quinta-feira, 24 de maio de 2012

Primo

Nesta semana deparei-me com um filme num dos canais por cabo do qual não estava à espera. Para começar era teatro televisivo, do qual eu estou longe de ser um apreciador. Depois, nunca tinha ouvido falar deste filme, gravado em 2005, embora conhecesse a história de Primo Levi, um judeu italiano que durante a segunda guerra mundial foi enviado para o campo de concentração de Auschwitz na Polónia, e que veio a tornar-se num dos grandes escritores sobre o holocausto judeu. Por fim, não conhecia o actor principal (e único), Antony Sher.

Num palco extremamente simples, e utilizando as câmeras de forma brilhante, olhando o tele-espectador directamente nos olhos em grande parte da peça, Sher retrata num monólogo cativante a história do livro "Se isto é um homem" desde o momento em que é preso até à sua libertação quando o Exército Vermelho liberta o campo.

São tantos os momentos altos, desde a descrição do andar dos presos, a luta pela comida, a angústia de todo o processo, as esperanças do fim da guerra, os rumores, a vergonha da nudez, a revolta para com os outros presos que roubavam a comida e os sapatos até aos heróicos actos de Lorenzo Perrone que demonstrou que mesmo num verdadeiro inferno existem almas capazes de o mais belo dos actos de caridade.

Durante 90 minutos ouvimos e vemos um único actor, praticamente sem efeitos sonoros, com uma roupa discreta, palcos modestos e um jogo de sombras que se vai adaptando constantemente à história. E nem por um segundo ficamos aborrecidos. Depois de o ver a primeira vez, vi uma segunda, e depois uma terceira.

Não achei possível alguém conseguir descrever o holocausto numa peça de teatro. Antony Sher conseguiu-o de forma brilhante. Como se estivéssemos a falar mesmo com um sobrevivente de Auschwitz. Absolutamente perfeito.

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