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É sempre um prazer ler Antony Beevor. Já aqui tinha revisto três livros deste autor (Segunda Guerra Mundial, A Queda de Berlim e Um Escritor na Guerra), todos relativos à guerra de 1939-1945 e aos quais praticamente só reservei elogios. Depois de ter detalhado tanto as qualidades deste autor e da sua obra, acho que só me resta dizer que "Stalingrad" é - de longe - o melhor de todos eles. Com o ritmo certo, enorme detalhe, mostra-nos a batalha de Estalinegrado nos vários níveis a que esta se move: entre a vontade férrea dos sanguinários Hitler e Stalin, dispostos a pagar com o sangue dos seus povos qualquer custo necessário para vencer esta batalha; na esfera do simbolismo, já que a cidade tinha o nome do ditador soviético o que leva ambos a sobrevalorizarem uma cidade já sem qualquer valor económico ou militar; das lembranças da gigantesca derrota napoleónica da Grand Armée de 1812 que perdera na invasão da Rússia quase meio milhão de soldados, obrigando o Imperador françês a regressar a Paris com apenas 27 mil soldados e a sua reputação decisivamente manchada; aos amedrontados civis apanhados no meio da mais horrorosa luta porta-a-porta; e aos pobres soldados de ambos os lados a lutar em condições miseráveis sem comida, água ou munições pelos esgotos e caves da cidade, de prédio em prédio até chegarem ao Rio Volga, no que ficou conhecida como a Rattenkrieg (por comparação à Blitzkrieg, guerra-relâmpago, os soldados alemães chamaram a este tipo de luta, "guerra dos ratos").
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Estalinegrado - luta pela fábrica "Outubro Vermelho" a apenas uma centenas de metros do rio Volga |
Em paralelo, em Moscovo, Stalin permitiu ao seu general estrela, Georgy Zhukov a preparação de uma grande ofensiva de inverno sobre Von Paulus. Ao contrário do que era seu hábito, Stalin não tentou interferir exageradamente e aceitou a necessidade de algo diferente da habitual táctica de carne-para-canhão, com que os alemães tinham sido recebidos. Até aí, centenas de milhares de tropas soviéticas, mal preparadas, mal armadas, muitas vezes sem armas suficientes para toda a gente, eram atiradas contra as linhas da frente em missões quase suicidas contra os exércitos do Eixo. Torna-se então comum a existência de uma segunda linha soviética que disparava contra os que procurassem voltar atrás e uma política de terror fora implementada contra aqueles que desertassem (as suas famílias eram perseguidas e os seus colegas próximos ou superiories hierárquicos responsabilizados pela deserção).
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Ju-87 Stuka depois de uma ataque a Estalinegrado |
Desta vez, Exército Vermelho prepararam-se como nunca tinham feito, juntando enormes números de soldados devidamente acompanhados da força aérea e dos modernos tanques T-34 (o seu design em curva tornava a sua blindagem muito superior a tanques do mesmo nível e as suas lagartas mais largas adaptava-se aos difíceis terrenos das estepes semi-congelada). Juntamente vinham também as unidades especializadas de atiradores furtivos, as super-estrelas do exército soviético e as tropas siberianas, com o seu equipamente camuflado branco e altamente treinadas para lutar no gelo e na neve.
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Operação Uranus |
No dia 19 de Novembro de 1942, inicia-se a operação Uranus, com um movimento a Norte e outro a Sudeste, com as forças a juntarem-se no rio Don (a leste do Volga), deixando os alemães e seus aliados sem capacidade de receber mantimentos, gasolina ou munições. Depois das irresponsáveis ordens para utilizar as tripulações de tanques em combates de infantaria urbanos, o exército alemão vê-se envolvido por um movimento em profundidade sem ter qualquer capacidade de resposta. Muita da sua artilharia pesada teve que ser abandonada já que as centenas de milhares de cavalos que os puxavam tinham sido levados mais para ocidente, para facilitar a logística da sua alimentação. Von Paulus mostra nessa altura a sua incapacidade. Não estava preparado para esta ofensiva. Não teve iniciativa para lhe responder adequadamente e limitou-se a fechar posições e esperar pelo futuro. A rápida actuação de Richthofen, da Luftwaffe, com os seus bombardeiros de precisão Stukas Ju-87 conseguiu dar alguma ajuda aos exércitos romenos mas foi pouco e demasiado tarde. O futuro do 6º Exército parecia estar selado.
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Von Paulus (à direita) a ser interrogado pelo Gen. Rokossovsky e Marshal Voronov (primeiro e segundo a contar da esquerda) |
Stalingrado fica para a história como uma das maiores importantes batalhas da história e duvido seriamente que alguém, alguma vez, a contará melhor do que Antony Beevor. Depois de tamanho livro, não sei que mais esperar deste historiador inglês, mas será difícil voltar a estar ao mesmo nível. Talvez seja esta a única crítica a fazer a um livro perfeito: a esperança de voltar a encontrar outro do mesmo nível é mínima e nunca mais terei o prazer de ler este livro pela primeira vez. O que, obviamente, aconselho vivamente a todos os que me acompanham.
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