quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poker grego - All In!

Não sou especialista em Poker, mas já passei bem mais do que umas horinhas em frente ao computador e perdi dinheiro suficiente para ter conseguido aprender umas lições. Não muitas e não as suficientes para o tornar num jogo lucrativo mas as necessárias para compreender a lógica geral do jogo.

Em torneio existem alguns movimentos clássicos dos jogadores que dependem - entre outros factores - da quantidade de dinheiro (fichas) que têm, e à medida que o jogo avança a psicologia de bullying dos ricos e o desespero dos que estão prestes a morrer torna-se asfixiante para os que se encontram no que deveria ser uma situação minimamente confortável, ou seja, a meio da tabela.

Usando da sua vantagem, o chip leader começa a fazer raises para forçar todos os outros a saltar fora ou filtrando o número de jogadores de cada mão, mesmo quando o seu jogo é apenas marginalmente bom. Os intermédios evitam ao máximo o confronto directo com os chip leaders e com aqueles que têm sensivelmente o mesmo dinheiro por saberem que um passo em falso pode levá-los à ruína. Por fim, os que estão no limiar da derrota são forçados a esperar por cartas boas para entrarem num tudo ou nada, o chamado All In. Como não têm muito dinheiro, as probabilidades de alguém ter um grande jogo ou de um dos ricos simplesmente aceitar o risco (porque o valor é demasiado baixo para lhe fazer mossa), ainda são altas por isso um bluff puro dificilmente funcionará. Ou seja, provavelmente terá mesmo que mostrar as cartas e convém que sejam boas.

Em qualquer caso, o desespero dos pobres é de facto uma arma. E uma lembrança aos seus opositores de que podem acabar no mesmo lugar. Se quiserem, é uma lógica semelhante a um bombista suicida, que se coloca numa posição de "queres-me matar? pois eu mato-nos aos dois se for preciso". [1]

Por vezes a política parece um gigantesco jogo de poker, só que em vez de ser só a dinheiro inclui também as esperanças e o futuro de povos inteiros. Na europa, o chip leader é claramente a Alemanha de Angela Merkel que vai forçando todos os jogadores a seguirem a sua liderança. O lanterna vermelha será sem dúvida a Grécia, embora outros - incluindo Portugal - não estejam muito longe.

Daniel Oliveira, comentador habitual do Expresso, escrevia esta semana sobre o bluff alemão defendendo que "(...) está na altura de pensarmos como um alemão e dizermos à senhora Merkel: ou faz parte da solução ou prepare-se para umas décadas de penúria. Quer mesmo arriscar o fim do euro? Não? Então ponha-se fina. O problema é que temos todos sido os anjinhos no meio de um jogo de poker. Está na altura de desfazer o bluff alemão."[2]

Na realidade discordo que a Alemanha esteja a fazer bluff, considero que apenas está a jogar de forma perfeitamente natural do alto da sua posição de chip leader. Mas o que acho realmente interessante nesta mesa de poker é a (a meu ver previsível) posição da Grécia que mais tarde ou mais cedo fará All In. E a ameaça será a da destruição da Europa.

7 comentários:

  1. Excelente comparação. Veremos quando sai esse all in grego, já que estão a sangrar nas blinds.

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  2. Boa Tarde

    Fiquei um tempo sem vir ao seu blogue pois eu acabei por perder o nome (link), hoje foi ao expresso e encontrei outra vez.

    É uma exelente comparação, sem duvida. Mas antes de mais discordo da sua opinião, a Alemnaha cada vez mais está obrigando os paises ditos periféricos a perder sua sobrania económica, fazendo ou impedindo que haja eurobondes, o que é isso das eurobondes?
    Passo a explicar para quem não percebe, as eurobondes, são títulos que representam todos os países da zona euro, cujo juro associado seria uma média ponderada de cada país. Desta forma, somar-se-ia o nível de dívida e os défices conjuntos, ou seja, todos responderiam por todos, A UMA SÓ VOZ. Desta forma paises como a Grécia e Potugal veriam os juros das suas dividas decerem substancialmente, os custos de financiamento para os países mais frágeis caía e o euro fortalecia-se, podendo tornar-se numa verdadeira alternativa ao dólar. Mas tudo isto têm um revés pouco simpáticas para alguns estados, é que a criação dos eurobonds obriga à criação de uma Agência de Dívida Europeia e a uma política fiscal comum.

    Quem propos eurobons foi outro jogador de ''classe media'' de poker, estou a falar da Viviana Reding (vice-presidente da Comissão Europeia), o problema é que paises com as economias mais ricas (França e Alemanha) iria para pagar uma boa parte, mas o grande problema disto tudo é que está meia Europa aflita e já é tarde para tomar essa decisão, e porque é tarde? Um emissão massiva de eurobonds (só assim poderia ser salvo o Euro) a aconselhava ainda a ter um governo europeu, algo que actualmente é IMPOSSIVEL.

