sábado, 29 de junho de 2013

Defiance

Filme


Vejo filmes de guerra com um espírito bastante crítico. Sou um amante de História, em especial da do século XX e das suas inimagináveis guerras. Compreendo no entanto que alguns dos livros que me deram enorme prazer seriam para outros tão insuportáveis como para mim seria a "Anatomia" de Gray. Não haverá para mim nada tão aborrecido como as ciências da vida (desculpa mano, sei que isto para ti é uma facada na alma). Por esse motivo, os filmes de acção, drama e romance passados na segunda guerra mundial são a principal fonte de informação desse pedaço de história para a maioria das pessoas. Hollywood (e Bollywood, Toronto, Londres, etc.) define por isso a percepção histórica do que foi o nosso passado. Torna-se então perigoso quando pequenas alterações românticas colocam em causa a realidade do que foi esta ou aquela personagem ou que aconteceu num determinado evento. Compreendo perfeitamente que os filmes exigem acção, amor e espectáculo e que não se podem prender a todos os detalhes da vida real, por isso existe um equilíbrio que deve ser sempre bastante cuidadoso.

"Defiance"[1] leva-nos às florestas da Polónia/Bielorússia durante a ocupação nazi, numa história verídica onde um grupo de improvisados guerrilheiros comunistas judeus protegeram um grande número de civis (maioritariamente mas não só judeus). Criaram casas, hospitais e escolas, armaram-se, treinaram-se e lutaram quando necessário em apoio de outros grupos militares e paramilitares da resistência. Em algumas acções procuraram a libertação de judeus das vilas e cidades que os rodeavam.

Por vezes faz-nos lembrar o clássico "Robin Hood - Príncipe dos Ladrões"[2] quer no ritmo da acção, nos motivos da história e até na forma como todo a história se vai desenrolando. Mas claro, isto é uma história baseada em factos reais, o que faz uma grande diferença.


Tuvia Bielsi, líder dos Bielski partisans
Tuvia Bielski e Zus Bielski existiram mesmo[3]. Foram, e serão para sempre, heróis judeus. No entanto o filme omite uma parte do seu lado mais negro. Segundo o IMDB, a história é passada na Bielorússia. Na realidade é passada na Polónia ocupada. Primeiro ocupada pela União Soviética, desde 1939 e de acordo com o obscuro pacto Molotov-Ribbentrop[4] onde os ministros dos negócios estrangeiros de Hitler e Stalin definiram a divisão da Polónia antes da invasão. Uma altura onde a URSS e a III Reich andavam de braço dado atacando os pequenos estados da europa de leste. A família Bielski contava-se entre os colaboradores desta ocupação soviética. Fizeram parte da curta administração soviética do território (até à invasão alemã) colocando-os contra os de etnia polaca, que quase sem excepção recusaram sempre qual colaboração com qualquer uma das potências ocupantes. Também ficou ausente do filme os massacres e ataques a aldeias que este grupo partisan este envolvido, mostrando um estilo de liderança altamente partilhado e democrático que está longe de ser real.

Como sempre, Hollywood precisa de bons e maus. Tem dificuldade em viver com a complexidade do ser humano, que naturalmente tem ambos os lados e vive numa constante luta entre ambos. Nem sempre é coerente, nem sempre as suas acções são previsíveis ou explicáveis no futuro.

Mas no seu todo não deixe de ser um excelente filme. Cheio de acção, bons actores e cenários realistas. Mostra um pouco da crueldade do que é uma ocupação e de como um pequeno grupo de homens determinados a sobreviver pode fazer.



terça-feira, 25 de junho de 2013

Aviões Secretos Aliados

Ice Carrier - Imagem idealizada do H.M.S. Habakuk (www.io9.com)

Um documentário bastante interessante sobre alguns protótipos aliados. Embora o documentário seja sobre aviões, penso que o projecto mais interessante lá descrito é mesmo o dos super porta-aviões feitos a partir de gelo que tentaram fazer durante a segunda guerra mundial[1].

