quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A rota suicida do futebol


Sou um amante do futebol. Não sou um especialista no assunto, não leio os jornais desportivos diariamente, não quero que o meu clube ganhe a qualquer preço, mas sofro durante umas horas por semana e tenho os ataques de alegria e tristeza próprios de quem é apaixonado por este desporto.

É por isso que vejo com grande tristeza os clubes portugues (e não só...) a manterem um caminho que os levará inevitavelmente à ruína. Os líderes dos pequenos e grandes clubes portugueses comportam-se como se as receitas televisivas fossem aumentar para sempre, quando na realidade já cairam; como se a os juros fossem ficar baixos para sempre, quando os spreads já são altíssimos; como se os compradores estrangeiros dos passes dos jogadores fossem continuar a pagar mais e mais, quando na realidade já só uns poucos clubes detidos por sheikhs árabes mantêm esse tipo de saúde financeira.

Serei só eu que acho que os clubes portugueses têm que começar a vender enquanto os jogadores ainda têm valor? A crise que atravessa a europa, e Portugal em particular, vai inevitavelmente chegar ao futebol. Os bancos têm menos dinheiro para emprestar e o que emprestam é mais caro. Os adeptos estão mais cautelosos por terem visto os seus rendimentos decrescerem e as nuvens negras persistirem no horizonte. E o mercado das receitas televisivas caiu desenfreadamente pois as empresas estão a apertar o cinto, nomeadamente nos custos não-operacionais como é a publicidade.

Mesmo que isso custe desportivamente, os clubes portugueses - grandes e pequenos - têm urgentemente que colocar um travão no caminho da dívida descontrolada. Não é a primeira vez que o fazem, mas em melhores períodos o povo português apoiou (ou forçou) o Estado a intervir com perdões duvidosos aos clubes. Neste momento, tenho sérias dúvidas de que o povo exigisse isso. Pelo contrário. Eu - e acredito que milhões de outros portugueses pensarão da mesma forma - preferia ver o meu clube a afundar-se até aos distritais a ver o estado a derreter mais umas largas centenas de mihões de euros para garantir que continuamos a ter aqui alguns dos melhores clubes e jogadores do mundo.

Neste momento, muitos dos jogadores dos clubes nacionais ainda têm bastante valor de mercado. Mas bastam algumas notícias declarando a iminente falência de um deles para os seus jogadores entrarem em saldo. E alguém têm dúvidas de que isso pode acontecer? Reduzam o ritmo e valor das compras, mantenham as vendas e apostem na formação de jogadores. Já!

Onde estão hoje o Campomaiorense, o Boavista, o Salgueiros e o Estrela da Amadora? Infelizmente não ficarei surpreendido quando um dos três grandes se juntar a esta lista.

4 comentários:

  1. Isso é uma verdade, estou totalmente de acordo. Eu também adoro futebol, e não gosto de ver o rumo que o futebol português está a levar.

    Abraço!

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    1. Caro André

      Muito obrigado pelo seu comentário.

      Esperemos que os dirigentes do futebol abram os olhos antes que seja tarde demais. Mas olhando para as contratações que já arrancaram para a próxima época, fico com sérias dúvidas que isso vá acontecer.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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  2. Concordo plenamente com o artigo.

    A crise mundial tardou a chegar ao futebol mas os seus sinais já são visiveis. Basta olhar para o mercado de transferências desta época para perceber como anda calmo. Tirando o PSG, comprado há dois anos por um Sheikh do Qatar, ninguém tem gasto muito. As transferências realizadas têm sido por valores baixos, quando comparados com os praticados há 2, 3 ou 4 anos. Outro sinal é o aumento de transferências a custo zero de jogadores titulares nas suas equipas, com o intuito de baixar a massa salarial (Lucho Gonzalez do Marselha para o FCPorto é um exemplo). Este ultimo afecta mais jogadores no ultimo terço da carreira, "apenas" com valor desportivo e dos quais já não se espera nenhuma venda futura.

    Em Portugal, o Sporting reduziu o orçamento para o futebol deste ano para 14 milhões de euros anuais, pouco acima do orçamento do Sporting de Braga (12 milhões de euros/ano) e muito abaixo do orçamento de FCPorto e Benfica, ambos perto dos 100 milhões de euros/ano. Depois do despesismo da época anterior, sem resultados financeiros ou desportivos de relevo, teve de tomar esta atitude. Foi criticado por muitos adeptos mas talvez esteja no caminho certo. Tenho pena que Benfica e FCPorto não façam o mesmo podendo estes dois beneficiar das vendas dos seus activos, bem mais valiosos quando comparados com os dos dois "Sportingues" acima mencionados, para entrar na era que se avizinha com uma saúde financeira aceitável.

    Adivinham-se tempos negros para o futebol.

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    1. Caro The_Val

      Obrigado pelos dados que completam e muito o artigo original.

      Vamos a ver como corre a época de contratações. Mas pelo que vimos até agora, a rota vai se manter...

      Abraço

      António

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