Um artigo do Público de 16.02.2012 de Itamar Rabinovich, presenteia-nos com a habitual teoria de atacar o Irão antes que eles mandem uma bomba nuclear em cima de todos nós.
Chamo a atenção para alguns pormenores:
"Isto foi instigado em parte pela descoberta da Agência Internacional de Energia Atómica, em Novembro de 2011, de que o Irão está de facto a desenvolver uma arma nuclear, e que está a ficar perigosamente perto de atravessar a “linha vermelha”"
Este professor universitário de Tel Aviv e Nova York e antigo embaixador de Israel nos EUA sabe tão bem como eu que o único documento que foi utilizado pela agência era anónimo, sem data, com erros de Farsi e - segundo os próprios - obtidos a partir de... Israel!
Escrevi sobre esse assunto no mês passado: http://oreivaivestido.blogspot.com/2012/01/e-agora-e-o-irao.html
Outro parágrafo terrivelmente interessante diz o seguinte:
"O actual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem estado menos preocupado que Sharon sobre o papel apercebido de Israel. Está muito ocupado a empenhar-se directamente na tentativa de eliminar a ameaça mortífera que um Irão com armas nucleares colocaria ao estado judeu"
Gosto sempre quando falam da "ameaça mortífera". Um único estado no médio oriente tem armas nucleares, que é Israel. Esse mesmo estado já invadiu em dezenas de ocasiões o Líbano, Palestina, Síria, Egipto e Jordânia. Para além disso, o senhor Itamar sabe sem margem para dúvida que uma bomba nuclear atirada em cima de Israel causaria tantas vítimas árabes muçulmanas como judias. Mais de um milhão de pessoas no território de Israel são árabes muçulmanos (embora não tenham cidadania israelita) e a distância entre Ramallah e Jerusalém é inferior ao raio de acção de uma bomba nuclear.
Eu não tenho qualquer prazer em ver mais um estado com bombas atómicas. Muito menos um estado liderado por um louco como é o caso do Irão. Mas isso não significa que dou carta branca a quem quiser mais uma guerra lunática no médio oriente causando mais umas centenas de milhares de mortos sem qualquer prova.
http://www.publico.pt/ProjectSyndicate/Itamar%20Rabinovich/a-globalizacao-da-ameaca-nuclear-iraniana-1534087
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Estado Judeu e Democrático
Uma das mais comuns e aceites frases relativas ao conflito Israelo-Árabe é que os árabes devem aceitar que Israel é um país democrático e judaico.
Eu sei o que é uma democracia: direito de escolha dos governantes, lei acima de todos os cidadãos e igual para todos, liberdade religiosa, liberdade de opinião, etc. No entanto não sei o que seria se Portugal fosse um país democrático e cristão. Será que eu perderia a cidadania se me tornasse oficialmente ateu ou me convertesse a outra religião? Será que não teria direito a cidadania mesmo que a minha família vivesse na mesma rua há 20 gerações? Será que qualquer cristão do mundo poderia entrar em Portugal e obter cidadania imediata? Que o nosso exército era constituído por cristãos de todo o mundo como se a defesa nacional e o ataque aos nossos vizinhos fosse uma nova cruzada?
Pois é precisamente isto que se passa em Israel: Qualquer judeu de qualquer parte do mundo recebe cidadania imediata, mas uma família cristã ou muçulmana que lá tenha vivido desde tempos imemoriais não o consegue.
O serviço militar obrigatório (para homens e mulheres) coloca de lado os muçulmanos mas aceita estrangeiros desde que sejam judeus. Existem algumas excepções, como os druze (que lutaram ao lado dos sionistas durante a guerra da independência) e os beduínos do Negev (o que não lhes tem servido de muito porque estão a ser sistematicamente expulsos da suas terras). Sobre este assunto aconselho a visualização do corajoso documentário do israelita Haim Yavin.
Por estes motivos, aceito Israel como um estado democrático e espero que atinjam esse objectivo o mais cedo possível por oposição ao actual estado de Apartheid. Mas isso significa ter todo o seu povo representado no Knesset, independentemente da sua religião, etnia ou sexo, tal como previsto na sua declaração de independência. Não o aceito como estado judeu. Tal como não aceito que algum país do mundo tenha leis baseadas na discriminação religiosa e étnica.
