade de Relvas enquanto Secretário de Estado), 82% do valor das candidaturas aprovadas na Região Centro foi parar a esta empresa administrada pelo actual Primeiro-Ministro[4].
Agora esperemos que a investigação não acabe aqui, como aconteceu a tantas outras relacionadas com políticas e altas figuras da nação...
Caro António
ResponderEliminarMais um episódio lamentável da dupla Passos Coelho/Relvas...
Apenas uma correcção: de acordo com o Público de hoje:
"A execução do projecto da Tecnoforma, cujas contas finais foram assinadas por Pedro Passos Coelho em Março de 2007 (já com o PS no Governo), acabou por não ver aprovada a última das várias prorrogações solicitadas e revelou-se um fracasso. Dos 1063 formandos, a empresa acabou por formar apenas 425 (embora a esmagadora maioria deles tenha participado apenas em sessões de apresentação dos cursos) e em vez dos 1,2 milhões de euros recebeu cerca de 311 mil euros. Nenhum dos cursos que foram ministrados foi concluído e os 36 funcionários que municipais que os frequentaram nunca foram certificados pelo INAC".
A verba recebida é menor, mas a substância é igual!
Cumprimentos Susana C.
Olá Susana
EliminarA fonte da minha informação foi a SIC notícias, que entretanto disponibilizou a peça online. Aqui fica o link.
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2012/10/11/suspeitas-de-favorecimento-a-empresa-de-formacao-onde-passos-coelho-foi-consultor
De qualquer forma concordo, o grande problema aqui é, mais do que o valor, a total inexistência de principais morais nestes negócios.
Os melhores cumprimentos,
António