segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E agora? É o Irão?

Em 2003 vimos o então Primeiro Ministro Durão Barroso, agora presidente da Comissão Europeia, a garantir-nos que vira as provas da existência de armas de destruição em massa no Iraque, na posse do ditador Saddam Hussein.
Claro que entretanto descobrimos que não existia nada sequer parecido por lá. Ao fim de 8 anos de ocupação do país, nunca encontraram nada e mais década menos década vão tentar e possivelmente conseguir reescrever a história de forma a que o motivo da invasão seja outro qualquer mais verossímil (petróleo e lobbies não incluídos claro).

Embora as supostas provas viessem dos Estados Unidos da América e do Reino Unido, o nosso Primeiro Ministro poderia ter ainda informações ainda melhores dentro do seu próprio aparelho de estado. Afinal de contas, ele era Primeiro Ministro de Portugal e tinha sido ministro dos Negócios Estrangeiros, pelo que deveria ter conhecimento das vendas ilegais que Portugal fizera durante os anos 80 ao mesmo Saddam e que devido à guerra Irão-Iraque "sofriam" de um embargo de armas das Nações Unidas.(http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/portugal-vendeu-uranio-ao-iraque-180309)

Naturalmente que nessa altura o Saddam era dos bons. Afinal de contas tinha atacado o Irão, com o apoio de todo o ocidente, arábia saudita e restantes estados do golfo que queriam ver o Ayatollah Khomeini morto e enterrado. É também nessa época que comete os famosos crimes contra a humanidade, sendo as vítimas Iranianos, Curdos e Xiitas (este último é a acusação que o leva à pena de morte em 2006).

Ou seja, enquanto cometia crimes inacreditáveis, "nós" (leia-se o Ocidente) vendíamos-lhe urânio. Quando o seu país estava na miséria e o mundo a precisar de petróleo e um novo bode expiatório para o 11 de Setembro (estava difícil de apanhar o Bin Laden), então atacou-se com provas forjadas.

Isto leva-nos agora ao caso do Irão. Novamente vendem-nos a ideia de que o vilão está de volta, mais forte do que nunca e preparado para destruir o mundo. Temos pena, mas agora já não chega a palavra dos nossos governantes. Vai demorar mais uns 20 ou 30 anos a dizerem a verdade até que nós voltemos a acreditar numa guerra preventiva.

Desta vez, aparece-nos um relatório de IAEA (International Atomic Energy Agency - Agência Internacional de Energia Atómica da ONU) que indica que o Irão poderá estar a avançar no caminho da produção de uma bomba atómica. Por outro lado, o relatório terá sido baseado em documentos anónimos cuja autenticidade não pode ser confirmada. Segundo Robert Kelley, um antigo funcionário da IAEA (http://www.guardian.co.uk/world/julian-borger-global-security-blog/2012/jan/13/iran-nuclear-weapons) este documento era suspeito porque continha erros de Farsi e dificilmente teria sido escrito por um iraniano, não tinha qualquer data associada e, nas palavras de Mohammed ElBaradei (antigo director da IAEA) a fonte era o governo de Israel.

Não gosto de nenhum governo teocrático, sendo o iraniano um dos piores que por aí andam, mas será que nos vamos deixar enganar mais uma vez? O mesmo Ocidente que tanto hesitou em apoiar a Primavera Árabe na Tunísia, Egipto e Yemen (curiosamente não teve dúvidas quando o mesmo aconteceu na Síria...) vai agora atacar com provas altamente duvidosas?

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