domingo, 22 de abril de 2012

A High Price

Book Review

"A High Price, The triumphs and failures of Israeli counterterrorism" é um livro de Daniel Byman, professor da Georgetown University e que trabalhou para o governo norte-americano e na comissão 9/11.

Para além da questão de fundo Israelo-Palestiniana, acredito que é uma área interessante do problema procurarmos saber o que foi feito correcta e incorrectamente pelos serviços secretos e militares israelitas nas suas operações anti-terroristas, já que nenhum país no mundo terá provavelmente sofrido tanto com este tipo de ataques.

Qualquer que seja a nossa posição política ou religiosa, e por muita a ou pouca razão que possa ser dado a cada um dos lados, ninguém terá dúvidas que esta guerra assimétrica entre o judeus israelitas e os árabes que os rodeiam gerou mais ataques terroristas do que qualquer outro conflito desde a segunda guerra mundial.

Não entrarei aqui em grandes questões sobre a definição do que é um acto terrorista aceitando a dada por Byman como sendo "(...) non-state actor's use of or threat of violence against noncombatants for political reasons to produce a broader psycological effect". Tirando a parte do non-state actor (porque acredito que existe que o (terrorismo de estado é um tipo de terrorismo, possivelmente até o mais letal), estou de acordo.

Daniel Byman fez uma pesquisa bastante completa sobre os acontecimentos, incluindo relatos e entrevistas que tornam o livro interessante pois percebemos não só os factos históricos mas também o que alguns dos seus intervenientes e testemunhas pensaram. O próprio admite que o número de fontes e entrevistas terá sido desequilibrado a favor de Israel, o que é notório na forma como utiliza vezes sem conta a frase "em resposta...". Passo a explicar: Num conflito que dura há mais de 60 anos e cujas origens directas remontam ao final do século XIX e ao movimento Zionista, ou se quisermos até dois milénios atrás durante a expulsão dos judeus pelos Romanos, existe sempre um acontecimento anterior. Todos os ataques, de qualquer um dos lados, são sempre uma resposta a todos os acontecimentos anteriores. Para os fanáticos pró-Palestinianos, cada bombista suicída é um movimento de auto-defesa de resposta a um bombardeamento, targeted killing ou invasão. Para os fanáticos pró-Israelitas, cada ataque é uma resposta um bombista suicida, um atentado à bomba ou um rapto. Qualquer pessoa minimamente fria não deveria ter dificuldade em perceber que há muito que ambos os lados estão carregados de culpas. Qualquer pessoa minimamente conhecedora da situação também saberá que em ambos os lados milhões de pessoas procuraram genuinamente a paz e demasiadas vezes são empurradas para aceitar estas "auto-defesas" por serem vítimas da infindável propaganda feita pelos dois lados para além de muitos interesses terceiros. Infelizmente, o autor cai constantemente no erro de referir os acontecimentos como "Palestiniano fez, Israel respondeu, Palestiniano ataca, Israel responde, etc." pondo em causa a independência e liberdade de pensamento que genuinamente procura seguir em todo o seu livro.

Bastante interessantes são as suas descrições de como os acontecimentos vão influenciando as várias decisões ao nível operacional, e que hoje se vão tornando comum não só à El Al (companhia aérea israelita), aeroporto Ben Gurion e outras acções de contra-terrorismo e espionagem, mas também ao nível político e militar, em que as forças do IDF (israeli defence force), Mossad (serviços secretos externos) e Shin Bet (serviços secretos para Israel e Palestina) tiveram que alterar profundamente o seu alcance e metodologia.

Diz-se muitas vezes que não há ética na guerra, e os múltiplos conflitos israelo-árabes mostram que efectivamente não terá sido em conta, com todos os lados a cometerem assassinatos de personagens políticas e diplomáticas, mau tratamento e tortura de prisioneiros e acima de tudo vítimas civis em larga escala resultado de ataques directos (por oposição a vítimas colaterais). Pegando apenas nos mais óbvios de ambos os lados, os atentados suicidas e os bombardeamentos indiscriminados são exemplos disso. No entanto, não concordo que a ética e as leis da guerra não sejam factores a considerar e parece-me que terão sido esquecidos vezes demais pelos actores em causa. O fanatismo religioso tem estado a crescer nas últimas décadas quer em Israel quer na Palestina, Líbano, Egipto e Síria. As invasões do Líbano (como a operação Litani e a operação Small/Big Pine) causaram tantas baixas civis que não estavam de forma alguma envolvidas na resistência palestiniana que levaram à criação do Hizbullah (o "Partido de Deus" constituído por libaneses shiitas) e que se tornou rapidamente num opositor muitíssimo mais temível do que a PLO (Palestinian Liberation Organization) alguma vez fora. Por outro lado, os foguetes Qassam lançados pelo Hamas sobre a pequena cidade de Sderat, não obstante a sua fraca capacidade, mostram a vontade do Hamas de procurar baixas civis tornando Sderat numa espécie de "cidade mártir" para os judeus. Ataques suicídas sobre civis são ainda mais devastadores e se é verdade que assustam a população israelita, por outro levam os seus oponentes a procurar políticos e propostas políticas cada vez mais agressivas e opressoras em relação à Palestina aos israelitas de origem árabe. Em ambos os lados, o custo altíssimo da guerra só é aceite porque cada acto ilegal e imoral do inimigo legitíma mais um passo na escalada da violência.

Todas estas questões - da autoridade moral proclamada por cada um dos lados - não são suficientemente exploradas por Daniel Byman. E não haverá paz nem contra-terrorismo que funcione se cada acção que fazemos ajuda a criar mais umas centenas de terroristas e mais uns milhares de apoiantes de regimes mais violentos.

No entanto, parece-me que Byman chega a uma importante conclusão em relação ao contra-terrorismo israelita e com a qual concordo: os sucessos operacionais têm sido postos em causa pelas más decisões políticas.

A decisão de Ariel Sharon de invadir o Líbano (posteriormente forçada ao primeiro ministro Begin) em 1982 para criar uma zona de segurança conseguiu apenas criar o Hizbullah e matar milhares de civis. A vitória pírrica contra a PLO, levando Arafat para o exílio na Tunísia, não impediu a sua continuação nem o seu posterior regresso à Palestina. No final regressaram às fronteiras originais. A última invasão em 2006 com o mesmo objectivo de criar uma zona de segurança unificou o Líbano debaixo da bandeira do Hizbullah. A prisão de dezenas de milhares de crianças e homens durante as Intifadas criou duas gerações de potenciais terroristas e guerrilheiros. A criação do muro evitou certamente muitos ataques, mas por ter definido novas fronteiras e sempre em prejuízo dos palestinianos, criou um novo problema junto da comunidade internacional e reduziu as hipóteses de uma paz duradoura.

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