quarta-feira, 25 de abril de 2012

Merkava - God's Chariot

Merkava (imagem retirada da internet)
Foi na estrada que fazia a longa descida até ao Mar Morto, em pleno território palestiniano que vi um tanque israelita Merkava ao vivo pela primeira vez. Carregado na parte de trás de um camião, a imagem é impressionante e só conseguimos imaginar no medo que seria o vê-lo a avançar na nossa direcção. A sua dimensão é invulgarmente grande, mesmo para um tanque moderno. Mais tarde voltei a vê-los nos enormes quarteis militares israelitas, estacionados às dezenas lado a lado e posteriormente procurei mais informação sobre aquele tanque que tanto me impressionara. Não conseguia imaginar como era possível que as forças palestinianas pudessem fazer fosse o que fosse a estes Merkava apenas munidos das suas impecavelmente limpas AK-47 e os seus uniformes novinhos em folha.

Orgulho do IDF (Israeli Defense Force), o Merkava representa a superioridade militar de Israel no Médio Oriente e não tem nenhum oponente à altura na região. Com cerca de 2000 tanques contruídos, o investimento nesta arma já terá ultrapassado os 6500 milhões dólares e é alvo de bastante controvérsia no seu país de origem sobre a utilidade do investimento e a sua - até agora - incapacidade de exportação.

Foi criado depois das desilusões da guerra de Yom Kippur de 1973 que travaram contra Egipto e Síria, onde as suas forças blindadas dependiam dos ultrapassados tanques americanos Patton e dos ingleses Centurion. O ataque egípcio atravessando o Canal de Suez para recuperar a província perdida do Sinai, destruíu centenas de tanques israelitas utilizando misseis anti-tanques e forçou Israel a repensar todas as suas estratégias militares.

Com o objectivo de manterem a sua independência territorial sem dependências a terceiros (mesmo em relação aos seus maiores aliados), decidiram criar os seu próprio modelo de tanques. O Merkava foi desenhado para que Israel nunca mais perdesse uma batalha contra os seus vizinhos, os mais óbvios sendo o Egipto e a Síria, já que o Líbano e a Jordânia têm forças armadas bastante mais débeis e sem qualquer hipótese numa uma guerra convencional contra o estado Hebraico.

Desde então, várias versões foram feitas com progressivas melhorias, e embora tenham garantido a suprioridade que procuravam, as últimas guerras em que estiveram envolvidos mostraram que não são adequados a todos as ocasiões. Os acordos de paz com o Egipto e Jordânia, reduziram em muito o seu propósito e a frente da Síria através dos Montes Golan mostraram-se mais estáveis do que poderia ser previsto nos anos 70.

Foram no entanto utilizados na Cisjordânia e Gaza onde causaram enorme destruição mas não conseguiam controlar as populações que lhes respondiam com pedras e cocktails Molotov, com igual ineficiência. Em lutas urbanas, guerrilha e contra-terrorismo a utilização de tanques provou-se não só inútil como consegue promover mais violência. Também nas várias invasões sobre o Líbano mostraram-se capazes de chegar onde queriam, mas não de manter uma ocupação ou fazer algo pelo controlo dos campos de refugiados onde tipicamente se encontravam os seus alvos.

Mas o seu grande desafio chegou em 2006, quando tiveram que combater um oponente formidável e determinado, o movimento libanês shiita Hizbullah, que respondeu aos enormes tanques com armas anti-tanques utilizadas a curtíssima distância. Táticas de guerrilha descritas brilhantemente por David Hirst no seu livro "Beware of Small States - Lebanon, Battle of the Middle East", que utilizaram não só estas armas mas túneis, bunkers e milícias bem treinadas. Não só este modern day Blitzkrieg falhou violentamente, sem que os seus objectivos fossem conseguidos (a recuperação dos soldados israelitas raptados na fronteira pelo Hizbullah), como não conseguiu impedir o contra-ataque de bombardeamentos violentos e indiscriminados contra várias cidades israelitas, incluindo Haifa.

A enorme propaganda feita por Israel sobre os seus tanques nas televisões e internet, permitiram ao Hizbullah estudar cuidadosamente o seu inimigo sem sequer precisar de fazer um esforço financeiro significativo. Cuidadosos documentários mostravam o tanque com enorme detalhe e são passados regularmente em canais como o Discovery e o History Channel.  Em 2007, a televisão Al Jazeera fez o seu próprio documentário sobre o Merkava, mostrando os seus sucessos e falhanços. Cobre toda a sua história e os principais conflitos em que teve envolvido, incluindo entrevistas com militares israelitas assim como representantes do Hizbullah (videos do documentário incluídos abaixo).

Numa altura em que uma guerra entre Israel e Irão pode estar prestes a estalar, não será surpreendente se este tanque já quase esquecido pelo mundo volte ao campo de batalha. E com a ligação religiosa, financeira e política entre Hizbullah e Irão, é previsível que um ataque de Israel ao Irão leve a novo confronto nesta longa batalha pelo sul do Líbano. 

Para bem de todos os que terão que ver um Merkava de frente, esperemos que não...




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