quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

As Guerras do Bacalhau

Violenta colisão entre o Navio britânico HMS Yarmouth
 e o navio islandês ICGV Thor em Março de 1976
Confesso que até há pouco tempo nunca tinha ouvido falar das Guerras do Bacalhau[1], entre a Islândia e o Reino Unido. Não sei bem o que me chamou à atenção. Talvez as saudades do bacalhau, que me parecem motivo suficiente para alguém iniciar uma guerra. Ou o facto de Portugal, como grande consumidor de bacalhau não estar envolvido. Ou por ser uma guerra entre dois países democráticos, uma raridade histórica. Se as democracias não se inibem de entrar em guerras e até de as iniciar, não é comum que o façam entre elas. Muito menos entre duas democracias estáveis como a Islândia e o Reino Unido da segunda metade do século XX.

O motivo da guerra foram os direitos de pesca nas águas à volta da Islândia. Os sucessivos aumentos da zona exclusiva islandesa, que foram subindo de 12 milhas marítimas até 200 milhas ao longo de vários anos, causaram consternação nas vilas piscatórias inglesas que dependiam desse peixe. A marinha inglesa, incomparavelmente superior à islandesa não deveria dar qualquer hipótese. No entanto ambos os lados temiam a escalada da violência e ambos jogavam com o facto de saberem que o outro também evitaria essa escalada. Teoria dos Jogos de John Nash no seu melhor.

Felizmente esta guerra não levou quaisquer vidas. Mas nem por isso deixou de ter o seu grau de violência. Os navios abalroaram-se mutuamente causando danos significativos e só por acaso não levaram umas quantas vidas. Pelo meio, a opinião pública dos dois países fazia toda a diferença, a apoio das restantes nações também.

Uma última nota para a coragem deste pequeno país, a Islândia, que não teve medo de fazer frente a uma das grandes potências do mundo. Isso é, aliás, o que voltou a fazer quando foi o primeiro dos países a cair com a crise de 2008. Concorde-se ou não com a decisão que tomaram - a de não salvar os bancos e de não assumir quaisquer dívidas desses bancos em relação ao resto do mundo - a verdade é que foi uma atitude corajosa e com um grau de risco elevadíssimo. Poderiam ter sido excluídos da comunidade internacional, a sua moeda ter deixado de ser aceite e, num país tão dependente do exterior em termos de matérias primas e outros recursos básicos, a hipótese de um desastre total era muito possível. Como em 2008, nas Guerras do Bacalhau, o país uniu-se e lutou com um só. Sem medo. E como em 2008, ganhou.








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