quarta-feira, 20 de junho de 2012

Governo a prazo

Antonis Samaras
Depois de uma segunda rodada de eleições, a Grécia encontra agora uma solução governativa de coligação que inclui a Nova Democracia (conservadores de direita), o Pasok (partido socialista) e o Dimar (esquerda democrática). Infelizmente para todos nós, as esperanças de que este governo liderado por Antonis Samaras consiga cumprir a totalidade do seu mandato são muito baixas.

A paz social há muito que foi perdida, o sector do turismo muito afectado, o investimento estrangeiro caiu para zero e o dinheiro está em fuga generalizada do país. Este último factor é particularmente grave com dezenas de milhões de euros a desaparecerem do país. Não são apenas os milionários e as grandes empresas, mas também a classe média e as PMEs que procuram proteger o que ainda têm com medo que a moeda única seja substituida pelo dracma, o que quase inevitavelmente significaria uma desvalorização imediata da nova moeda grega.

Talvez nem tudo estivesse perdido na Grécia, se não fosse o caso de toda a gente dar a situação como perdida. Um caso típico de self fulfilling prophecy. Agora é esperar para ver, mas não vejo que a Grécia consiga aguentar-se de pé se não existir um investimento massivo da europa no país. Não apenas um resgate, mas transferências em larga escala que consigam colocar o país na rota do crescimento. O problema é que os credores já deixaram de acreditar há muito tempo de que este país será capaz de se reformular e têm - justificadamente - motivos para pensar que o dinheiro que entregarem não só se evaporará como também que os vícios que levaram a Grécia a este estado vão continuar vivos e de boa saúde se o fizerem.

O facto de o Syriza não ter aceite - como previsto - integrar o governo mostra que a maioria da população e os seus representantes estão contra o plano da Troika. E vai estar à espreita para mandar este governo abaixo à primeira oportunidade.

Entretanto, Portugal dá alguns sinais de mudança. Ténues e tímidos, é verdade, mas significativamente diferente de tudo o que se viu na Grécia nestes últimos anos. Exportações em alta, importações em baixa, consumo a ser substituído por poupança e - para já - não existe fuga de capitais do país nem desinvestimento estrangeiro generalizado. O IDE (investimento directo estrangeiro) parece estar a subir no que toca ao sector primário e secundário, enquanto o comércio e construção civil sofrem mais directamente os efeitos da crise. Nada está salvo, mas também nada está perdido para Portugal. Veremos se não é a própria Grécia a fazer-nos cair novamente.

Uma réstia de esperança está precisamente no lado irracional de tudo isto: se a Europa resolver agir e causar um impacto psicológico real sobre investidores e consumidores, quem sabe se não conseguimos ver a Grécia a saltar directamente de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso.

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