Eu sei o que é uma democracia: direito de escolha dos governantes, lei acima de todos os cidadãos e igual para todos, liberdade religiosa, liberdade de opinião, etc. No entanto não sei o que seria se Portugal fosse um país democrático e cristão. Será que eu perderia a cidadania se me tornasse oficialmente ateu ou me convertesse a outra religião? Será que não teria direito a cidadania mesmo que a minha família vivesse na mesma rua há 20 gerações? Será que qualquer cristão do mundo poderia entrar em Portugal e obter cidadania imediata? Que o nosso exército era constituído por cristãos de todo o mundo como se a defesa nacional e o ataque aos nossos vizinhos fosse uma nova cruzada?
Pois é precisamente isto que se passa em Israel: Qualquer judeu de qualquer parte do mundo recebe cidadania imediata, mas uma família cristã ou muçulmana que lá tenha vivido desde tempos imemoriais não o consegue.
O serviço militar obrigatório (para homens e mulheres) coloca de lado os muçulmanos mas aceita estrangeiros desde que sejam judeus. Existem algumas excepções, como os druze (que lutaram ao lado dos sionistas durante a guerra da independência) e os beduínos do Negev (o que não lhes tem servido de muito porque estão a ser sistematicamente expulsos da suas terras). Sobre este assunto aconselho a visualização do corajoso documentário do israelita Haim Yavin.
Por estes motivos, aceito Israel como um estado democrático e espero que atinjam esse objectivo o mais cedo possível por oposição ao actual estado de Apartheid. Mas isso significa ter todo o seu povo representado no Knesset, independentemente da sua religião, etnia ou sexo, tal como previsto na sua declaração de independência. Não o aceito como estado judeu. Tal como não aceito que algum país do mundo tenha leis baseadas na discriminação religiosa e étnica.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Cultura de Vitória
Existem muitos motivos para que os Estados Unidos da América sejam hoje a grande superpotência do mundo. Passam pelo sistema político, o capital acumulado, a capacidade de criar valor, os seus recursos naturais, a cultura de imigração entre muitos outros factores.
Existe no entanto um que sempre achei decisivo que é a forma como a cultura empresarial americana lida com o falhanço.
Aqui há uns anos assisti a uma compilação de imagens famosas de tentativas de criar a primeira máquina voadora (mais pesada que o ar). Vários inventores ou os seus corajosos pilotos de testes sofriam falhanço atrás de falhanço, muitas vezes com resultados desastrosos para a sua saúde e - certamente - também para o seu ego.
À minha volta, um grupo de amigos ria-se com as tentativas estapafúrdias de voo e com o desenho cómico das máquinas.
Dei por mim a pensar se os irmãos Wright terão olhado para as mesmas imagens com o mesmo sorriso ou se eles não terão alternativamente analisado os motivos de cada resultado negativo. Se não terão pensado nos pontos interessantes e criativos que cada uma daqueles invenções e em quais eram os pontos que valeria a pena tentar melhorar.
Todos nós, que nos recusamos a correr riscos da nossa vida deveríamos baixar a cabeça em respeito a todos aqueles que tentaram criar algo novo, que lutaram por uma vida nova, que correram riscos e falharam. Eles estão muito mais próximos dos vencedores do que todos os que nunca arriscaram absolutamente nada em toda a sua vida.
Existe no entanto um que sempre achei decisivo que é a forma como a cultura empresarial americana lida com o falhanço.
Aqui há uns anos assisti a uma compilação de imagens famosas de tentativas de criar a primeira máquina voadora (mais pesada que o ar). Vários inventores ou os seus corajosos pilotos de testes sofriam falhanço atrás de falhanço, muitas vezes com resultados desastrosos para a sua saúde e - certamente - também para o seu ego.
À minha volta, um grupo de amigos ria-se com as tentativas estapafúrdias de voo e com o desenho cómico das máquinas.
Dei por mim a pensar se os irmãos Wright terão olhado para as mesmas imagens com o mesmo sorriso ou se eles não terão alternativamente analisado os motivos de cada resultado negativo. Se não terão pensado nos pontos interessantes e criativos que cada uma daqueles invenções e em quais eram os pontos que valeria a pena tentar melhorar.
