Esta manhã, a organização terrorista Islamic State of Iraq and Levant (ISIL), declarou que o seu nome será, a partir de hoje, simplesmente de Islamic State. Este movimento é interessante. Aliás, toda a declaração feita hoje está repleta de aspectos curiosos e que, considero, devem ser vistos com algum cuidado.
I) Confusão entre ISIL e ISIS
A organização tinha vários nomes, e depois de traduzida, ainda mais. Os vários media internacionais utilizavam indistintamente as iniciais ISIL (Islamic State of Iraq and Levant) ou ISIS (Islamic State of Iraq and Syria). Noutros casos as inicias árabes eram utilizadas, ou seja, Da'Ish ou DAISH.
Numa empresa privada, este confusão de identidades seria considerada grave e motivo suficiente para um rebranding ou por uma campanha de marketing no sentido de clarificar o nome na mente dos consumidores e outros stakeholders. Pelos vistos, para uma organização paramilitar, a importância mantém-se.
A partir de agora, passa a ser unicamente "Islamic State" ou IS.
II) Definição de fronteiras
Como parte da mesma declaração, o IS define as fronteiras actuais do seu "império". Desde Allepo (Síria) até Dyala (Iraque), uma zona predominantemente sunita e debaixo do controlo destes. No entanto, ao retirar a limitação geográfica do seu nome, o Islamic State passa a querer colocar-se como descendente directo dos primeiros califas, que governaram o Império Islâmico logo após a morte do profeta em 632 DC. Ao fazê-lo, devemos assumir que nenhuma fronteira actual deverá ser tida em conta e que a sua agenda está claramente a um nível religioso e nacionalista muito acima das fronteiras definidas por Sykes e Picot há 96 anos atrás. Isto certamente causará muitos calafrios nos estados circundantes, em especial no Líbano e na Jordânia.
III) Título de Califa
Acrescenta-se ainda que o seu líder, Abu Bakr Al Bagdadi assume o título de Califa e é apresentado como "o Sheikh, o lutador, o académico que pratica o que ensina, o devoto, o líder, o guerreiro, o renovador, o descendente da família do Profeta, o servo de Deus". Bagdadi utiliza assim uma dupla legitimidade: a prática, resultado das suas conquistas; e a divina, fruto da descendência de Mohammed e do trabalho em nome de Allah.
Esta forma não é nova, e praticamente todos os monarcas do mundo islâmico reclamam essa mesma proximidade à família do fundador do Islão.
IV) Obediência absoluta
Continuando, o novo Islamic State declara que exigirá de todos os grupos armados na zona a submissão ao IS. Possivelmente um resultado de hubris, depois de tantas vitórias consecutivas, mas também uma indicação clara à Al Qaeda de quem realmente manda.
V) Construção de um país
Por fim, ao assumir o início de um Califado, o IS está a comprometer-se a construir as instituições que um estado necessita. E isto é muito diferente de gerir uma organização militar. Já tinha dado antes indicações nesse sentido (li há umas duas semanas que tinha criado uma agência de qualidade alimentar por exemplo) mas agora terão que começar a pagar salários, gerir investimentos (poços de petróleo, refinarias e oleodutos), construir estradas, organizar polícia, bombeiros e hospitais, etc. E fazer tudo isto debaixo de fogo e com um mundo inteiro absolutamente hostil. Não parece um trabalho fácil, e não me admirava que muito em breve descubram que estavam bem mais confortáveis a destruir e pilhar do que a gerir um país.
I) Confusão entre ISIL e ISIS
A organização tinha vários nomes, e depois de traduzida, ainda mais. Os vários media internacionais utilizavam indistintamente as iniciais ISIL (Islamic State of Iraq and Levant) ou ISIS (Islamic State of Iraq and Syria). Noutros casos as inicias árabes eram utilizadas, ou seja, Da'Ish ou DAISH.
Numa empresa privada, este confusão de identidades seria considerada grave e motivo suficiente para um rebranding ou por uma campanha de marketing no sentido de clarificar o nome na mente dos consumidores e outros stakeholders. Pelos vistos, para uma organização paramilitar, a importância mantém-se.
A partir de agora, passa a ser unicamente "Islamic State" ou IS.
II) Definição de fronteiras
Como parte da mesma declaração, o IS define as fronteiras actuais do seu "império". Desde Allepo (Síria) até Dyala (Iraque), uma zona predominantemente sunita e debaixo do controlo destes. No entanto, ao retirar a limitação geográfica do seu nome, o Islamic State passa a querer colocar-se como descendente directo dos primeiros califas, que governaram o Império Islâmico logo após a morte do profeta em 632 DC. Ao fazê-lo, devemos assumir que nenhuma fronteira actual deverá ser tida em conta e que a sua agenda está claramente a um nível religioso e nacionalista muito acima das fronteiras definidas por Sykes e Picot há 96 anos atrás. Isto certamente causará muitos calafrios nos estados circundantes, em especial no Líbano e na Jordânia.
III) Título de Califa
Abu Bakr Al Bagdadi |
Esta forma não é nova, e praticamente todos os monarcas do mundo islâmico reclamam essa mesma proximidade à família do fundador do Islão.
IV) Obediência absoluta
Continuando, o novo Islamic State declara que exigirá de todos os grupos armados na zona a submissão ao IS. Possivelmente um resultado de hubris, depois de tantas vitórias consecutivas, mas também uma indicação clara à Al Qaeda de quem realmente manda.
V) Construção de um país
Por fim, ao assumir o início de um Califado, o IS está a comprometer-se a construir as instituições que um estado necessita. E isto é muito diferente de gerir uma organização militar. Já tinha dado antes indicações nesse sentido (li há umas duas semanas que tinha criado uma agência de qualidade alimentar por exemplo) mas agora terão que começar a pagar salários, gerir investimentos (poços de petróleo, refinarias e oleodutos), construir estradas, organizar polícia, bombeiros e hospitais, etc. E fazer tudo isto debaixo de fogo e com um mundo inteiro absolutamente hostil. Não parece um trabalho fácil, e não me admirava que muito em breve descubram que estavam bem mais confortáveis a destruir e pilhar do que a gerir um país.
Esta gente arrepia-me. Odeio trevas medievalescas.
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