Trago-vos hoje mais um livro sobre o Médio Oriente. E mais uma vez de um historiador britânico, embora este seja uma estreia neste blogue: Sir Lawrence Freedman, professor de Estudos de Guerra no King's College London e assessor de Tony Blair. "A Choice of Enemies, America confronts the Middle East" olha para os últimos 50 anos de diplomacia americana no Médio Oriente, do ponto de vista ocidental, i.e. dos seus interesses, medos e ambições. O livre é extremamente frio e em alguns sentidos verdadeiramente amoral, o que é sempre uma forma interessante de olhar para a história. E extremamente difícil de fazer quando nos referimos à história recente.
Se muitos dos livros que aqui trago têm o objectivo explícito de dar a conhecer ao meu público ocidental o que é o Médio Oriente, o Islão e a história deste lugar onde passei praticamente toda a última década, neste caso o livro ajuda a compreender não o Médio Oriente mas as acções dos Estados Unidos. Ao analisar com grande detalhe os processos de decisão norte americanos, o livro consegue também explicar as diferentes personalidades que lideraram a América e os impactos que cada um teve neste mundo. Desde a moralidade e religiosidade de Jimmy Carter à praticalidade de Ronald Reagan; do fim da história de George H. W. Bush até à indiferença de Bill Clinton. E, claro, o atoleiro em que todo o Médio Oriente entrou com a invasão de George W. Bush e Tony Blair (o livro foi publicado em 2008 por isso já não inclui a presidência de Barack Obama).
Se há uma crítica que lhe faço é relativa aos últimos capítulos do livro, onde Freedman parece adivinhar um futuro para o Médio Oriente que está longe de se ter realizado. Onde ele vê um definhamento do movimento islamita, um golpe de morte na AQAP (Al Qaeda Arabian Peninsula) e na Al Qaeda Iraque (hoje Estado Islâmico / ISIS / ISIL) a realidade mostrou-nos que o seu poder só tinha por onde crescer. Também não viu a necessidade e a vontade de liberdade e democracia no Médio Oriente, que acabou dois anos depois no fim dos regimes da Tunísia, Egipto, Iémen e Líbia, para além de sérias convulsões e guerras civis em vários outros países da região, no que ficou conhecido como a "Primavera Árabe".
Mas talvez a melhor parte do livro está na descrição das diferentes formas como as administrações americanas lidaram com a questão israelo-palestiniana. Como tentaram, sem grande sucesso, as soluções passo-a-passo (ou seja, tentanto que ambos os lados fossem ganhando a confiança um do outro através de pequenas melhorias na situação geral em termos de segurança, liberdade e representatividade) para as comprehensive solutions que procuram negociar todos os detalhes do problema, permitindo que cada um dos lados pudesse sacrificar áreas importantes por outras vitórias. No final, nunca nenhum resultou. Por muita vontade que alguns dos presidentes americanos tivessem, por muito tempo e dinheiro que investissem, quer do lado de Israel quer da Palestina, existiram sempre demasiados fundamentalistas decididos a destruir qualquer hipótese de paz. Enquanto alguns líderes lutavam pela paz, outros estavam decididos a destruí-la. E ao fim de todas estas décadas, a situação não está melhor e é apenas uma questão de tempo até vermos mais uma intifada, mais uma guerra curta de tipo corta-relva ou mais uma escalada regional generalizada.
Em qualquer caso, este é um livro verdadeiramente sério, que não exige qualquer conhecimento aprofundado prévio e que deve agradar quer a especialistas quer aos que estejam a ler sobre o assunto pela primeira vez. Mais um livro que aconselho, não tanto para compreendermos a história recente do Médio Oriente, mas mais para compreendermos o seu futuro próximo.
Se muitos dos livros que aqui trago têm o objectivo explícito de dar a conhecer ao meu público ocidental o que é o Médio Oriente, o Islão e a história deste lugar onde passei praticamente toda a última década, neste caso o livro ajuda a compreender não o Médio Oriente mas as acções dos Estados Unidos. Ao analisar com grande detalhe os processos de decisão norte americanos, o livro consegue também explicar as diferentes personalidades que lideraram a América e os impactos que cada um teve neste mundo. Desde a moralidade e religiosidade de Jimmy Carter à praticalidade de Ronald Reagan; do fim da história de George H. W. Bush até à indiferença de Bill Clinton. E, claro, o atoleiro em que todo o Médio Oriente entrou com a invasão de George W. Bush e Tony Blair (o livro foi publicado em 2008 por isso já não inclui a presidência de Barack Obama).
Se há uma crítica que lhe faço é relativa aos últimos capítulos do livro, onde Freedman parece adivinhar um futuro para o Médio Oriente que está longe de se ter realizado. Onde ele vê um definhamento do movimento islamita, um golpe de morte na AQAP (Al Qaeda Arabian Peninsula) e na Al Qaeda Iraque (hoje Estado Islâmico / ISIS / ISIL) a realidade mostrou-nos que o seu poder só tinha por onde crescer. Também não viu a necessidade e a vontade de liberdade e democracia no Médio Oriente, que acabou dois anos depois no fim dos regimes da Tunísia, Egipto, Iémen e Líbia, para além de sérias convulsões e guerras civis em vários outros países da região, no que ficou conhecido como a "Primavera Árabe".
Mas talvez a melhor parte do livro está na descrição das diferentes formas como as administrações americanas lidaram com a questão israelo-palestiniana. Como tentaram, sem grande sucesso, as soluções passo-a-passo (ou seja, tentanto que ambos os lados fossem ganhando a confiança um do outro através de pequenas melhorias na situação geral em termos de segurança, liberdade e representatividade) para as comprehensive solutions que procuram negociar todos os detalhes do problema, permitindo que cada um dos lados pudesse sacrificar áreas importantes por outras vitórias. No final, nunca nenhum resultou. Por muita vontade que alguns dos presidentes americanos tivessem, por muito tempo e dinheiro que investissem, quer do lado de Israel quer da Palestina, existiram sempre demasiados fundamentalistas decididos a destruir qualquer hipótese de paz. Enquanto alguns líderes lutavam pela paz, outros estavam decididos a destruí-la. E ao fim de todas estas décadas, a situação não está melhor e é apenas uma questão de tempo até vermos mais uma intifada, mais uma guerra curta de tipo corta-relva ou mais uma escalada regional generalizada.
Em qualquer caso, este é um livro verdadeiramente sério, que não exige qualquer conhecimento aprofundado prévio e que deve agradar quer a especialistas quer aos que estejam a ler sobre o assunto pela primeira vez. Mais um livro que aconselho, não tanto para compreendermos a história recente do Médio Oriente, mas mais para compreendermos o seu futuro próximo.
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