Todos nós, que nos recusamos a correr riscos da nossa vida deveríamos baixar a cabeça em respeito a todos aqueles que tentaram criar algo novo, que lutaram por uma vida nova, que correram riscos e falharam. Eles estão muito mais próximos dos vencedores do que todos os que nunca arriscaram absolutamente nada em toda a sua vida.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Crimes de Guerra...
A meio de dezembro de 2011, o procurador geral do ICC (International Criminal Court) declarou que a morte de Muammar Khaddafi pode ter sido um crime de guerra. Jornais do mundo todo apressaram-se a espalhar as declarações e subitamente todos os grandes líderes do mundo juntaram-se às vozes que pediam verdadeira justiça, incluindo as situações em que o alvo era ele próprio um criminoso de guerra.
Estou totalmente de acordo. Não podia mesmo estar mais. A Justiça deve ser isso mesmo: cega. Cega para ricos, pobres, bons e maus, pessoas de todas as cores e credos ou mesmo diferentes preferências sexuais. O homicídio de um monstro como Khaddafi não deixa de ser um homicídio. E a perda de uma vida humana.
Chego até tão longe que sou contra a pena de morte. Não permite o erro, não permite o perdão e não permite a remissão.
Mas se um grupo de líbios descontrolados matam o homem que prendeu, torturou, assassinou e fez a vida miserável a milhões de líbios durante décadas é um crime de guerra, que dizer de um grupo de tropas especiais e seus mandantes que entraram em casa de Bin Laden e o mataram?
Não deveria Obama receber uma nota do procurador Luis Moreno-Ocampo para se poder explicar?
Sabemos que foi um homicídio premeditado. Obama e Clinton estavam numa sala assistindo em directo à operação. Tiveram até o cuidado de nos mostrar essas fotografias. Bin Laden estava desarmado e controlado. Executaram-no e anunciaram ao mundo "Justice has been done".
Quase 70 anos antes, alguns dos maiores criminosos que a humanidade alguma vez viu foram julgados em Nuremberga. Os líderes de então garantiram que os criminosos seriam realmente julgados e não executados sumariamente.
Que diferença...
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/africaandindianocean/libya/8960085/Gaddafis-death-could-amount-to-a-war-crime-ICC-says.html
http://www.nytimes.com/2011/05/02/world/asia/osama-bin-laden-is-killed.html?pagewanted=all
Estou totalmente de acordo. Não podia mesmo estar mais. A Justiça deve ser isso mesmo: cega. Cega para ricos, pobres, bons e maus, pessoas de todas as cores e credos ou mesmo diferentes preferências sexuais. O homicídio de um monstro como Khaddafi não deixa de ser um homicídio. E a perda de uma vida humana.
Chego até tão longe que sou contra a pena de morte. Não permite o erro, não permite o perdão e não permite a remissão.
Mas se um grupo de líbios descontrolados matam o homem que prendeu, torturou, assassinou e fez a vida miserável a milhões de líbios durante décadas é um crime de guerra, que dizer de um grupo de tropas especiais e seus mandantes que entraram em casa de Bin Laden e o mataram?
Não deveria Obama receber uma nota do procurador Luis Moreno-Ocampo para se poder explicar?
Sabemos que foi um homicídio premeditado. Obama e Clinton estavam numa sala assistindo em directo à operação. Tiveram até o cuidado de nos mostrar essas fotografias. Bin Laden estava desarmado e controlado. Executaram-no e anunciaram ao mundo "Justice has been done".
Quase 70 anos antes, alguns dos maiores criminosos que a humanidade alguma vez viu foram julgados em Nuremberga. Os líderes de então garantiram que os criminosos seriam realmente julgados e não executados sumariamente.
Que diferença...
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/africaandindianocean/libya/8960085/Gaddafis-death-could-amount-to-a-war-crime-ICC-says.html
http://www.nytimes.com/2011/05/02/world/asia/osama-bin-laden-is-killed.html?pagewanted=all
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Portugal e a monarquia
Uma ou outra vez por ano, o cidadão Duarte de Bragança aparece para dar um ar de sua graça. Desta vez temos um documento com o nobre título de "Manifesto: Instaurar a Democracia, Restaurar a Monarquia". Um conjunto de portugueses defendem neste manifesto que o regresso a um sistema monárquico ajudaria a fortalecer a democracia, a moral na política e ainda a justiça e a independência em relação às "mais diversas forças de influência".
