Regessando à literatura da primeira guerra mundial, decidi ler "To End All Wars, A story of Loyalty and Rebellion, 1914-1918" de Adam Hoschschild. O livro é interessante, mostrando a Grande Guerra na perspectiva de um conjunto limitado de personagens, principalmente dos pacifistas, socialistas e líderes anti-guerra ingleses. Não é, por isso, muito detalhado no que toca às grandes batalhas e movimentos táticos, aos diferentes teatros de guerra e aos países mais pequenos que também entraram na guerra (Portugal não aparece uma única vez referenciado no livro).O que mais apreciei neste livre foi o ponto de vista das suffragettes, as mulheres que lutaram pelo voto da mulher e que no final da guerra acabariam por conseguí-lo, pelos visionários que sonhavam com um mundo pós-capitalista e pós-imperialista melhor e que viram no movimento bolchevique russo uma esperança enorme. A revolução que acabou a odiável império dos Romanov levou muitos destes a mudarem-se para a Rússia nos anos que se seguiram, mas não foram poucos os que rapidamente perceberam a realidade do que significava esta ditadura do proletariado. Muitos outros, que acreditaram até ao fim, provavelmente só perceberam quando - décadas depois - as purgas stalinistas perseguiram, levaram para os Gulags e assassinaram muitos destas "influências estrangeiras" por espionagem em mais uma das suas loucas teorias da conspiração, resultado do seu (não menos insano) complexo de perseguição.
![]()  | 
| Emmeline Pankhurst 1913 | 
![]()  | 
| Keir Hardie 1902 | 
Esta obra de Adam Hoschschild é por isso muito apelativa, mostra-nos a guerra no prisma dos poucos que lutaram contra ela. Do ponto de vista das outras guerras que se lutaram em paralelo, pelos direitos das mulheres, pelos direitos dos trabalhadores, pelos direitos dos povos das colónias inglesas. Como ponto fraco, aponto apenas a dependência que continuamos a ter dos autores ingleses no âmbito da história. Temo que com tantos livros escritos pelos muitos e brilhantes historiadores ingleses, e tão poucos pelos historiadores de outros países, que a própria história acaba por ser reescrita. Que criemos uma ligação demasiado próxima às personagens que são naturalmente alvo dos britânicos e extremamente distante dos que lutaram do outro lado da barricada, ou noutros campos de batalhas mais discretos.


Sem comentários:
Enviar um comentário