Algumas das ideias estavam à frente do seu tempo, outras são futuros que nunca chegámos a alcançar, mas em todo o caso frutos de uma imaginação e uma vontade absolutamente extraordinárias.





domingo, 23 de junho de 2013

1942 - Guerra em África

Encontrei esta fotografia (E 12293)[1] no site o Imperial War Museum[2] britânico e achei-a tão curiosa que resolvi colocá-la aqui no blog. A fotografia foi tirada em 1942 na guerra do Norte de África, onde Erwin Rommel, o ambicioso general alemão ganhou o seu cognome de "Raposa do Deserto" e o general britânico Bernard Montgomery virou a guerra nesta frente com a brilhante vitória na segunda batalha de El Alamein[3].
Norte de África 1942

Esta é uma fotografia de um camião britânico, que terá sido "vendido" pelos americanos no programa Lend-Lease. Atrás, está um pequeno tanque Valentine[4], disfarçado de forma a que do céu pareça apenas um camião de transporte.

A segunda guerra mundial foi de tal forma uma guerra total, que toda e qualquer ideia era rapidamente testada. Uma fúria de inovação que permitiu avanços extraordinários mas também investimentos inúteis megalómanos. Neste caso, lembro-me de ler que os melhores ilusionistas da Grã-Bretanha foram chamados a ajudar o exército britânico na guerra do deserto. Construiram falsos portos a uma escala mais pequena e de forma barata para que os verdadeiros não fossem bombardeados, utilizaram espelhos para tentar confundir os bombardeiros de mergulho stuka e disfarçaram tanques de camiões e camiões de tanques para convencer o inimigo de que iriam atacar num lugar diferente.

Uma fotografia, a meu ver, extremamente interessante. Revela ainda o deserto árido e sem fim que não permitia às tropas terrestres fazerem qualquer movimento sem serem imediatamente vistas a enormes distâncias. E já que não se podiam esconder, disfarçavam-se de algo diferente. 





terça-feira, 18 de junho de 2013

Greve dos Professores

Por Miguel Sousa Tavares in Expresso 2013-06-15 (artigo integral sem qualquer tipo de alterações, cortes, highlights ou comentários)


Miguel Sousa Tavares
A minha entrada no ensino foi feita numa pequeníssima aldeia rural do norte. Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª classe, todos juntos na mesma e única sala de aula da escola - que não me lembro se tinha ou não casas-de-banho, mas sei que não tinha qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico, de Novembro a Março, que nos colava às carteiras duplas, petrificados como estalactites. Lembro-me de que o "recreio" era apenas um pequeno espaço plano, enlameado no Inverno, e onde jogávamos futebol com uma bola feita de meias velhas e balizas marcadas com pedras. A escola não tinha um vigilante, um porteiro, uma secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança, a professora que, sozinha, desempenhava todas essas tarefas e ainda ensinava os rios do Ultramar aos da 4ª classe, a história pátria aos da 3ª, as fracções aos da 2ª, e as primeiras letras aos da 1ª. Ela, sozinha, constituía todo o pessoal daquilo a que agora se chama o 1º ciclo. Se porventura, adoecesse, ou se na aldeia houvesse, que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa psicológica ou outra qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80 crianças da aldeia em idade escolar ficariam sem escola. Mas ela não falhou um único dia em todo o ano lectivo e eu saí de lá a saber escrever e para sempre apaixonado pela leitura. Devo-lhe isso eternamente.


