terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Costa Concordia, Titanic, Wilhelm Gustloff e a História

Estava a ver as impressionantes imagens do Costa Concordia adornado para estibordo, meio dentro meio fora de água e vieram-me imagens e histórias de outros desastres navais.

Wilhelm Gustloff
Por coincidência, assisti num dos canais de documentários há menos de duas semanas um programa detalhado sobre o que terá sido provavelmente o maior acidente naval da história: o Wilhelm Gustloff. A maioria dos leitores nunca terá ouvido falar deste barco, mas na noite em que foi ao fundo, morreram mais pessoas do que no Titanic e no Lusitania juntos. No total estima-se que entre 8 a 12 mil pessoas morreram nessa noite e apenas cerca de 900 passageiros e tripulantes foram salvos.

Porque motivo a história do Titanic é ensinada às crianças desde pequenas, e outras como a do Wilhelm Gustloff ou do General Steuben são mantidas no esquecimento?

(Para maior detalhe sobre estes dois barcos e o seu afundamento, podem consultar o wikipedia nos seguintes links http://en.wikipedia.org/wiki/MV_Wilhelm_Gustloff e http://en.wikipedia.org/wiki/SS_General_von_Steuben)

O Titanic é uma tragédia sobre a Hubris do Homem e por isso serve o propósito de colocar o homem como súbdito de Deus e da Natureza. Não é visto apenas como um acidente, mas como uma lição de moral. Relembra-nos o nosso lugar do mundo, como se provasse que não podemos controlar a natureza e que quando consideramos que a tecnologia está no seu auge, algum evento terá que nos lembrar de forma incrivelmente violenta que não somos mais do que uns descendentes de primatas fracos e indefesos que se devem abrigar na gruta até que a tempestade passe.

O desastre do Wilhelm Gustloff (entre outros) conta uma história bem diferente. Uma que não queremos contar aos nossos filhos e possivelmente nem as nós próprios. No caso, já nos meses finais da segunda guerra mundial, durante a evacuação dos civis e feridos alemães para os países escandinavos, este barco estava sobrecarregado com qualquer coisa como seis vezes mais pessoas do que aquilo para que estava preparado para receber. Segundo os sobreviventes, todos os espaços do barco estavam completamente lotados incluindo o que fora em tempos a sua piscina e todas as zonas de lazer do navio.

A evacuação de mais de dois milhões de pessoas da Alemanha para países ocidentais e neutros, depois da revelação das imagens da cidade de Nemmersdorf (Prússia Oriental) onde os soviéticos violaram e assassinaram toda uma cidade, deixando os restos mortais das mulheres violadas crucificados com pregos. Num contra-ataque alemão, a cidade foi retomada permitindo que a população germânica tomasse conhecimento do massacre. Obviamente, os russos tinham ainda bem presente os actos dos nazis sobre a sua população durante a operação Barbarossa e estavam a vingar-se na mesma moeda.

Depois de as autoridades de Berlim decretarem a evacuação de todos os não combatentes, o paquete Wilhelm Gustloff foi utilizado juntamente com todos os outros barcos disponíveis para a retirada dos civis. No dia 30 de Janeiro de 1945, um submarino soviético afundou-o com torpedos causando o mais mortal de todos os acidentes em alto mar.

Não foi por causa do número de vítimas que o Titanic ficou na história. Se fosse o caso, vários outros seriam mais famosos. Mesmo o Lusitania, um navio civil cujo torpedeamento pela Alemanha em 1915 contribuiu para a entrada dos Estados Unidos na Grande Guerra, ficou com seu lugar na história. O único motivo porque estes navios alemães não são lembrados é, a meu ver, porque foram os nossos aliados que os abateram. Porque no fundo estes são os nossos crimes históricos. Mesmo que em breve a URSS fosse inimiga das potências ocidentais, naquele momento interessava a todos que o assunto fosse apagado dos anais da história.

O Wilhelm Gustloff conta uma história de ódio e vingança, de crimes de guerra que não foram julgados em Nuremberga ou em qualquer outro lugar, da crueldade de uma guerra onde ambos os lados perderam todo e qualquer sentido de humanidade. E é por isso mesmo que nunca o podemos esquecer.

2 comentários:

  1. o titanic é relativamente simples de perceber ... toda a publicidade e media hype da altura com aquele que era o maior navio de sempre, que se afunda na viagem inaugural ... isto é um script de hollywood :)

    se ele tivesse afundado passados 10 anos ao serviço, já ninguem se lembrava hoje em dia estava ao nivel dos outro todos

    :)

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    1. Concordo que a história é excelente para um filme: Viagem inaugural e o auge da era da ciência. Imagens de cinema da partida. Tentativa de bater o record de velocidade na travessia entre a europa e estados unidos.

      Mas não tenhas dúvidas que os "nossos" crimes são sempre mais fáceis de esquecer do que os dos "outros".

      O bombardeamento de londres aparece em inúmeros filmes da WW2, os bombardeamentos das cidades alemãs que foram centenas de vezes mais violentas foram esquecidos.

      No cinema e literatura popular, os bombardeamentos aliados são sempre precisos, pequenos e com objectivos militares. Os do inimigo são maldosos, crueis e sobre civis.

      Já notaste como o termo "dano colateral" nunca é utilizado quando se trata do "inimigo"?

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