quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Indústria do Holocausto

Book Review

Já ouvira que Norman Finkelstein era um radical[1], um self hating jew[2] entre muitos outros insultos. Conhecia o ódio de que é alvo por parte dos lóbis judeus americanos. Já estava por isso preparado para ouvir algo de diferente da boca deste americano, filho de sobreviventes do holocausto nazi e promotor feroz da independência da Palestina e dos direitos humanos nos territórios ocupados. Mesmo assim, nada me tinha preparado para o que iria encontrar neste livro.

Publicado em Portugal pela Antígona, "A Indústria do Holocausto - Reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus" pega num estudo de Peter Novick "The Holocaust in American Life" e leva-o mais longe, transformando-o numa acusação directa à Indústria do Holocausto que Finkelstein distingue do verdadeiro e factual holocausto nazi. Este último refere-se aos milhões de pessoas que foram assassinadas de forma sistemática pelo regime Nazi enquanto o primeiro é não mais do que a forma como essa memória tem sido utilizada para extorquir dinheiro e influência para um conjunto de instituições.

Historicamente o holocausto foi esquecido durante décadas. Os filmes e a literatura dos anos 40, 50 e 60 do século passado ingnoram a sua existência embora toda a gente tivesse conhecimento do que acontecera. Só depois da guerra dos 6 dias em 1967, é que os judeus americanos, nesse momento de força inequívoca do estado de Israel em relação aos seus vizinhos, descobrem Israel. Subitamente a própria sobrevivência do Estado de Israel era gritada aos ventos e os sobreviventes do holocausto estavam a passar enormes dificuldades. Com estes argumentos iniciou-se um processo de dupla extorsão: por um lado o lóbi judeu americano usou a sua influência junto dos governadores, congressistas e senadores americanos para forçar países como a Suíça, a Alemanha e a Polónia a pagarem indemnizações pelos eventos da segunda guerra mundial (mesmo quando em alguns casos já se tinha chegado a acordos e pago os mesmos imediatamente a seguir à guerra). Por outro, esse dinheiro, em grande parte, não chegou efectivamente aos sobreviventes e familiares das vítimas dos campos de extermínio nazis espalhados pelos vários países ocupados para além da própria Alemanha.

Finkelstein defende de forma clara que a ideia de que o extermínio dos judeus pelo regime Nazi não deve ser colocado numa categoria à parte. Embora seja um crime enorme e hediondo, não é único e as regras que aplicamos para procurar justiça para este deve ser utilizado também para outros. Seja o holocausto arménio, a escravatura em todo o mundo, a limpeza étnica dos palestinianos entre outros. Também o extermínio de ciganos e doentes mentais (os outros dois grupos sociais alvo dos nazis) durante o mesmo holocausto nazi deve ser tratado da mesma forma. E levanta ainda a questão de extremo mau gosto de o governo americano financiar inúmeros museus do holocausto e pergunta "o que aconteceria se a Alemanha fizesse um sem número de museus a demonstrar a escravatura dos negros nos EUA ou a limpeza étnica dos nativos americanos?".

Um livro provocador, bem escrito e corajoso de um homem que não se deixa silenciar. E ainda bem que é judeu, porque qualquer outra pessoa que trouxesse os mesmos argumentos seria simplesmente atirada para um canto e esquecido debaixo do argumento de "anti-semita".

Sem comentários:

Enviar um comentário