Ninguém nega que Portugal atravessa tempos difícieis criados por factores internos estruturais e tornados muito mais complicados pelos factores externos da crise internacional económica e financeira. O que estes subscritores não nos conseguem explicar claramente é como é que um Rei poderia influenciar qualquer um desses eventos. Ou tem poder e então não podem afirmar-se "democratas de sempre", ou estará vazio de poder e então a sua actuação será inútil.
Todas as monarquias são facadas nas costas da democracia. Mesmo que não tenham qualquer poder governativo ou legislativo, são sempre pessoas que não nascem iguais às restantes. Hoje, eu posso manter o sonho de vir a ser chefe de estado de Portugal. Se estes senhores conseguirem os seus propósitos, eu perderei esse direito sem que nada me possa garantir que a escolha para o lugar será melhor do que eu próprio. Bem, se me propuserem para Rei eu talvez passe a apioar a monarquia. Talvez...
Outra questão é obviamente a legitimidade. A seguinte frase do manifesto é particularmente interessante e toca ao de leve sobre este assunto:
"(...) torna-se urgente uma chefia de estado independente e supra-partidária. Isto só pode ser garantido, zelado e velado por um chefe de estado eleito pela história."
Não sei bem o que significa a questão de ser eleito pela história. Imagino que não seja uma espécie de sufrágio universal mas com um ligeiro truque onde apenas os que têm uma licenciatura em história têm voto. Eu até leio bastantes livros de história, será que me vão chamar à discussão? De qualquer forma, a legitimidade do Rei deixou de ser divina para ser histórica. Interessante... possivelmente estarão a apelar ao apoio das forças seculares. De qualquer forma a divina fazia mais sentido. É que quando alguém tem legitimidade divina para fazer qualquer coisa, já não é preciso explicar mais nada. É uma questão de fé. Assim fica mais complicado porque a História é uma ciência a sério, cheia de factos, testemunhas, contradições e buracos.
Um outro detalhe da mesma brilhante frase é sobre o chefe de estado ser suprapartidário. Isso já existe actualmente, e o facto de os votantes terem consistentemente votado em ex-políticos mesmo quando alternativas da sociedade civil também estavam a votos, mostra que essa "urgência" dos monárquicos é profundamente anti-democrática porque é a vontade de uma minoria contra a expressa vontade da maioria.
Tenho muita curiosidade sobre o que aconteceria depois em relação ao resto da corte. Quantos barões, condes, duques e demais nobres teria o país que sustentar e aturar? Ou todos estes apoiantes que guardam religiosamente as cartas comprovativas do seu sangue azul vão simplesmente continuar a sua vida como se nada fosse?
Sobre a pessoa em causa, Duarte de Bragança, tenho apenas um ponto que gostaria de referir:
Um conselho aos monárquicos: façam um referendo quando quiserem, mas eu se calhar esperava por um pretendente que tivesse mais carisma junto do povo português. Neste momento a derrota é assegurada e ninguém vos permitirá ganhar o lugar sem um referendo claro. Depois têm que nos explicar o processo exacto de expulsão no caso de mais tarde o povo português se arrepender.
Por fim vejo somente uma única coisa que poderiam lutar por: a bandeira. Gosto mais da bandeira azul e branca do tempo da monarquia. E mesmo isso... se calhar é porque sou adepto do F.C.Porto.
Ninguém nega que Portugal atravessa tempos difícieis criados por factores internos estruturais e tornados muito mais complicados pelos factores externos da crise internacional económica e financeira. O que estes subscritores não nos conseguem explicar claramente é como é que um Rei poderia influenciar qualquer um desses eventos. Ou tem poder e então não podem afirmar-se "democratas de sempre", ou estará vazio de poder e então a sua actuação será inútil.
