Ehud Gol - Embaixador de Israel em Portugal |
Este tipo de chantagem psicológica aparenta ser mais uma das muitas táticas utilizadas pelo lóbi de Israel para conseguir concessões ou pagamentos directos do país, ao estilo dos relatos de John J. Mearsheimer e Stephen M. Walt[3]. Mas começo por dizer que, tendo os judeus sido vítimas daquele que provavelmente será o maior crime alguma vez cometido, bandeiras a meia haste deveria ser o menor dos seus problemas.
Durante os anos fatídicos de 1933, quando Hitler ascende ao poder, até à sua queda em 1945, o povo judeu foi assassinado aos milhões com a ajuda dos governos fantoches ou legítimos da Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Noruega, Áustria, Checoslováquia, Polónia, Croácia, Itália, Estónia, Letónia, Lituânia, Grécia, etc. Em praticamente toda a europa, as polícias secretas em conjunto com a Gestapo procuravam e deportavam todos os judeus enviando-os para a morte. Portugal, nessa altura, protegeu não só os cidadãos portugueses de religião judaica como também fez vista grossa a milhares de judeus ilegais que entraram no país com vistos falsificados ou produzidos por embaixadas como a de Bordéus cuja validade legal era duvidosa[4]. Tudo isto enquanto o governo de António Oliveira Salazar se via a braços com uma potencial invasão espanhola e/ou alemã de Portugal continental e de uma invasão dos aliados nas ilhas dos Açores pelo que necessitava de manter uma postura o mais neutra possível para evitar ser empurrado para a mais destrutiva guerra de todos os tempos[5]. Se todos os países tivessem tido o mesmo comportamento que Portugal, nem teria existido guerra.
A bandeira a meia haste por Hitler é, obviamente, uma estupidez. A guerra estava decidida e já não havia qualquer interesse em manter a neutralidade. Portugal, aliás, já tinha feito algo bem mais importante do que isso e com efeitos directos na capacidade militar alemã ao proibir finalmente a venda de volfrâmio à Alemanha uns dias antes do Dia D[6]. E, para finalizar o comentário à ridícula conversa da bandeira, atrever-me-ia a dizer que todos ficaríamos muito felizes se Israel em vez de ter expulsado 750 mil palestinanos civis da Palestina e assassinado muitos milhares em 1948 tivesse limitado a sua ação a colocar a sua bandeira a meia haste pela morte de uma qualquer persona non grata dos palestinianos. Estaríamos hoje todos muito melhor.
Aristides Sousa Mendes |
Mas como um disparate nunca vem só, o embaixador Ehud Gol acrescenta ainda que lhe foi pedido por parte da Fundação Aristides Sousa Mendes ajuda pelo facto da antiga casa deste estar a ruir. Acrescenta orgulhosamente que não só não ajudará como para não pedirem ajuda aos Estados Unidos. Fiquei um pouco surpreendido por ver um embaixador israelita a falar em nome do governo dos EUA, mas dado o nível de influência do lóbi judeu no congresso americano[7], talvez esta até seja a atitude mais pragmática. Nas suas palavras "Façam vocês algo para promoverem a imagem dos vossos justos". Os justos entre as nações é um título atribuído por Israel e não por Portugal[8]. Nós temos os nossos próprios prémios carreira para os cidadãos portugueses que se distinguem por algum motivo. E somos nós, através dos nossos governos democraticamente eleitos, que decidimos como, quando e a quem apoiaremos dentro das nossas parcas possibilidades. Não cabe ao embaixador de Israel dizer como é que Portugal deve premiar os heróis de Israel. Mais uma vez, o excelentíssimo Ehud Gol parece ter enormes dificuldades em compreender o seu job description. Ele é embaixador de Israel, e não de Portugal ou dos Estados Unidos da América.
