sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Um dia difícil

Book Review

Bin Laden, sheikh saudita considerado responsável pelos atentados de 11 de Setembro está morto. Desde essa data, foi alvo da maior caça ao homem alguma vez feita. Escrito por um dos Navy Seals que levaram a cabo a operação que levou à sua morte em 2 de Maio de 2011, "Um dia difícil" (No Easy Day) é uma brilhante história de acção que inevitavelmente se tornaria num filme. Esse filme está agora para sair, sob o título de "A hora mais escura" (Zero Dark Thirty) e já é apontado como favorito para os óscares de 2013[1].

Este livro publicado pela Vogais (que gentilmente disponibiliza online as primeiras 23 páginas do livro)[2], foi escrito em nome de Mark Owen, um pseudónimo de Matt Bissonet.

O livro mantém um ritmo muito interessante e é, acima de tudo, um tributo aos Seals e ao trabalho de equipa. Aparentemente o livro causou bastante incómodo ao nível das chefias militares americanas, e recentemente o programa 60 Minutes da CBS conseguiu uma entrevista com este militar, entretanto retirado.

Para ser sincero, acho que a minha maior curiosidade em relação a este livro está relacionada com a eventualidade de um crime de guerra na operação que levou à morte de Bin Laden. Na entrevista à NBC, Bissonet diz claramente que o objectivo não era a morte do saudita, mas a sua captura[3]. No entanto, no livro ele acaba por dizer algo ligeiramente diferente, onde é dado a entender que não existe qualquer expectativa de que Bin Laden sobreviva à missão. Na página 194 podemos ler o seguinte relato:

Perto do fim, alguém perguntou se a missão era de captura ou de morte. Um advogado do Departamento de Defesa ou da Casa Branca salientou que não era para ser assassinato.

«Se estiver nu, com as mãos para cima, ninguém deve entrar em conflito com ele», disse o advogado. «Não sou eu quem vos vai dizer como devem fazer o vosso trabalho. O que estamos a tentar dizer é que, se ele não representar uma ameaça, os senhores deverão apenas detê-lo»

Chega a ser desesperante o modo defensivo como a resposta é dada. Claramente pensada para um julgamento posterior e para o julgamento da história. Mas sejamos claros. Se estiver nu, com as mãos para cima? Mas isto é um cenário realista? O que está a ser dito aqui é que a partir do momento em que Bin Laden tenha umas cuecas vestidas já pode ser considerado uma ameaça. E acrescenta "Não sou eu quem vos vai dizer como devem fazer o vosso trabalho".

Obviamente, Osama Bin Laden não será certamente alguém que deixe saudades. Fanático, terrorista, homem que não olhava a meios para conseguir os seus fins lunáticos era no entanto um homem vazio de poder e alguém que parecia ter muito mais facilidade em convencer os outros a serem mártires do que ele próprio a fazê-lo. No entanto, a justiça deve ser cega.

Há um ano atrás escrevi sobre o comentário do procurador do ICC (International Criminal Court) Luis Moreno-Ocampo que falava da possibilidade da morte de Khaddafi depois de ser capturado poder ser um crime de guerra[4]. Na altura perguntei porque motivo o ICC não comenta também a morte de Bin Laden? Ou será que Khadaffi, no momento da sua morte ainda era uma ameaça aos seus captores porque ainda tinha as calças vestidas?




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