Todas as monarquias são facadas nas costas da democracia. Mesmo que não tenham qualquer poder governativo ou legislativo, são sempre pessoas que não nascem iguais às restantes. Hoje, eu posso manter o sonho de vir a ser chefe de estado de Portugal. Se estes senhores conseguirem os seus propósitos, eu perderei esse direito sem que nada me possa garantir que a escolha para o lugar será melhor do que eu próprio. Bem, se me propuserem para Rei eu talvez passe a apioar a monarquia. Talvez...
Outra questão é obviamente a legitimidade. A seguinte frase do manifesto é particularmente interessante e toca ao de leve sobre este assunto:
"(...) torna-se urgente uma chefia de estado independente e supra-partidária. Isto só pode ser garantido, zelado e velado por um chefe de estado eleito pela história."
Não sei bem o que significa a questão de ser eleito pela história. Imagino que não seja uma espécie de sufrágio universal mas com um ligeiro truque onde apenas os que têm uma licenciatura em história têm voto. Eu até leio bastantes livros de história, será que me vão chamar à discussão? De qualquer forma, a legitimidade do Rei deixou de ser divina para ser histórica. Interessante... possivelmente estarão a apelar ao apoio das forças seculares. De qualquer forma a divina fazia mais sentido. É que quando alguém tem legitimidade divina para fazer qualquer coisa, já não é preciso explicar mais nada. É uma questão de fé. Assim fica mais complicado porque a História é uma ciência a sério, cheia de factos, testemunhas, contradições e buracos.
Um outro detalhe da mesma brilhante frase é sobre o chefe de estado ser suprapartidário. Isso já existe actualmente, e o facto de os votantes terem consistentemente votado em ex-políticos mesmo quando alternativas da sociedade civil também estavam a votos, mostra que essa "urgência" dos monárquicos é profundamente anti-democrática porque é a vontade de uma minoria contra a expressa vontade da maioria.
Tenho muita curiosidade sobre o que aconteceria depois em relação ao resto da corte. Quantos barões, condes, duques e demais nobres teria o país que sustentar e aturar? Ou todos estes apoiantes que guardam religiosamente as cartas comprovativas do seu sangue azul vão simplesmente continuar a sua vida como se nada fosse?
Sobre a pessoa em causa, Duarte de Bragança, tenho apenas um ponto que gostaria de referir:
Um conselho aos monárquicos: façam um referendo quando quiserem, mas eu se calhar esperava por um pretendente que tivesse mais carisma junto do povo português. Neste momento a derrota é assegurada e ninguém vos permitirá ganhar o lugar sem um referendo claro. Depois têm que nos explicar o processo exacto de expulsão no caso de mais tarde o povo português se arrepender.
Por fim vejo somente uma única coisa que poderiam lutar por: a bandeira. Gosto mais da bandeira azul e branca do tempo da monarquia. E mesmo isso... se calhar é porque sou adepto do F.C.Porto.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Violência em Port Said
Um jogo de futebol entre o Al Masry e o Al Ahly onde o treinador português Manuel José tem feito brilhar o futebol egípcio acabou com uma invasão de campo e uma batalha campal que terminou com 74 vítimas mortais e um número enorme de feridos. As imagens são impressionantes e relembram-nos situações semelhantes que aconteceram no passado.
O governo (ainda militar) apressou-se a demitir toda a federação egípcia de futebol e o parlamento recentemente eleito e pela primeira vez verdadeiramente democrático acusa o governo militar e/ou apoiantes de Mubarak de estarem por detrás dos eventos.
A situação política no Egipto é extremamente confusa. Falo quase diariamente com egípcios que me dizem que o novo parlamento não consegue expulsar o governo militar que se mantém no lugar por uma mistura de inércia, inexistência de um quadro legal claro sobre a constituição do governo e tendo como única legitimidade o facto de Osni Mubarak lhes ter passado a presidência do país imediatamente antes de fechar a porta.
Os egípcios procuram nesta tragédia de Port Said todo o tipo de leituras políticas: Os militares querem provocar violência para poderem provar que só eles conseguiram manter o país estável, que os pró Mubarak querem provocar saudosismo pelos bons tempos de paz e crescimento do ditador, que a sombria Mukhabarat (polícia secreta) estará envolvida com uma agenda própria, etc.
Ainda demorará algum tempo a sabermos o que se terá realmente passado, se é que alguma vez o chegaremos a saber. Os Ultras do Al Ahly (claque do clube) são considerados como a espinha dorsal dos protestantes anti governo na praça Tahrir e por esse motivo é tão fácil a toda a gente misturar política e futebol no Egipto.