    Ou seja o jogo de poker continua a favorecer os jogadores mais ricos, mas há uma solução, que é os paises perifericos fazerem um ultimato à Alemanha e França. Como seria esse ultimato? A União Europeia veio trazer a afirmação de Alemanha e França como potêcias económicas mundias, isso porque começaram a exercer forte influência dentro dos restantes paises da U.E as exportações aumentaram sem impostos a mais pois os outros paises eram parte da mesma ''familia'', e grande parte da fatia ia sempre para a Alemanha e França, agora se a Grécia Portugal, (não falo da Espanha), estes paises seriam uma autentica bomba relogio na ecónomia destas potencias, Portugal aguentaria se, não pagaria a divida, tem uma das maiores reservas de ouro do mundo e decerteza que teria uma grande ajuda por parte do Brasil, mais as exportações são quase todas para paises da BRIC, a Europa cada vez mais está a deixar de ser um mercado que nos traga beneficio, ou seja perder Portugal é perder o Euro é perder o Dollar é perder pulso a ecónomia, os alemães sabem muito bem disso.

    Por isso se a austeridade começar a apertar cada vez mais e as pressões vindas do Banco Central Europeu do FMI e da Alemanha, acredita que o Exercito Portugues não ficará de braços cruzados a ver seu país perder a sua sobrania, não sei se tens alguém ligado ao exercito, mas se tiveres pergunta a eles como pensam e qual a sua opinião. Ainda aqui à tempos a Alemanha queria que Portugal desse o seu ouro em penhora, caso não conseguisse pagar a divida (não sei se viu a noticia no expresso), logico que Alemanha deixou de pensar naquele material brilhante, dourado e valioso, pois alguém lhe disse que tocar com o ouro seria o mesmo que tocar com o execito.

    O euro caminha a passos largos para o precepicio, tal como caminha a Alemanha e França ambos sabem disso, eu muito sinceramente quero que o euro acabe, isto signnificaria Portugal independente e sem ser marioneta de quem quer que fosse pois todos de uma certa forma teriam de comer na nossa mão, Portugal é a porta de saida e a porta de entrada da Europa, mais não digo.

    Cumprimentos e parabens pelo blogue.

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    1. Caro Anónimo

      É bom tê-lo de volta.

      Em relação à posição da Alemanha, eu sou relativamente compreensivo com o que eles estão a fazer. Eu também não gostava de ficar responsável pelas dívidas do vizinho do prédio, em especial se não tivesse garantias de que ele iria ser responsável com a forma de ganhar e gastar dinheiro. Se por um lado os Eurobonds iriam reduzir os nossos juros, por outro eles deveriam aumentar os juros dos países realmente cumpridores.

      Em relação à soberania, o nosso presidente da repúblico disse algo o ano passado durante uma entrevista que achei deveras interessante. Perguntavam-lhe se lhe parecia bem que a Grécia perdesse uma parte da sua soberania a troco da nova ajuda europeia (era a conversa da moda naquele mês e não durou muito tempo). Cavaco Silva disse que isso era um disparate e não tinha razão absolutamente nenhuma de ser, mas acrescentou aquela que para mim foi a parte relevante da entrevista: "estamos dispostos a ceder soberania, mas são todos os estados europeus e por igual". O que por palavras meigas significa, uma maior integração europeia ou até uns Estados Unidos da Europa. Não sei o que vai na cabeça de Merkel, mas acredito que ela estaria disposta a ir avançando para uma união total. Não aceitará é ser responsável pelas dívidas dos outros enquanto não existirem instituições políticas que consigam gerir as receitas e os gastos da europa.

      Sobre a alternativa de Grécia, Portugal e outros encostarem os grandes a um canto, parece-me que segue a lógica do "All In" embora este não seja feito por um país mas por um grupo de países. Arriscamos muito mas forçaríamos os "ricos" a tomarem decisões muito dificeis para eles próprios. Talvez funcione. É arriscadíssimo, mas talvez funcione.

      Sobre a posição das forças armadas, acredito que uma integração europeia não lhes iria causar problemas desde que isso seja feito de forma democrática e justa. Qualquer ataque directo (mesmo que exclusivamente económico/financeiro) é que poderia causar algum desconforto. Mas não tenho grandes conhecimentos dentro das FA por isso não sei exactamente o que lhes passa na cabeça.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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    2. Boa Tarde

      Sou eu de novo, as Forças Armadas são um ''orgão'' quase totalmente independente, menos do ponto de vista económico (refiro me ao financiamento de tropas e repectivo armamenro) José Socrates quando ofereceu homens para mandar para o Afagnistão teve que falar com os respectivos lideres para o ''ok'', no seio dos Lideres das F.A mantêm se a idiologia pró Salazar (refiro me a idologia ''Todo pela nação, nada contra a nação''), e essa mesma idiologia é passada aos tropas, não as tropas normais, mas sim as tropas desiganadas de elite (Comandos, Rangers, D.A.E, C.T.O.E), eu falo isso porque tenho 2 familiares nesssas forças (1 nos comandos e outro nos Rangers de Lamego), e um que esteve na tropa normal disse me que a idiologia e repassada de forma diversa quando dentro da unidade especial de comandos, isso quer dizer que a pesar de poucos são bons e tudo continua de da forma exata como na era Salazarista (O patriotismo e amor total pela sua ''mãe'').