Soldados israelitas e o escudo humano |
Continuando a sua jihad retórica, o supracitado considera que Portugal tem obrigação de ser um membro e não um observador na task force internacional para a Educação, Memória e Investigação do Holocausto. Para além de estarmos neste momento precisamente a tentar acabar com o "investimento" do estado em inúmeras fundações e observatórios por falta de dinheiro, o estudo do Holocausto não é a prioridade da nossa educação. Felizmente Portugal não teve qualquer envolvimento nesse crime nem, dada a sua dimensão e frágil posição, poderia ter feito algo mais para o impedir. Temos no entanto imensas "nódoas" (para usar mais uma expressão de Gol) no nosso passado que devemos relembrar e fazer todos os possíveis para que não aconteçam nunca mais. Estou a falar por exemplo da tortura ou do racismo de estado que foram cometidos durante séculos no Império Português. Pesadelos que devemos relembrar para que nem nós nem ninguém os volte a repetir. Uma lição que o embaixador poderia até levar para o seu país que sistematicamente viola os direitos humanos, torturando e assassinando os israelitas árabes e os palestinianos[9][10][11][12][13][14].
Por fim, e em jeito de moral da história, temos a afirmação do embaixador de que "(..) os países têm que assumir responsabilidade pelo seu passado". Curiosamente referia-se a Portugal. O meu conselho seria que pegasse nessa lição e a levasse para Tel Aviv para ver se Netanyahu restitui aos palestinianos tudo aquilo que Israel lhes roubou nestes últimos 70 anos[15].
PS: Só faltou mesmo a conversa do ouro nazi, corolário óbvio de toda esta chantagem psicológica. Suponho que essa conversa ficará para quando Portugal tiver mais dinheiro.
Mais um texto de excelência. Parabéns António \m/
ResponderEliminar:) muito obrigado \m/
EliminarBoa noite caro António
ResponderEliminarPois é. Um põe a bandeira a meia haste, o outro, Moses Bensabat Amzalak, é condecorado.
Judeus que passaram por Portugal.
Judeus Portugueses no Brasil
“Judeus que vivenciaram essa época afirmam que, apesar da punição ao embaixador Souza Mendes por conceder vistos de entrada a refugiados judeus, não houve qualquer manifestação anti-semita durante a ditadura portuguesa. A absorção dos refugiados foi imediata. Uma comissão de acolhimento foi instaurada sob o comando de Moses Amzalak, presidente durante décadas da Comunidade Israelita de Lisboa e cujo bom relacionamento com Salazar permitiu que as portas portuguesas nunca se fechassem à entrada de refugiados. Calcula-se que 150 mil judeus passaram por Portugal.”
“O ampliado recrutamento para lutar na guerra colonial portuguesa em Angola e Moçambique foi fator preponderante de abandono da pátria por jovens judeus nascidos portugueses. Essa geração foi quase toda embora, para vários destinos, alterando o perfil demográfico, pois os pais, assim que podiam, iam juntar-se aos filhos.”
“Judeus portugueses do Rio de Janeiro confirmaram em entrevistas que a atitude de Salazar foi fundamental para sua salvação. Expressaram-se de forma agradecida e amistosa em relação ao ditador, não comentando, positiva ou negativamente, os abusos de poder e a restrição de liberdade, que eram claros e contundentes.”
Helena Lewin, socióloga, é coordenadora do Programa de Estudos Judaicos da UERJ
O Ehud Gol devia olhar para o “povo” que diz “representar” e só depois falar dos outros.
Stalin's Jews
http://www.ynetnews.com/articles/0%2C7340%2CL-3342999%2C00.html
E os judeus de Hitler e o Hitler dos judeus?... etc.
Da última vez que ouvi falar do numero oficial de mortos em Auschwitz, este levou um grande trambolhão, o que reduz substancialmente o numero total. Mas lá está, o estorno das indemnizações já pagas. O Ehud Gol esquece-se de muita coisa.
Boas noite meu caro
EliminarAchei muito interessante o link que enviou. Sabia que Hitler ligava directamente os judeus ao comunismo soviético, mas não conhecia estes factos que ali aparecem detalhados.
Sobre o ouro nazi, estou convencido que ainda não desistiram dessa história. Deve ser mesmo só uma questão de acabar a ajuda estrangeira.
Os melhores cumprimentos,
António
Caro António
ResponderEliminarPor enquanto não lhe dou o endereço de mais livros :)
Deixo-lhe um resumo do livro “Eu Vi Morrer o III Reich” feito por um sr que depois mo enviou :)
“Eu vi morrer o Terceiro Reich “
é o título de um livro ... que Manuel Homem de Mello escreveu...
Manuel Homem de Mello, entre 1941 e 1945 exerceu as funções de 2º. secretário da Legação Portuguesa em Berlim.
