sábado, 4 de fevereiro de 2012

Portugal e a monarquia

Uma ou outra vez por ano, o cidadão Duarte de Bragança aparece para dar um ar de sua graça. Desta vez temos um documento com o nobre título de "Manifesto: Instaurar a Democracia, Restaurar a Monarquia". Um conjunto de portugueses defendem neste manifesto que o regresso a um sistema monárquico ajudaria a fortalecer a democracia, a moral na política e ainda a justiça e a independência em relação às "mais diversas forças de influência".

Ninguém nega que Portugal atravessa tempos difícieis criados por factores internos estruturais e tornados muito mais complicados pelos factores externos da crise internacional económica e financeira. O que estes subscritores não nos conseguem explicar claramente é como é que um Rei poderia influenciar qualquer um desses eventos. Ou tem poder e então não podem afirmar-se "democratas de sempre", ou estará vazio de poder e então a sua actuação será inútil.

Todas as monarquias são facadas nas costas da democracia. Mesmo que não tenham qualquer poder governativo ou legislativo, são sempre pessoas que não nascem iguais às restantes. Hoje, eu posso manter o sonho de vir a ser chefe de estado de Portugal. Se estes senhores conseguirem os seus propósitos, eu perderei esse direito sem que nada me possa garantir que a escolha para o lugar será melhor do que eu próprio. Bem, se me propuserem para Rei eu talvez passe a apioar a monarquia. Talvez...

Outra questão é obviamente a legitimidade. A seguinte frase do manifesto é particularmente interessante e toca ao de leve sobre este assunto:

"(...) torna-se urgente uma chefia de estado independente e supra-partidária. Isto só pode ser garantido, zelado e velado por um chefe de estado eleito pela história."

Não sei bem o que significa a questão de ser eleito pela história. Imagino que não seja uma espécie de sufrágio universal mas com um ligeiro truque onde apenas os que têm uma licenciatura em história têm voto.  Eu até leio bastantes livros de história, será que me vão chamar à discussão? De qualquer forma, a legitimidade do Rei deixou de ser divina para ser histórica. Interessante... possivelmente estarão a apelar ao apoio das forças seculares. De qualquer forma a divina fazia mais sentido. É que quando alguém tem legitimidade divina para fazer qualquer coisa, já não é preciso explicar mais nada. É uma questão de fé. Assim fica mais complicado porque a História é uma ciência a sério, cheia de factos, testemunhas, contradições e buracos.

Um outro detalhe da mesma brilhante frase é sobre o chefe de estado ser suprapartidário. Isso já existe actualmente, e o facto de os votantes terem consistentemente votado em ex-políticos mesmo quando alternativas da sociedade civil também estavam a votos, mostra que essa "urgência" dos monárquicos é profundamente anti-democrática porque é a vontade de uma minoria contra a expressa vontade da maioria.

Tenho muita curiosidade sobre o que aconteceria depois em relação ao resto da corte. Quantos barões, condes, duques e demais nobres teria o país que sustentar e aturar? Ou todos estes apoiantes que guardam religiosamente as cartas comprovativas do seu sangue azul vão simplesmente continuar a sua vida como se nada fosse?

Sobre a pessoa em causa, Duarte de Bragança, tenho apenas um ponto que gostaria de referir: 

Um conselho aos monárquicos: façam um referendo quando quiserem, mas eu se calhar esperava por um pretendente que tivesse mais carisma junto do povo português. Neste momento a derrota é assegurada e ninguém vos permitirá ganhar o lugar sem um referendo claro. Depois têm que nos explicar o processo exacto de expulsão no caso de mais tarde o povo português se arrepender.

Por fim vejo somente uma única coisa que poderiam lutar por: a bandeira. Gosto mais da bandeira azul e branca do tempo da monarquia. E mesmo isso... se calhar é porque sou adepto do F.C.Porto.  

2 comentários:

  1. Ola

    Bem eu descobri este link quando ia a comentar no expresso, bem quanto à minha opinião é o seguinte, a diferença entre a monarquia e República e muito simples, na republica somos nos que decidimos quem é que nos vai roubar durante 4 anos e na Monarquia não podemos escolher ou eleger (conforme o vosso contexto) mas apenas submeter à mesma pessoa que nos vai roubar para quase uma vida inteira....estou a brincar,em Portugal nunca houve uma liderança capaz de fazer o que quer que seja retirando o Salazar que fez umas ''coisitas'' mas a mentalidade Dele era tão pequena que decidiu provocar a guerra colonial e gastar todo aquilo que tinha ganho principalmente durante a 2º guerra mundial ao invés de investir na industria.
    Durante este tempo todo as nossas lideranças foram uma autentica m***a para não dizer outra palavra, a realidade é dura nua e crua não existe um homem ou mulher com o minimo de consiencia social, depois dá nisto.

    Cumps aí para o pessoal.

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    1. Bem-vindo ao Rei Vai Vestido

      A diferença nos resultados, de facto não será muita. Mas na questão da legitimidade acho que a república consegue uma vantagem muito grande.

      Mas mais do que tudo, acho que o direito de lhes darmos um pontapé para fora do trono de x em x anos é o verdadeiro objectivo da república.

      Os melhores cumprimentos, esperamos vê-lo por aqui mais vezes.

      António

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