O que eu penso? Um jogo de futebol que correu terrivelmente mal. Uma polícia que não conseguiu lidar com os eventos. Um estádio que não cumpre as melhores regras de segurança. Uma rivalidade entre clubes que ultrapassou os limites do razoável. Um golo no último minuto.
O governo (ainda militar) apressou-se a demitir toda a federação egípcia de futebol e o parlamento recentemente eleito e pela primeira vez verdadeiramente democrático acusa o governo militar e/ou apoiantes de Mubarak de estarem por detrás dos eventos.
A situação política no Egipto é extremamente confusa. Falo quase diariamente com egípcios que me dizem que o novo parlamento não consegue expulsar o governo militar que se mantém no lugar por uma mistura de inércia, inexistência de um quadro legal claro sobre a constituição do governo e tendo como única legitimidade o facto de Osni Mubarak lhes ter passado a presidência do país imediatamente antes de fechar a porta.
Os egípcios procuram nesta tragédia de Port Said todo o tipo de leituras políticas: Os militares querem provocar violência para poderem provar que só eles conseguiram manter o país estável, que os pró Mubarak querem provocar saudosismo pelos bons tempos de paz e crescimento do ditador, que a sombria Mukhabarat (polícia secreta) estará envolvida com uma agenda própria, etc.
Ainda demorará algum tempo a sabermos o que se terá realmente passado, se é que alguma vez o chegaremos a saber. Os Ultras do Al Ahly (claque do clube) são considerados como a espinha dorsal dos protestantes anti governo na praça Tahrir e por esse motivo é tão fácil a toda a gente misturar política e futebol no Egipto.
O que eu penso? Um jogo de futebol que correu terrivelmente mal. Uma polícia que não conseguiu lidar com os eventos. Um estádio que não cumpre as melhores regras de segurança. Uma rivalidade entre clubes que ultrapassou os limites do razoável. Um golo no último minuto.
A demissão de Vitor Gaspar
Pergunta do jornal Público em 2012-02-02
Acha que Vítor Gaspar deve demitir-se depois das críticas de apoiantes de Cavaco Silva à política que consideram ser ultraliberal do ministro das Finanças?
Resultado:
Sim: 29%
Não: 71%
Sempre considerei estes inquéritos bastante divertidos. Não têm qualquer significado estatístico e normalmente permitem-nos desabafar os nossos sentimentos sobre o assunto do dia. No jornais desportivos divertimos-nos a escolher as respostas mais absurdas para apoiar mudanças de treinadores nos adversários ou pedir para que eles coloquem o pior dos 3 guarda-redes em campo só porque o titular deu um frango no último fim de semana. Mas a dois de fevereiro, o Público conseguiu ultrapassar a concorrência na competição pelo inquérito mais inútil e desprovido de significado:
1. Um ministro não deve ser demitido só porque alguém criticou as suas políticas, a não ser que essa pessoa seja o seu Primeiro Ministro.
2. Não sei bem o que são as críticas de apoiantes de Cavaco Silva. Não é claro porque motivo o nome do Presidente é chamado à pergunta, mas segundo o Publico, parece que Cavaco Silva é responsável por todos os que o apoiam (salvo erro uns 3 milhões de votantes nas últimas eleições). Será que o próprio Vítor Gaspar e o resto do governo também não votaram no Presidente? Não será que existem uns poucos "apoiantes de Cavaco Silva" que apoiam estas medidas?
3. Por outro lado, quase que subentende que o Presidente terá enviado recados através de alguns dos seus apoiantes. Não sabemos, está à vontade para o fazer, mas mesmo que fosse o caso, essas pessoas não estão mandatadas pelo povo português por isso a opinião delas vale tanto como a minha.
4. Se o Presidente quiser fazer alguma crítica directa, tem toda a legitimidade para o fazer e terá certamente os media e o povo português a ouvir as suas palavras. Mas não faz parte das suas funções escolher ministros. Pode dissolver o parlamento, mas não escolher os indivíduos que compõem o governo.
