Não sou especialista em Poker, mas já passei bem mais do que umas horinhas em frente ao computador e perdi dinheiro suficiente para ter conseguido aprender umas lições. Não muitas e não as suficientes para o tornar num jogo lucrativo mas as necessárias para compreender a lógica geral do jogo.
Em torneio existem alguns movimentos clássicos dos jogadores que dependem - entre outros factores - da quantidade de dinheiro (fichas) que têm, e à medida que o jogo avança a psicologia de bullying dos ricos e o desespero dos que estão prestes a morrer torna-se asfixiante para os que se encontram no que deveria ser uma situação minimamente confortável, ou seja, a meio da tabela.
Usando da sua vantagem, o chip leader começa a fazer raises para forçar todos os outros a saltar fora ou filtrando o número de jogadores de cada mão, mesmo quando o seu jogo é apenas marginalmente bom. Os intermédios evitam ao máximo o confronto directo com os chip leaders e com aqueles que têm sensivelmente o mesmo dinheiro por saberem que um passo em falso pode levá-los à ruína. Por fim, os que estão no limiar da derrota são forçados a esperar por cartas boas para entrarem num tudo ou nada, o chamado All In. Como não têm muito dinheiro, as probabilidades de alguém ter um grande jogo ou de um dos ricos simplesmente aceitar o risco (porque o valor é demasiado baixo para lhe fazer mossa), ainda são altas por isso um bluff puro dificilmente funcionará. Ou seja, provavelmente terá mesmo que mostrar as cartas e convém que sejam boas.
Em qualquer caso, o desespero dos pobres é de facto uma arma. E uma lembrança aos seus opositores de que podem acabar no mesmo lugar. Se quiserem, é uma lógica semelhante a um bombista suicida, que se coloca numa posição de "queres-me matar? pois eu mato-nos aos dois se for preciso". [1]
Por vezes a política parece um gigantesco jogo de poker, só que em vez de ser só a dinheiro inclui também as esperanças e o futuro de povos inteiros. Na europa, o chip leader é claramente a Alemanha de Angela Merkel que vai forçando todos os jogadores a seguirem a sua liderança. O lanterna vermelha será sem dúvida a Grécia, embora outros - incluindo Portugal - não estejam muito longe.
Daniel Oliveira, comentador habitual do Expresso, escrevia esta semana sobre o bluff alemão defendendo que "(...) está na altura de pensarmos como um alemão e dizermos à senhora Merkel: ou faz parte da solução ou prepare-se para umas décadas de penúria. Quer mesmo arriscar o fim do euro? Não? Então ponha-se fina. O problema é que temos todos sido os anjinhos no meio de um jogo de poker. Está na altura de desfazer o bluff alemão."[2]
Na realidade discordo que a Alemanha esteja a fazer bluff, considero que apenas está a jogar de forma perfeitamente natural do alto da sua posição de chip leader. Mas o que acho realmente interessante nesta mesa de poker é a (a meu ver previsível) posição da Grécia que mais tarde ou mais cedo fará All In. E a ameaça será a da destruição da Europa.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
O caminho das pedras
A Praça Tahrir enche-se para celebrar a vitória de Morsi |
Falei aqui recentemente deste beco sem saída, um país sem constituição, sem parlamento, com umas forças armadas altamente politizadas e onde dezenas de milhares de pessoas têm esqueletos no armário fruto do trabalho da temida polícia secreta - Mukhabarat - durante três décadas [2].
O discurso de vitória de Morsi [3] procurou trazer alguma calma a todo o processo. Construiu uma imagem tranquila daquilo que procura fazer em termos nacionais, sem colocar de lado as minorias étnicas e religiosas, e defendendo uma via democrática clara. Em termos regionais e internacionais, pretende defender o acordo de paz com Israel assinado ainda pelo falecido presidente Anwar Sadat em 1981 (assassinado durante uma parada militar, com Mubarak sentado ao seu lado) e uma normalização das relações diplomáticas com o Irão. Este último item foi mal visto pela comunidade internacional, mas mostra a meu ver uma boa decisão em termos de política interna e procura um equilíbrio entre a influência da Arábia Saudita e outras forças regionais no país.
Morsi terá que ser extremamente habilidoso a lidar com o SCAF, procurando um apoio constante do povo egípcio. Terá que manter um equilíbrio difícil na região evitando a excessiva influência dos salafistas apoiados pela Arábia Saudita e estados do golfo pérsico. Terá que acalmar os medos israelitas que viram a vitória de Morsi como o fim de todas as esperanças de paz entre os dois países (algumas capas de jornais incluiam títulos como "Trevas no Egipto" e "O Temor tornou-se realidade). E os medos em Israel tendem a transformar-se em terror nos EUA e sangue na região.
O mais triste disto tudo é que Morsi deveria ocupar o seu tempo a tentar democratizar o país e colocá-lo no caminho do progresso económico, cultural, judicial e educacional de que tanto precisa. Mas dificilmente terá tempo para isso pois estará mais preocupado com a sua sobrevivência. Política... e física.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Governo a prazo
Antonis Samaras |
A paz social há muito que foi perdida, o sector do turismo muito afectado, o investimento estrangeiro caiu para zero e o dinheiro está em fuga generalizada do país. Este último factor é particularmente grave com dezenas de milhões de euros a desaparecerem do país. Não são apenas os milionários e as grandes empresas, mas também a classe média e as PMEs que procuram proteger o que ainda têm com medo que a moeda única seja substituida pelo dracma, o que quase inevitavelmente significaria uma desvalorização imediata da nova moeda grega.