      Ou seja eu quando me refiro a uma intervenção militar, refiro me a uma intervenção ''cirugica'', é como um médio fazer uma cirugia e remover o tumor de uma forma eficaz, assim faria o exercito, entraria em acção mas sem aquele alarido do 25 de Abril, sem tanques de guerra nas ruas e cheia de militares, de forma a não provocar povo e de evitar logo de seguida um guerra civil, após o derrube do actual governo, pois seria um risco enorme.

      Esta seria a forma mais correcta de colocar o povo do nosso lado e sem aquela pressão dos midia, mas atenção só se a nossa sobrania do nosso país estiver posta em causa, eu como cidadão Portugues jamais repito jamais deixaria tal coisa acontecer e ficar de braços cruzados, portugues de P que se prese pensaria da mesma forma, perder sobrania é o mesmo que perder a minha pátria e perder minha identidade.

      Sair do Euro é agora e o povo juntamente com as F.A bater o pé e não pagar a divida. Eu estive a ver as exportações portuguesas e a Europa cada vez mais está a deixar de ser um bom mercado, a Rússia Brasil e China fizeram que as nossas exportações subissem em flecha evitando que o defice aumenta se.

      Este assunto e muito mais dicifil e sensivel do que parece, fazer tal coisa significava preparar durante pelo menos 2 anos tudo ao pormenor e ter certezas que haveria algum ''Urso'' económico disposto a ajudar nos, Brasil seria um deles tenho quase a certeza, e Rússia talvez é claro que isto teria de envolver interesses de ambos os lados de maneira a que nenhum ficasse com mais ou menos beneficio, e claro ter um lider que desse credebliade a ambos os lados e claro ao povo.

      Quanto aos Estados Unidos da Europa essa ideia é de loucos, a U.E foi feita para ajudar nos mutuamente, mas se assim não é mais vale acabar com a U.E, pois a Alemanha e França não ajudam, quer dizer eles ajudam a destuir a nossa sociadade e economia cada vez mais dia após dia, já não basta o nosso gorverno quanto mais esses bandidos do Banco Central Europeu.

      Obrigado pela sua atenção.

      PS: Peço desculpa pelo texto mal articulado e um pouco confuso, mas hoje estou com uma enxaqueca e não sei se terei tempo para vir cá durante a semana.

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    3. Boa Tarde

      Em relação aos militares, acredito em tudo o que me diz. Afinal de contas, é normal que as forças armadas tenham que manter a mentalidade de Pátria bem alto ou não conseguiriam fazer aquilo que lhe é exigido - em especial o facto de estarem vocacionadas para tirarem vidas humanas o que é contra-natura.

      Eu sou um defensor de uns Estados Unidos da Europa, mas compreendo quando diz que se a Europa não nos beneficia em nada que mais vale saltar fora. O que nos distingue é que acredito que as vantagens ultrapassam os inconvenientes e que o aprofundamento da actual UE para um sistema político completo beneficiar-nos-ia ainda mais. Claro que é arriscado e ninguém sabe o que o futuro nos reservará, mas o mesmo pode ser dito de uma saída da UE e do Euro.

      Mas com o mundo a entrar num sistema de 5 superpotências (EUA, Rússia, China, Índia e Brasil - não necessariamente por esta ordem...) acho que a Europa só poderá fazer frente a isto se estiver unida. Para além disso, acredito que nenhum lugar na terra defende tanto os direitos dos cidadãos como a Europa, e seria uma pena para todo o mundo se forem valores mais individualistas (como nos EUA e Índia) ou colectivistas (como na China) a vencerem esta guerra de influência cultural. O Brasil é um caso especial pois acredito que segue um estilo Europeu embora esteja longe dos mesmos resultados devido à criminalidade, má distribuição de riqueza e corrupção endémicas de que sofre. Esperemos que consiga ultrapassar estas dificuldades e se torne um exemplo para o mundo.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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  3. Boa noite gostava de subscrever este blog , gostei muito da comparação que redigiu ;) .
    Não sei porquê a função de subscrição não esta a funcionar , se pudesse resolver agradecia . Obrigado . Cumprimentos .

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    1. Caro Castro

      Muito obrigado pelas suas palavras. Não estava ciente de algum problema na função de de subscrição. Vou procurar contactar o suporte do blogspot.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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