5. Quanto à parte da política neo liberal, este governo foi votado para resolver os problemas do país e seguir a sua linha ideológica e política. Goste-se ou não, não é surpresa o que está a fazer e tem legitimidade democrática para o fazer.
Ou seja, os resultados do inquérito não nos dizem nada. Talvez 71% tenham votado que não (se deve demitir) porque gostam das políticas. Ou simplesmente porque não é esse o motivo porque deveria sair. Ou que até gostariam de políticas ainda mais ultra liberais. Ou porque consideram que não é um grupo de notáveis ou amigos de alguém importante que deve decidir quem fica ou não num governo. E mesmo em relação os que votam "sim", querem que ele saia porque é fraco, porque não gostam das suas políticas ou porque acham que um ministro se deve demitir cada vez que um grupo senadores não eleitos assumem que não concordam com ele?
Resumindo, o Público conseguiu criar um dos inquéritos mais inúteis que já vi. Como não dou esta competição por terminada estarei atento nos próximos tempos para ver se se conseguem superar. Só é pena que não tenha o nome do jornalista que o escreveu para lhe podermos entregar o prémio em pessoa.
Acha que Vítor Gaspar deve demitir-se depois das críticas de apoiantes de Cavaco Silva à política que consideram ser ultraliberal do ministro das Finanças?
Resultado:
Sim: 29%
Não: 71%
Sempre considerei estes inquéritos bastante divertidos. Não têm qualquer significado estatístico e normalmente permitem-nos desabafar os nossos sentimentos sobre o assunto do dia. No jornais desportivos divertimos-nos a escolher as respostas mais absurdas para apoiar mudanças de treinadores nos adversários ou pedir para que eles coloquem o pior dos 3 guarda-redes em campo só porque o titular deu um frango no último fim de semana. Mas a dois de fevereiro, o Público conseguiu ultrapassar a concorrência na competição pelo inquérito mais inútil e desprovido de significado:
1. Um ministro não deve ser demitido só porque alguém criticou as suas políticas, a não ser que essa pessoa seja o seu Primeiro Ministro.
2. Não sei bem o que são as críticas de apoiantes de Cavaco Silva. Não é claro porque motivo o nome do Presidente é chamado à pergunta, mas segundo o Publico, parece que Cavaco Silva é responsável por todos os que o apoiam (salvo erro uns 3 milhões de votantes nas últimas eleições). Será que o próprio Vítor Gaspar e o resto do governo também não votaram no Presidente? Não será que existem uns poucos "apoiantes de Cavaco Silva" que apoiam estas medidas?
3. Por outro lado, quase que subentende que o Presidente terá enviado recados através de alguns dos seus apoiantes. Não sabemos, está à vontade para o fazer, mas mesmo que fosse o caso, essas pessoas não estão mandatadas pelo povo português por isso a opinião delas vale tanto como a minha.
4. Se o Presidente quiser fazer alguma crítica directa, tem toda a legitimidade para o fazer e terá certamente os media e o povo português a ouvir as suas palavras. Mas não faz parte das suas funções escolher ministros. Pode dissolver o parlamento, mas não escolher os indivíduos que compõem o governo.
5. Quanto à parte da política neo liberal, este governo foi votado para resolver os problemas do país e seguir a sua linha ideológica e política. Goste-se ou não, não é surpresa o que está a fazer e tem legitimidade democrática para o fazer.
Ou seja, os resultados do inquérito não nos dizem nada. Talvez 71% tenham votado que não (se deve demitir) porque gostam das políticas. Ou simplesmente porque não é esse o motivo porque deveria sair. Ou que até gostariam de políticas ainda mais ultra liberais. Ou porque consideram que não é um grupo de notáveis ou amigos de alguém importante que deve decidir quem fica ou não num governo. E mesmo em relação os que votam "sim", querem que ele saia porque é fraco, porque não gostam das suas políticas ou porque acham que um ministro se deve demitir cada vez que um grupo senadores não eleitos assumem que não concordam com ele?
Resumindo, o Público conseguiu criar um dos inquéritos mais inúteis que já vi. Como não dou esta competição por terminada estarei atento nos próximos tempos para ver se se conseguem superar. Só é pena que não tenha o nome do jornalista que o escreveu para lhe podermos entregar o prémio em pessoa.
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