Ainda os restos mortais dos infelizes jornalistas da magazine francesa Charlie Hebdo não tinham esfriado, já o aproveitamento político por parte das mais variadas forças políticas se tinha iniciado.
A direita europeia mais islamófoba viu neste ataque terrorista a prova final de que o Islão é contra a liberdade de expressão e que não passa de uma religião violenta sem qualquer respeito pela diferença, pela crítica e até pela sátira. Durante os próximos dias, o habitual circo mediático irá provavelmente levar a mais ou menos dissimulados pedidos de guerra, imigração limitada e baseada em racial profiling, e novas explosões de nacionalismo que certamente beneficiará a extrema direita.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram estes terroristas como fieis representantes dos mil milhões de muçulmanos do mundo, escolhem não reparar nas vítimas muçulmanas. Neste atentado, por coincidência, um dos polícias que faleceu era Ahmed Merabet, françês muçulmano, baleado e depois executado a sangue frio. Em toda a violência do extremismo islâmico, as vítimas em maior número são precisamente os muçulmanos como demonstram os estudos intensivos do programa START (GTD - Global Terrorism Database) da Universidade de Maryland, o maior nesse campo. No Iraque, Argélia, Líbia, Síria, Yemen, Nigéria, Somália, Afeganistão, Paquistão e tantos outros são os muçulmanos as principais vítimas de organizações como o ISIS, Al Qaeda, Taliban, Boko Haram, Al Shabab e muitos outros. No entanto, no Ocidente preferimos sempre considerar os criminosos como representativos destas sociedades, e não as suas vítimas.
Do outro lado, a esquerda radical europeia não se comporta melhor, vendo sempre apenas o contexto e procurando a absoluta desresponsabilização do indivíduo. A pitoresca Ana Gomes, deputada socialista portuguesa no Parlamento Europeu, partilhou imediatamente um tweet responsabilizando as políticas europeias de austeridade por este acontecimento. Considerar que jovens franceses, que vivem com um estado social e protecção política, religiosa e económica como têm em França, são empurrados para um acto destes pela força da crise é um absurdo. O que eles fizeram não é um acto de desespero de quem não tem saídas, mas sim uma escolha muito clara do que querem para si e para o seu país.
Mas acima de tudo, este foi um ataque à liberdade de imprensa, de opinião e de pensamento. E é aí que temo que serão causados grandes danos. Numa escala diferente o 11 de Setembro mostrou-nos como uma unanimidade global de solidariedade foi rapidamente utilizada para lançar guerras, reduzir direitos civis e até legitimar tortura. Aos 3000 mortos iniciais, somaram-se centenas de milhares de outros no Afeganistão e no Iraque durante mais de uma década, num processo que ainda não finalizou.
Quanto a mim, o único tributo que possa realmente prestar a estes jornalistas e aos polícias que morreram tentando defendê-los é continuar a escrever a minha opinião de forma livre, quer agrade quer desagrade aos meus leitores, e esperar que aqueles que diariamente espalham ódio, vingança e ameaças nestas páginas possam um dia encontrar paz no coração e liberdade no pensamento.
A direita europeia mais islamófoba viu neste ataque terrorista a prova final de que o Islão é contra a liberdade de expressão e que não passa de uma religião violenta sem qualquer respeito pela diferença, pela crítica e até pela sátira. Durante os próximos dias, o habitual circo mediático irá provavelmente levar a mais ou menos dissimulados pedidos de guerra, imigração limitada e baseada em racial profiling, e novas explosões de nacionalismo que certamente beneficiará a extrema direita.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram estes terroristas como fieis representantes dos mil milhões de muçulmanos do mundo, escolhem não reparar nas vítimas muçulmanas. Neste atentado, por coincidência, um dos polícias que faleceu era Ahmed Merabet, françês muçulmano, baleado e depois executado a sangue frio. Em toda a violência do extremismo islâmico, as vítimas em maior número são precisamente os muçulmanos como demonstram os estudos intensivos do programa START (GTD - Global Terrorism Database) da Universidade de Maryland, o maior nesse campo. No Iraque, Argélia, Líbia, Síria, Yemen, Nigéria, Somália, Afeganistão, Paquistão e tantos outros são os muçulmanos as principais vítimas de organizações como o ISIS, Al Qaeda, Taliban, Boko Haram, Al Shabab e muitos outros. No entanto, no Ocidente preferimos sempre considerar os criminosos como representativos destas sociedades, e não as suas vítimas.
Do outro lado, a esquerda radical europeia não se comporta melhor, vendo sempre apenas o contexto e procurando a absoluta desresponsabilização do indivíduo. A pitoresca Ana Gomes, deputada socialista portuguesa no Parlamento Europeu, partilhou imediatamente um tweet responsabilizando as políticas europeias de austeridade por este acontecimento. Considerar que jovens franceses, que vivem com um estado social e protecção política, religiosa e económica como têm em França, são empurrados para um acto destes pela força da crise é um absurdo. O que eles fizeram não é um acto de desespero de quem não tem saídas, mas sim uma escolha muito clara do que querem para si e para o seu país.
Mas acima de tudo, este foi um ataque à liberdade de imprensa, de opinião e de pensamento. E é aí que temo que serão causados grandes danos. Numa escala diferente o 11 de Setembro mostrou-nos como uma unanimidade global de solidariedade foi rapidamente utilizada para lançar guerras, reduzir direitos civis e até legitimar tortura. Aos 3000 mortos iniciais, somaram-se centenas de milhares de outros no Afeganistão e no Iraque durante mais de uma década, num processo que ainda não finalizou.
Quanto a mim, o único tributo que possa realmente prestar a estes jornalistas e aos polícias que morreram tentando defendê-los é continuar a escrever a minha opinião de forma livre, quer agrade quer desagrade aos meus leitores, e esperar que aqueles que diariamente espalham ódio, vingança e ameaças nestas páginas possam um dia encontrar paz no coração e liberdade no pensamento.
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