Nesse tempo, não havia Parque Escolar, não havia pequenos-almoços na escola (que boa falta faziam!), não havia aquecimento nas salas, não havia o recorde de Portugal e da Europa de baixas profissionais entre os professores, não havia telemóveis nem iPads com os alunos, não havia "Magalhães" ao serviço dos meninos, mas sim lousas e giz, os professores não faziam greves porque estavam "desmotivados" ou "deprimidos" e a noção de "horário zero" seria levada à conta de brincadeira. Era assim a vida.
Não vou (notem: não vou) sustentar que assim é que estava bem. Limito-me a dizer que tudo é relativo e que nada do que temos por adquirido, excepto a morte, o foi sempre ou o será para sempre. E sei que na Finlândia - o país considerado modelo no ensino básico e secundário pela OCDE - os professores trabalham mais horas do que aqui, não faltam às aulas e ganham proporcionalmente menos. Com resultados substancialmente melhores, do único ponto de vista que interessa aos pais e aos contribuintes: o desempenho escolar dos alunos.
Só uma classe que recusou, como ultraje, a possibilidade de ser avaliada para efeitos de progressão profissional - isto é, uma classe onde os medíocres reivindicaram o direito constitucional de ganharem o mesmo que os competentes - é que se pode permitir a irresponsabilidade e a leviandade de decretar uma greve aos exames nacionais. Nisso, são professores exemplares: transmitem aos alunos o seu próprio exemplo, o exemplo de quem acha que os exames, as avaliações, são um incómodo para a paz de um sistema assente na desresponsabilização, na nivelação de todos por baixo, na ausência de estímulo ao mérito e ao esforço individual.
Mas a greve dos professores vai muito para lá deles: reflecte o estado de espírito de uma parte do país que não entendeu ou não quer entender o que lhe aconteceu. Deixem-me, então recordar: Portugal faliu. O Portugal das baixas psicológicas, dos direitos adquiridos para sempre, das falcatruas fiscais, das reformas antecipadas, dos subsídios para tudo e mais alguma coisa, dos salários iguais para os que trabalham e os que preguiçam, faliu. Faliu: não é mais sustentável. Podemos discutir, discordar, opormo-nos às condições do resgate que nos foi imposto e à sua gestão por parte deste Governo: eu também o faço e veementemente. Mas não podemos, se formos sérios, esquecer o essencial: se fomos resgatados, é porque fomos à falência; e, se fomos à falência, é porque não produzimos riqueza que possa sustentar o modo de vida a que nos habituámos. Se alguém conhece uma alternativa mágica, em que se possa ter professores sem crianças, auto-estradas sem carros, reformas sem dinheiro para as pagar, acumulando dívida a 6, 7 ou 8% de juros para a geração seguinte pagar, que o diga. Caso contrário, tenham pudor: não se fazem greves porque se acaba com os horários zero, porque se estabelece um horário semanal (e ficcional) de 40 horas de trabalho ou porque o Estado não pode sustentar o mesmo número de professores, se os portugueses não fazem filhos.
Por mais que respeite o direito à greve, causa-me uma sensação desagradável ver dirigentes sindicais, dos professores e não só, regozijarem-se porque ninguém foi trabalhar. Ver um sindicalismo de bota-abaixo constante, onde qualquer greve, qualquer manifestação, é muito mais valorizada e procurada do que qualquer acordo e qualquer negociação - como se, por cada português com vontade de trabalhar, houvesse outro cujo trabalho consiste em dissuadi-lo desse vício. Assim como me causa impressão, no estado em que o país está, saber que quase 200.000 trabalhadores pediram a reforma antecipada em 2012, mesmo perdendo dinheiro, e apesar de se queixarem da crise e dos constantes cortes nas pensões. Porque a mensagem deles é clara: "Eu, para já, mesmo perdendo dinheiro, safo-me. Os otários que continuarem a trabalhar e que se vierem a reformar mais tarde, em piores condições, é que lixam!" É o retrato de um país que parece ter perdido qualquer noção de destino colectivo: há um milhão de portugueses sem trabalho e grande parte dos que o têm, aparentemente, só desejam deixar de trabalhar. Será assim que nos livraremos da troika?
As coisas chegaram a um ponto de anormalidade tal, que, quando o ministro da Educação, no exercício do seu mais elementar dever - que é o de defender os direitos dos alunos contra a greve dos professores - convoca todos eles para vigiar os exames, aqui d'El Rey na imprensa bem-pensante que se trata de sabotar o legítimo direito à greve. Ou seja: que haja professores (que os há, felizmente!) dispostos a permitir que os alunos tenham exames é uma violação ilegítima do direito dos outros a que eles não tenham exames. Di-lo o dr. Garcia Pereira, o advogado dos trabalhadores e do dr. Jardim, infalível defensor da classe operária, e o mesmo que, no final do meu tempo de estudante, na Faculdade de Direito de Lisboa, invocando os ensinamentos do grande camarada Mao, decretava greve aos "exames burgueses" - que o fizeram advogado.
Não contesto que as greves, por natureza, causem incómodos a outrem - ou não fariam sentido. Mas há limites para tudo. Limites de brio profissional: um cirurgião não resolve entrar em grave quando recebe um doente já anestesiado pronto para a operação; um controlador aéreo não entra em greve quando tem um avião a fazer-se à pista; um bombeiro não entra em greve quando há um incêndio para apagar. Eu sei que isto que agora escrevo vai circular nos blogues dos professores, vai ser adulterado, deturpado, montado conforme dê mais jeito: já o fizeram no passado, inventando coisas que eu nunca disse, e só custa da primeira vez. Paciência, é isto que eu penso: esta greve dos professores aos exames, por muitas razões que possam ter, é inadmissível.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

69 anos passados...

Inicia-se a invasão da Normandia, Operação Overlord, no que ficaria para a história como o Dia D.


Omaha Beach - 6 Junho 1943