Nele conta a história de um tal Sr. Machado que teve uma acção semelhante àquela que é atribuída a Aristides e que lhe deu tão retumbante fama.
Vamos folheá-la.
«Machado era excepcionalmente inteligente e culto ... Privara com muitos dos exilados políticos que viveram em Berlim nos anos vinte, entre os quais - se bem me recordo - Ortega y Gasset.
Como chanceler, dirigiu o consulado durante uns meses, até à chegada do novo cônsul, Mário Duarte.
Teve então um trabalho esgotante, ao visar centenas de passaportes de judeus alemães que haviam recebido autorização para emigrar para os EUA, via Lisboa.
Passou não poucas noites a trabalhar, para que esses judeus não perdessem a oportunidade de sair da Alemanha.
E não cobrou quaisquer emolumentos extraordinários, como previa o regulamento consular...»
Quem nos conta este episódio é Manuel Homem de Mello.
Foi, como se escreveu acima, secretário da Legação Portuguesa em Berlim entre 1941 e 1945.
Acompanhou a agonia da Alemanha e testemunhou os bombardeamentos diários feitos pela aviação aliada, com bombas incendiárias que actuavam sobre as cidades.
Queimavam pessoas e poupavam as fábricas.
Quanto a abnegação a favor de refugiados:
Não se fala em Machado, mas fala-se em Aristides. Porquê apenas em Aristides, quando houve outros mais?
Roosevelt ofereceu na altura ao governo português, entre outras coisas, uma ambulância para o serviço e assistência dos refugiados que chegavam.
Ainda a cheguei a ver. Muito curiosa. Foi comprada várias décadas depois, num leilão, por um conhecido meu. Que por sinal era ferozmente anti-salazarista.
No Jornal "O Dia" saíram alguns artigos de quem estava dentro do assunto e que demonstrou que Sousa Mendes foi chamado a responder, não por passar vistos a judeus, mas por graves irregularidades no exercício do cargo.
Já de antes da II Guerra.
E esteve suspenso por mais de uma vez.
É uma outra versão, que difere da versão corrente que é usada para atacar o Chefe do Governo de então. Versão esta, que eu não sou obrigado a acreditar.
Cont.
Fernando Acosta em "As Máscaras de Salazar" refere um testemunho que me parece insuspeito, para o caso. Vem de uma personalidade eminente na comunidade israelita em Portugal.
ResponderEliminarE que diz precisamente, que o regime pôs ao serviço dos refugiados o melhor que havia em instalações e conforto.
Passo a transcrever:
«A maneira como os portugueses nos trataram foi admirável», evoca-me Sam Levy.
«Países neutros houve que puseram os judeus fugitivos em campos de trabalho onde morriam de fome e de frio. Aqui não. Aqui escolheram alguns dos locais mais bonitos, como as Caldas da Raínha, a Ericeira, a Figueira da Foz, o Buçaco, o Luso, para nos acolher até chegarem os barcos que nos levavam para a América. Havia médicos que tratavam os nossos doentes de graça. Em certos restaurantes, quando uma família de refugiados pedia a conta, não lhe cobravam nada, ou porque o dono oferecia a refeição, ou porque alguém a pagava. Havia muitas cenas assim....»
Continuando a descrição de Homem de Melo:
«...a partir da primavera/verão de 1943, a aberta intenção dos Aliados era a de destruir e aterrorizar... grandes centros urbanos alemães, arrasados por milhares de bombas explosivas e incendiárias....»
Eram justamente dirigidos contra a população e poupavam a máquina de guerra alemã...
"Os ingleses podiam, se quisessem, prejudicar muito mais a indústria alemã...»
Os ataques aéreos com bombas incendiárias contra a população civil, fizeram-se por toda a Alemanha. Por todas as grandes cidades alemãs. As mais densamente povoadas.
Não só Dresden.
O autor, em Berlim, recorda o ataque nocturno de Março de 1943, porque o próprio filho de cinco anos sofreu um rude choque ao ver em chamas o prédio onde viviam os seus companheiros de brincadeiras.
«... os bombardeamentos, sobretudo aqueles em que eram utilizadas bombas de fósforo líquido, não deixavam de levantar uma vaga de pavor.
