Costumamos dar por garantido que a tecnologia avança sempre no mesmo sentido, para o futuro. Mas a verdade é que nem sempre isso acontece e há muito que já se soube e que se perdeu, e muitas outros conhecimentos que se perderam para serem redescobertos séculos ou milénios mais tarde.
Ainda hoje nos peguntamos como no antigo Egipto se conseguiram transportar e colocar no lugar as grandes pedras que compõe o topo das pirâmides com a tecnologia que sabemos que tinham na época. A resposta é simples: eles tinham tecnologias que nós não sabemos que eles tinham. Se, hoje, dessem aos melhores engenheiros do mundo milhares de escravos e as matérias primas dessa época eles não conseguiriam construir a grande Pirâmide de Gizé. Agora imaginemos o que poderíamos fazer com esse pequeno pedacinho de tecnologia associado aos materiais modernos e a tudo o resto que aprendemos entretanto.
Noutros casos, o breakthrough foi conseguido mas ninguém se aperceu da utilidade da nova invenção. Na Grécia Antiga, Hero de Alexandria constrói o primeiro motor a vapor - o Aeolipile - mas não obstante o espectáculo causado pela prova de conceito, ninguém tentou utilizar a ideia para bombear água, criar movimento numa carruagem ou navio ou criar máquina de tecelagem até um milénio e meio depois.
Num artigo anterior partilhei a história do Ekranoplano, uma maravilha da era soviética destruído pelo conservadorismo da (então) recém chegada liderança de Bresnev ao Partido Comunista da URSS. Uma tecnologia que depois de ter conseguido dar os primeiros e mais difíceis passos foi deixada ao abandono. Embora existam presentemente algumas ideias para a reavivar, e mesmo com uma corrida ao armamento que é mantida discreta aos olhos do público, não é provável que o veremos a atravessar os nossos mares nas próximas décadas.
Hindenburg, os últimos segundos |
Muitos anos depois, voltamos a ver uma situação em tudo semelhante. O Concorde, orgulho da indústria aeronáutica europeia, o avião comercial mais rápido do mundo sofre um acidente a descolar do aeroporto Charles de Gaulle. Mais uma vez, um acidente, uma imagem que choca o mundo e mais um caminho que se transforma num beco sem saída. Deixa saudades aos amantes da aviação, da tecnologia e dos poucos que tiveram o previlégio de nele voarem. Em substituição... nada. Há 20 anos atrás era possível fazer Londres a Nova York em poucas horas, hoje não. O que deveria ser uma tecnologia que acabaria por se tornar comum a todo o público, tornou-se numa lembrança de tempos idos.
Shuttle, a última viagem |
Por fim, o Space Shuttle, obra prima da NASA e da superioridade tecnológica americana usado até ao limite durante três décadas e finalmente abandonado. Ao todo 135 lançamentos dos quais um (Challenger) explodiu na decolagem e outro (Columbia) na reentrada. E novamente, sem ninguém que o substitua nem no programa espacial americano, nem em nenhum outro.
O avanço tecnológico é doloroso, cheio de falhanços e esforços inglórios. Repleto de heróis e vítimas. A qualidade de vida que temos hoje, a nossa esperança de vida, a economia global e o conhecimento acessível a um cada vez maior número de pessoas é resultado directo desses avanços. Mas nada nos garante que um dia não haverá uma nova idade média, talvez provocada pela má utilização dessas mesmas tecnologias. E nessa altura, muitos olharão para os mais estranhos artigos arqueológicos e perguntarão: como é que foi possível eles construirem isto?