sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Síria... serei o único?

Será que sou mesmo a única pessoa que acha altamente suspeito que uns dias depois de o Governo Sírio permitir a entrada de inspectores da ONU no seu território com o propósito específico de verem se algum dos lados está a utilizar armas químicas, que o mesmo governo faça um ataque em larga escala com essas mesmas armas?

Serei o único a achar que antes sequer de se saber qual dos lados as utilizou - se é que algum as utilizou - não se pode avançar com um invasão internacional contra o que foi decidido pela ONU?

Serei o único a achar que se Assad é um déspota sem moral que os fundamentalistas islâmicos que compõe uma parte significativa da oposição são ainda piores?

Eu não sou contra todo e qualquer ataque. Acho mesmo que a ONU e a NATO têm que ser os "polícias do mundo", até que se arranje algo melhor. Mas isso não significa certamente prisões secretas, Guantánamos, ataques com drones em países aliados (como o Yemen e o Paquistão) e invasões em larga ou pequena escala por motivos obscuros e que constantemente tem-se provado errados e contra-producentes.

Depois do Iraque, temos todos não só o direito mas também a obrigação de partirmos do princípio de que o governo americano nos mente a toda a linha. E em relação aos restantes governos, provavelmente a situação será tão má ou pior.

A situação na Síria é péssima, mas tem potencial para piorar muito mais...


Bairro de Al Khalydia, Cidade de Homs, Síria, Março 2012 [Reuters/Yazan Homsy]

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Bomber Boys - documentário



Um ano depois de The Battle of Britain, os irmãos McGregor regressam com um novo documentário da BBC sobre a segunda guerra mundial. Desta vez sobre o Bomber Command, a parte da Royal Air Force que durante a guerra se dedicou ao bombardeamento estratégico da Alemanha e seus aliados.

A história vê estes dois lados da RAF de forma muito diferente: Os aviadores do Fighter Command ficam como os grandes heróis da Batalha da Grã-Bretanha, os "poucos" que Churchill elevou ao estatuto de semi-deuses e de eternos símbolos do sacrifício pelo Império Britânico. O Bomber Command[1] pelo seu lado foi rapidamente esquecido e durante 70 anos não teve qualquer estátua ou símbolo de reconhecimento. As suas tripulações sofreram a maior das taxas de mortalidade de todas as forças armadas britânicas e morreram às dezenas de milhares sobre os céus da europa ocupada. O motivo deste esquecimento não é inocente. Os Lancasters ingleses causaram centenas de milhares de mortes civis, usaram armas de destruição em larga escala e devastaram cidades a um nível como nunca tinha sido visto.
Sir Arthur Harris
Air Chief Marshal do Bomber Command

O líder do Bomber Command, Sir Arthur Harris[2], defendeu até ao final da sua vida que os ataques sobre civis, com o propósito explícito de matar o máximo de civis possíveis era legítimo e desejável. Que numa "Guerra Total" não existem civis porque são estes que produzem as armas do inimigo. Desta forma todos os alvos, todas as cidades, universidades, fábricas e campos de cultivo tornam-se automaticamente alvos a abater.

A verdade é que os Bomber Boys, foram extremamente úteis durante a guerra. Trouxeram à Alemanha um nível de destruição nunca visto. Causaram enormes dificuldades na movimentação, produção de bens civis e militares. Mataram centenas de milhares de trabalhadores, civis e prisioneiros de guerra. Bloquearam a indústria, os serviços, a burocracia e a agricultura do III Reich. Mas estes aviadores foram também um embaraço depois desta. Fizeram o trabalho sujo dos seus líderes e no final descartados e atirados para o esquecimento. Mas o que fizeram, não pode ser descrito de outra forma senão como crimes de guerra.




terça-feira, 6 de agosto de 2013

The Battle of Britain - documentário



Ewan McGregor[1], conhecido actor escocês que entrou em filmes como Trainspotting[2] e Star Wars[3] apresenta-nos com o seu irmão Colin, piloto da Royal Air Force, este documentário sobre a Batalha de Inglaterra. The Battle of Britain[4], mostra-nos com bastante detalhe o ponto de vista dos pilotos britânicos sobre a espectacular batalha. Sobre esta, Churchill proclamou a famosa frase: Nunca, na história dos conflitos humanos, tantos deverão tanto a tão poucos. São estes few as estrelas deste documentário da BBC. 

Finda a Batalha de França, em 1940, com uma retumbante vitória para Hitler e um inesperado colapso da França, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, inicia-se em Julho do mesmo ano a Batalha da Grã-Bretanha[5] (ou, como é geralmente conhecida em Portugal, a Batalha de Inglaterra). Depois da humilhante, mas extremamente bem sucedida, retirada do BEF (Força Expedicionária Britânica) de Dunquerque em França, o Reino Unido encontrava-se enfraquecido, sem uma força aérea ou um exército que pudessem contrabalançar o poderio alemão. A sua marinha, a Royal Navy, era nesta altura a mais poderosa da Europa, mas sem um controlo dos céus seria dificil controlar o canal da Mancha. E mesmo essa vantagem poderia estar em risco se a Kriegsmarine tomasse o controlo da força naval francesa, depois da capitulação gaulesa. 
A Batalha da Grã-Bretanha

Cabia portanto a uns poucos e inexperientes pilotos a última defesa da ilha, contra uma Luftwaffe altamente treinada e que já tinha desfeito em pedaços metade das forças aéreas europeias. A estes juntou-se uma brilhante organização que com os mais modernos radares, centenas de telefonistas e dezenas de milhares de observadores com binóculos conseguiram criar um conjunto de vantagens que seriam decisivos na batalha. 

Durante meses os dois lados lutaram avidamente pelos céus do sul de Inglaterra. Milhares morreram dos dois lados. Muitos mais civis perderam a vida quando Hitler e Churchill mudaram os alvos dos seus bombardeiros de alvos militares para alvos civis.
Colin e Ewan McGregor

Faço uma crítica a este documentário. A mesma que fiz a muitos outros sobre o mesmo assunto e até ao filme "Battle of Britain" de 1969 cujo artigo espero escrever em breve: a Operação Sea Lion[6], a invasão do Reino Unido por parte da Alemanha, nunca esteve tão próxima de acontecer como nos gostam de fazer crer. A Alemanha não tinha nem nunca teve um exército preparado para isso. Nunca teve um número de lanchas de desembarque significativo. Para além disso, Hitler e o alto comando Nazi consideravam que o seu espaço natural seria o leste, a abertura dos territórios entre a Alemanha e os montes Urais.