Book Review
Acho que nunca tive tanta dificuldade em escrever a minha opinião sobre um livro. Esta será talvez a minha quarta versão deste post e, neste momento em que escrevo, não tenho quaisquer garantias de que não será deitada ao lixo dentro de poucos minutos. Bem, não sentindo capacidade para fazer a crítica, vou tentar analisar o porquê de não a conseguir fazer. Nas versões anteriores, chegava ao final com a sensação de que não estava a passar a imagem correcta ao leitor. Por vezes demasiado benigna, pelo facto de ter tirado um enorme prazer da leitura deste livro, embora soubesse que tem falhas graves. Outras vezes demasiado agressiva concentrando-me nesses momentos de que não gostei perdendo-se a certeza de que estamos perante uma grande obra.
Os últimos livros que li de Antony Beevor deixaram-me extremamente curioso em relação a este autor. A Queda de Berlim 1945 é um livro brilhante e emocionante que nos mostra os últimos dias da guerra e ao qual eu não fui capaz de fazer qualquer crítica negativa. Mais recentemente li Um Escritor na Guerra que nos leva à frente oriental e aos documentos pessoais e públicos de Vasily Grossman, escritor do jornal oficial do Exército Vermelho e que acompanhou algumas das maiores batalhas (da frente Oriental) da segunda guerra mundial. Nestes livros Beevor entrega-se numa imersão de detalhes que nos permite imaginar com grande pormenor a crueldade e fealdade da guerra. Provavelmente começa aqui a primeira crítica que faço a "Segunda Guerra Mundial" de Antony Beevor. O nível de detalhe muda muitíssimo dependendo da batalha. Por vezes sentimos que estamos no meio do acontecimento, enquanto noutras ocasiões estamos apenas a fazer ligações entre os eventos. O Projecto Manhatan é tratado de forma muito breve. A Itália quase desaparece da guerra. A resistência nos diferentes países é em grande parte ignorada. Os aspectos industriais e económicos que, no final de contas, decidiram a guerra tanto quanto o sangue dos homens também são tratados com alguma ligeireza.
Já utilizei anteriormente a expressão "livro demasiado pequeno". Normalmente para demonstrar o quanto gostei de uma obra e da sincera tristeza de o ter acabado. Neste caso, estamos perante um livro duplamente demasiado pequeno. É sem dúvida um livro espectacular e bem escrito, interessante e viciante, desavergonhado nos horrorosos detalhes da guerra e preciso. E por tudo isso não queremos que acabe. Mas também pequeno demais porque de facto 1000 páginas podem ser suficientes para descrever uma batalha, mas não a guerra. Não esta guerra.
No entanto, quando Beevor se entrega a um tema, como acontece em diversos momentos deste livro, o resultado é formidável. Os acontecimentos no Extremo Oriente, entre a China e o Japão, entre os nacionalistas e comunistas chineses, estão muitíssimo bem descritos e colocam esse palco no centro da guerra. Algo que a maioria dos historiadores não fazem, reduzindo muitas vezes estes acontecimentos a menos do que - por exemplo - a campanha do Norte de África. As conferências dos Três Grandes (Teerão, Ialta, Potsdam) são excepcionais e acho que seria capaz de ler mil páginas só dos detalhes dos jogos entre eles. Desde as mistura de brilhantismo e loucura de Churchill que via muito para lá da guerra, mas que ao mesmo tempo fervilhava de ideias absurdas e irrealizáveis, até ao cinismo e genial calculismo de Stalin, até ao pragmatismo e inteligência de Roosevelt. Definitivamente memorável, a descrição de como Truman revela a Stalin que a explosão experimental da bomba atómica tinha sido bem sucedido. Prometo um destes dias fazer um post só sobre essa história.
Por fim, uma nota sobre o livro quando comparado com outras obras com o mesmo título. Ao contrário de outros, este é um livro que se lê directo, do início ao fim. Não é um livro de consulta, para procurarmos pequenos detalhes sobre um determinado período um acontecimento, embora possa ser usado dessa forma. É acima de tudo uma obra para ser lida. Não exige qualquer conhecimento prévio sobre o assunto e não necessita de mapa ou dicionário ao lado. É escrita para toda e qualquer pessoa que esteja interessada em compreender a mais terrivel de todas as guerras. Uma que deve ser lembrada todos os dias, na esperança de que nunca mais se repita.
