sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Al Qaeda - A História do Islamismo Radical

Book Review

Nos meses que se seguiram ao 11 de Setembro de 2011, inúmeros livros foram publicados sobre Bin Laden e a sua Al Qaeda. Aproveitando a onda de interesse, editores e autores apressaram-se a escrever qualquer coisa com os poucos dados que eram conhecidos, sabendo que o sucesso dessas edições estava garantido à partida. Foi por isso que na altura recusei comprar um único desses livros. As minha expectativas eram simplesmente demasiado baixas. Como nota lateral, lembro-me de uma semana depois dos atentados, em entrevista a uma das televisões portuguesas um responsável por uma das lojas de livros em Portugal explicava que tiveram que adaptar a sua oferta aos novos interesses, detalhando que "as pessoas de baixo nível cultural compravam Nostradamus enquanto as de um nível superior procuravam o Al Corão". Mas com o tempo mais informação foi sendo desclassificada e um sem número de reporteres de guerra lançaram a sua atenção nesta organização e nos países que a albergaram e defenderam durante anos. Um destes foi Jason Burke, que nos trouxe este magnífico "Al Qaeda - A História do Islamismo Radical" publicado em Portugal pela Quetzal Editores. Este inglês, redator chefe do Observer, esteve no terreno nos vários teatros de guerra em que a Al Qaeda controlava operações ou influenciava os movimentos locais e publicou este livro em 2003 embora o seu trabalho já o tivesse anteriormente levado ao Afeganistão e Paquistão anteriormente.

A forma como descreve a Al Qaeda é interessante, mas provavelmente ainda mais relevante é a forma como esta organização se foi transformando ao longo do tempo. Já em 2003 Jason Burke colocava a Al Qaeda ao nível mais de uma ideia do que de uma organização formal. Já nesta altura mostrava que Bin Laden se tinha transformado mais num símbolo do que num líder operacional, que em muitos sentidos nunca fora. Ideias que só foram aceites e compreendidas muitos anos depois, quando inúmeros grupos terroristas se começaram a auto-denominar Al Qaeda. Na realidade, para se ser Al Qaeda, basta declará-lo e estar minimamente alinhado nos seus princípios.

No pós 11 de Setembro ou, para ser mais rigoroso, com o colapso do governo Taliban, a Al Qaeda perde toda a sua estrutura formal e passa a um estado de clandestinidade. Os seus campos de treino são bombardeados, os seus financiadores sauditas e dos reinos do golfo pérsico afugentados, os seus protectores afegãos perseguidos. No entanto, a sua imagem de mártires e de vingadores dos povos muçulmanos oprimidos fica mais forte do que nunca. Bin Laden cresce para um estatuto de lenda, muito mais do que Mohammed Atta e outros que de facto criaram e levaram a operação até ao fim.

Antes disso, uma combinação de eventos e características pessoais levam Bin Laden a tornar-se neste ponto central do financiamento do terrorismo islâmico internacional: a invasão soviética do Afeganistão cria uma onda de apoio entre os milionários e governos árabes no sentido de parar o avanço do comunismo ateísta. Bin Laden, de uma família multimilionária Saudita de origem no Yemen tinha, para além de dinheiro, uma vida simples e sem luxos enquanto voluntário Mujahedeen. Isto levava a que fosse visto como a pessoa perfeita para canalizar o dinheiro árabe para a luta armada. Não tinha necessidade dele porque era rico e o seu estilo de vida garantia que o dinheiro seria utilizado para os fins a que se propunha. Desta forma a Al Qaeda (que durante muito tempo não tinha sequer nome) funcionava mais como uma fundação, que subsidia bons projectos e dá-lhes as condições financeiras, logísticas e humanas para que sejam bem sucedidos. Houve por isso diferentes graus de envolvimento da Al Qaeda com os actos a que está ligada. Por vezes organização tudo do princípio ao fim, com todos os detalhes tratados e garantidos por si, enquanto noutras situações só deram dinheiro e treino para projectos que estavam totalmente desenhados e planeados.

Este livro é, naturalmente, muito anterior à captura e morte de Bin Laden. É também anterior a alguns dos actos a que a Al Qaeda aparece associada, como a guerra na Síria e Líbia. No entanto, não posso dizer que o livro esteja ultrapassado. Jason Burke escreve o caminho que Al Qaeda seguiu e previu com muita exactidão aquilo em que esta se iria tornar nos anos após o atentado de 11 de Setembro. Um livro que provavelmente cairá no esquecimento, mas que li com enorme interesse e que certamente consultarei de vez em quando para compreender um pouco melhor esta "Guerra contra o Terror", que teve data de início mas - não obstante já não se falar muito - não tem ainda data de fim.

1 comentário:

  1. Caro António

    Qual foi a razão/causa alegada pelos americanos para entrarem na 1ªGG?

    Qual foi a razão/causa alegada pelos americanos para entrarem na 2ªGG?


    “(...) a invasão soviética do Afeganistão (...)”

    “(...) In December of 1979, the Soviet Union launched a lightning-fast military offensive against the backward nation of Afghanistan.(...)”

    “(...) The invasion of Afghanistan was a landmark shift in Soviet military tactics. Departing from half a century of slow, plodding, "smother the enemy with raw power" tactics, the Soviet military leadership adopted the lightning strike. Overnight, the Soviets had captured the Kabul airfield and had surrounded the capital city with tanks.

    Tanks? In an overnight invasion? How did 30-ton Soviet tanks roll from the Soviet border to the interior city of Kabul in one day? What about the rugged Afghan terrain?

    The answer is simple: there are two highways from the Soviet Union to Kabul, including one which is 647 miles long. Their bridges can support tanks. Do you think that Afghan peasants built these roads for yak-drawn carts? Do you think that Afghan peasants built these roads at all? No, you (americanos) built them.

    In 1966, reports on this huge construction project began to appear in obscure U.S. magainzes. The project was completed the following year. It was part of Lyndon Johnson's Great Society. Soviet and U.S.' engineers worked side by side, spending U.S. foreign aid money and Soviet money, to get the highways built. One strip of road, 67 miles long, north through the Salang Pass to the U.S.S.R., cost $42 million, or $643,000 per mile. John W. Millers, the leader of the United National survey team in Afghanistan, commented at the time that it was the most expensive bit of road he had ever seen. The Soviets trained and used 8,000 Afghans to build it.

    If there were any justice in this world of international foreign aid, the Soviet tanks should have rolled by signs that read: "U.S. Highway Tax Dollars at Work."

    Nice guys, the Soviets. They just wanted to help a technologically backward nation. Nice guys, American foreign aid officials. They also just wanted to help a technologically backward nation... the Soviet Union.(...)”

    THE BEST ENEMY MONEY CAN BUY Antony C. Sutton
    http://reformed-theology.org/html/books/best_enemy/index.html

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