sexta-feira, 8 de março de 2013

Manifesto Anti-Inovação

Fonte da Imagem: nepo.com.br
Será que sou a única pessoa que cada vez que ouço uma figura pública falar de "inovação" me dá uma volta ao estômago? Como foi possível transformar o que seria uma importante mentalidade para um futuro melhor numa palavra vazia, desprovida de qualquer sentido, lógica ou emoção. Algo que se diz para receber a aprovação dos asnos que não perdem um segundo a pensar no que está a ser dito.

Há mais de uma década que ouço tudo e todos falarem da "Inovação" essa panaceia que nos vai tirar a todos do buraco em que estamos. Uma espécie de procura do El Dorado que nos fará ricos com um  golpe de sorte. A inovação é e deve ser uma parte importante do esforço de uma sociedade mas não tão importante como fazer bem feito aquilo que muitos outros já aprenderam a fazer antes de nós. Eu, por exemplo, tenho a certeza que estaríamos muito melhor se tívessemos serviços públicos que copiassem as melhores práticas internacionais, qualidade de produtos ao nível dos melhores do mundo, civismo comparável aos mais avançados, etc. Poderíamos não ser muito criativos, mas estaríamos bem melhor.

Hoje passei por mais uma dessas frases que me deixam com os cabelos em pé: A Soares da Costa anunciava "Há 90 anos a Inovar"[1]. Não sei bem quantos milhares de patentes a Soares da Costa terá. Se terá mais que as restantes empresas portuguesas do sector. Se gasta uma parte considerável do seu orçamento em Investigação e Desenvolvimento. Isso sim, são índices que nos podem levar a acreditar que esta empresa é inovadora, que está linha da frente tecnológica na sua área de actividade. Simplesmente anunciar ou publicitar que se é "inovador" vale, na minha modesta opinião, zero! Ou melhor, não deveria valer rigorosamente nada, mas na realidade deve significar um apoio generalizado da comunidade académica, política e jornalística nacional. 

Nem de propósito, tivemos o presidente Cavaco Silva a dizer sobre este tema em 2009 "A inovação é, cada vez mais, um sistema aberto. Constitui um processo que se desenvolve a partir de redes de conhecimento e competências, muitas delas situadas no exterior das próprias empresas". Uma frase que mereceu destaque no Jornal de Notícias[2], mas que não significa rigorosamente nada. É pena que nenhum jornalista, depois de ouvir este tipo de discursos vazios peça uns exemplos. Mais detalhe sobre essa ideia.  Também o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, considerou a importância desta "inovação" tal, que preside ao Conselho Nacional para o Empreendedorismo e Inovação[3]. Algo que ele próprio - que nunca criou nenhuma empresa, nunca produziu nenhuma patente, nunca escreveu nenhum artigo científico ou alterou algum processo relevante em alguma indústria - estará certamente muito qualificado. Mais uma vez, "inovação" não passa de uma palavra. E poderíamos continuar passando por cada um dos players políticos de todos os partidos, todos os opinion makers e grande parte dos especialistas de todos os tipos que nos moem a paciência diariamente com conversas sem conteúdo. 

Pondo as coisas de forma simples: a inovação, assim como a seriedade ou a ecologia, não se proclama, pratica-se.

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