Em Berlim, os habitantes viam com angústia chegar a sua vez, depois de terem sido flageladas as outras grandes cidades do Reich...»
(.....)
«... Contavam-se cenas horríveis passadas em cidades da Renânia, mormente em Wuppertal:
mães que corriam pelas ruas, levando nos braços seus filhos, que o fósforo ia corroendo até aos ossos;
pessoas assadas vivas nas caves;
outras cegas pelas partículas de fósforo, ou asfixiadas... a destruição de Hamburgo veio intensificar os receios e a angústia da população de Berlim e da de outras cidades ...»
O critério de escolhas ou na escolha de um só, é muito dúbio.
Estou neste momento a ler "As Máscaras de Salazar" e, por coincidência, li essa passagem há apenas uns dias que também achei muito interessante.
EliminarSobre os restantes crimes de guerra... é uma pena Nuremberga ter ficado a meio. Se tivessem continuado a julgar todos os criminosos da segunda guerra teriam sido muitos mais, e de todos os lados do conflito.
http://accao-integral.blogspot.pt/2012/10/as-estatisticas-do-holocausto.html
ResponderEliminarQuanto ao ouro já cá estiveram à uns anos, mas não conseguiram provar nada. A ver vamos...
ResponderEliminarsuspeito que é uma questão de tempo e voltarão à carga
EliminarAlain Guersch conflito Israel, Palestina
ResponderEliminarCaro António
ResponderEliminarA. S. Mendes
http://citadino.blogspot.pt/2008/09/aristides-de-sousa-mendes-quando-o.html
http://nonas-nonas.blogspot.pt/2007/05/voltando-lenda-do-sousa-mendes.html
http://www.vho.org/aaargh/fran/livres7/diabo0603.pdf
Caro Carlos
EliminarMuito obrigado pelos links que enviou. Tinha lido já algumas coisas interessantes sobre Aristides e que colocavam em causa a imagem que ficou para a história. Entre eles do insuspeito Neil Lochery no seu livro "Lisboa, A guerra nas sombras da cidade da luz" que comentei aqui neste blog (http://oreivaivestido.blogspot.pt/2012/09/lisboa-guerra-nas-sombras-da-cidade-da.html)
Não conhecia no entanto esses artigos que aqui colocou e que vão no mesmo sentido (ou eventualmente são as fontes que Lochery utilizou).
Cumprimentos,
António
E mais estes (isto está emperrado... lol)
ResponderEliminarComo sei que o António não era nada tolo eu sabia que havia algo por explicar (já não me lembrava).
"foi o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias"
Esta maliciosa e desenvergonhada insinuação fala mais do autor destas palavras do que outra coisa qualquer. É um velho método executado por gente que não é de bem.
1º Não foi o único país! E porquê?
2º porque foi um acto protocolar!
Um jurista explica
http://1.bp.blogspot.com/-u908Kp8kdDM/UJmuC-pnQjI/AAAAAAAAHRk/6kkN0og-6dQ/s1600/Repor-a-Verdade-Pedro-Lomba-P-06-11-2012.jpg
E pelo sr Brandão Ferreira
http://novoadamastor.blogspot.pt/2012/11/a-nodoa-do-embaixador-de-israel.html
Churchil
http://1.bp.blogspot.com/-d5PmCmt8Dk0/UJG3qg2j6NI/AAAAAAAAHRI/Dj6UYZ9ctlM/s1600/Brit%C3%A2nicos+queriam+executar+nazis.jpg
O artigo de Pedro Lomba está brilhante. E, de facto, acrescenta algo de relevante ao meu artigo de opinião. É que não só o que o embaixador Gol disse era absurdo como também era factualmente falso. E a comparação à ONU e à morte do ditador Coreano está brilhante.
EliminarO de João José Brandão Ferreira está um pouco confuso, mas tem bastantes informações interessantes.
Sobre o link que enviou sobre Churchill, tenho-lhe a dizer que já li umas coisas piores. Não me lembro bem onde, mas li que um dos grandes opinion makers americanos da WW2 defendia a esterlização de toda a população alemã para que simplesmente deixassem de existir alemães ao fim de umas décadas. A ser seguido, teria sido um crime só ao nível de Hitler e Stalin.
Os melhores cumprimentos,
António