Acho que nunca tive tanta dificuldade em escrever a minha opinião sobre um livro. Esta será talvez a minha quarta versão deste post e, neste momento em que escrevo, não tenho quaisquer garantias de que não será deitada ao lixo dentro de poucos minutos. Bem, não sentindo capacidade para fazer a crítica, vou tentar analisar o porquê de não a conseguir fazer. Nas versões anteriores, chegava ao final com a sensação de que não estava a passar a imagem correcta ao leitor. Por vezes demasiado benigna, pelo facto de ter tirado um enorme prazer da leitura deste livro, embora soubesse que tem falhas graves. Outras vezes demasiado agressiva concentrando-me nesses momentos de que não gostei perdendo-se a certeza de que estamos perante uma grande obra.
Os últimos livros que li de Antony Beevor deixaram-me extremamente curioso em relação a este autor. A Queda de Berlim 1945 é um livro brilhante e emocionante que nos mostra os últimos dias da guerra e ao qual eu não fui capaz de fazer qualquer crítica negativa. Mais recentemente li Um Escritor na Guerra que nos leva à frente oriental e aos documentos pessoais e públicos de Vasily Grossman, escritor do jornal oficial do Exército Vermelho e que acompanhou algumas das maiores batalhas (da frente Oriental) da segunda guerra mundial. Nestes livros Beevor entrega-se numa imersão de detalhes que nos permite imaginar com grande pormenor a crueldade e fealdade da guerra. Provavelmente começa aqui a primeira crítica que faço a "Segunda Guerra Mundial" de Antony Beevor. O nível de detalhe muda muitíssimo dependendo da batalha. Por vezes sentimos que estamos no meio do acontecimento, enquanto noutras ocasiões estamos apenas a fazer ligações entre os eventos. O Projecto Manhatan é tratado de forma muito breve. A Itália quase desaparece da guerra. A resistência nos diferentes países é em grande parte ignorada. Os aspectos industriais e económicos que, no final de contas, decidiram a guerra tanto quanto o sangue dos homens também são tratados com alguma ligeireza.
Já utilizei anteriormente a expressão "livro demasiado pequeno". Normalmente para demonstrar o quanto gostei de uma obra e da sincera tristeza de o ter acabado. Neste caso, estamos perante um livro duplamente demasiado pequeno. É sem dúvida um livro espectacular e bem escrito, interessante e viciante, desavergonhado nos horrorosos detalhes da guerra e preciso. E por tudo isso não queremos que acabe. Mas também pequeno demais porque de facto 1000 páginas podem ser suficientes para descrever uma batalha, mas não a guerra. Não esta guerra.
No entanto, quando Beevor se entrega a um tema, como acontece em diversos momentos deste livro, o resultado é formidável. Os acontecimentos no Extremo Oriente, entre a China e o Japão, entre os nacionalistas e comunistas chineses, estão muitíssimo bem descritos e colocam esse palco no centro da guerra. Algo que a maioria dos historiadores não fazem, reduzindo muitas vezes estes acontecimentos a menos do que - por exemplo - a campanha do Norte de África. As conferências dos Três Grandes (Teerão, Ialta, Potsdam) são excepcionais e acho que seria capaz de ler mil páginas só dos detalhes dos jogos entre eles. Desde as mistura de brilhantismo e loucura de Churchill que via muito para lá da guerra, mas que ao mesmo tempo fervilhava de ideias absurdas e irrealizáveis, até ao cinismo e genial calculismo de Stalin, até ao pragmatismo e inteligência de Roosevelt. Definitivamente memorável, a descrição de como Truman revela a Stalin que a explosão experimental da bomba atómica tinha sido bem sucedido. Prometo um destes dias fazer um post só sobre essa história.
Por fim, uma nota sobre o livro quando comparado com outras obras com o mesmo título. Ao contrário de outros, este é um livro que se lê directo, do início ao fim. Não é um livro de consulta, para procurarmos pequenos detalhes sobre um determinado período um acontecimento, embora possa ser usado dessa forma. É acima de tudo uma obra para ser lida. Não exige qualquer conhecimento prévio sobre o assunto e não necessita de mapa ou dicionário ao lado. É escrita para toda e qualquer pessoa que esteja interessada em compreender a mais terrivel de todas as guerras. Uma que deve ser lembrada todos os dias, na esperança de que nunca mais se repita.
António quantos anos tem?
ResponderEliminarAcho que é a pergunta mais curiosa que recebi até hoje. Tenho 35 anos. And counting :)
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