Talvez nem tudo estivesse perdido na Grécia, se não fosse o caso de toda a gente dar a situação como perdida. Um caso típico de self fulfilling prophecy. Agora é esperar para ver, mas não vejo que a Grécia consiga aguentar-se de pé se não existir um investimento massivo da europa no país. Não apenas um resgate, mas transferências em larga escala que consigam colocar o país na rota do crescimento. O problema é que os credores já deixaram de acreditar há muito tempo de que este país será capaz de se reformular e têm - justificadamente - motivos para pensar que o dinheiro que entregarem não só se evaporará como também que os vícios que levaram a Grécia a este estado vão continuar vivos e de boa saúde se o fizerem.
O facto de o Syriza não ter aceite - como previsto - integrar o governo mostra que a maioria da população e os seus representantes estão contra o plano da Troika. E vai estar à espreita para mandar este governo abaixo à primeira oportunidade.
Entretanto, Portugal dá alguns sinais de mudança. Ténues e tímidos, é verdade, mas significativamente diferente de tudo o que se viu na Grécia nestes últimos anos. Exportações em alta, importações em baixa, consumo a ser substituído por poupança e - para já - não existe fuga de capitais do país nem desinvestimento estrangeiro generalizado. O IDE (investimento directo estrangeiro) parece estar a subir no que toca ao sector primário e secundário, enquanto o comércio e construção civil sofrem mais directamente os efeitos da crise. Nada está salvo, mas também nada está perdido para Portugal. Veremos se não é a própria Grécia a fazer-nos cair novamente.
Uma réstia de esperança está precisamente no lado irracional de tudo isto: se a Europa resolver agir e causar um impacto psicológico real sobre investidores e consumidores, quem sabe se não conseguimos ver a Grécia a saltar directamente de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
'It is beautiful... not a single Arab to be seen'
Fonte: Al Jazeera
Artigo de opinião de Yousef Munayyer, sobre o isolamento dos palestinianos desde a criação do estado de Israel até hoje.
'It is beautiful... not a single Arab to be seen'
Israel is isolating its Arab citizens, despite its claims to democracy
Lydda, a city home to some 20,000 Palestinians in 1948 quickly swelled to a population of 50,000 as refugees flocked from the cleansed city of Jaffa. After four days of siege, Israeli forces carried out expulsion orders during Operation Dani, leaving fewer than 1,000 residents remaining.
Yitzhak Rabin, an Israeli Brigadier General at the time, described how they perpetrated the ethnic cleansing of Lydda and neighbouring Ramle in July of 1948. To this day, however, the Israeli state prevents this description from being printed in Rabin's memoirs.
I often wonder what must have been going through my grandfather's head when he, and others among the few who managed to remain, realised the busy municipality that they had once called home had been reduced to a ghost town.
Perhaps they were in shock, an understandable reaction, given the circumstances. Perhaps they were busy attempting to care for the injured, of which there were plenty. Or maybe they were trying to secure their possessions from Israeli looters who ravaged the vacant homes and stores of businessmen-turned-refugees overnight. Israeli historians, such as Tom Segev, note that 1,800 trucks of possessions were looted from Lydda alone.
Once the dust cleared and the shock subsided, reality must have begun to set in. In a few months' time, the Palestinian Arabs had gone from being a majority living in their ancestral homeland, albeit amid tension, to being a minority living under a state that had just made refugees out of most of their kin and would refuse them re-entry.
Legalising theft
For Palestinian citizens of Israel, like Palestinians elsewhere, the Nakba was just beginning. The looting which took place was also a preliminary glimpse into the theft of land, property and identity that would ensue in the coming years.
Ironically, David Ben-Gurion, Israel's first prime minister, who Rabin said ordered the expulsion of Palestinians during Operation Dani, expressed shock that Israelis were simply stealing the possessions of Palestinians in Lydda and elsewhere. How he reconciled a moral defence of ethnic cleansing with moral outrage at looting is beyond my comprehension.
Nonetheless, with the establishment of the state of Israel on the ruins of Palestine, theft had to be disguised by legalisms. Prior to the war, Jewish ownership of land in Palestine was minimal. Now, after the depopulation, the vast majority of land controlled by the Jewish state was not owned by Jews and many of the owners now resided in refugee camps.
To solve this predicament, the Israeli legislature enacted various laws which allowed the state to assume control of 92 per cent of the land. The first step was using a century old Ottoman law (two-empires old at this point) to declare the land "absentee land". This meant that the owners of the land were not present (because they were refugees not permitted to return) and that the state could assume control of it.
But refugees weren't the only ones dispossessed by this measure. Palestinians who managed to remain inside the boundaries of the new Israeli state but were prevented from living on their land became internally displaced persons (IDPs). These IDPs falling victim to Israel's legalised land theft are known as "present absentees".
Martial law
With their society decimated, their family members and kin spread across the region in refugee camps from Lebanon to Jordan to Gaza, their properties looted and land confiscated, Palestinian citizens of Israel had to deal with another reality in the wake of the Nakba: living under martial law.
Israeli martial law, which governed Palestinian Arabs from the establishment of the state to 1966, was based on British Mandate-era emergency regulations. In the 1930s, the British used these regulations as the framework for the repression of the Palestinian Arab uprisings. Then in the 1940s, the British used them to crack down against Zionist dissidents. For this reason, such regulations were decried by Zionists prior to the establishment of the state. Yaacov Shapira, an Israeli attorney in 1946, did not mince words when criticising these laws used by the British against the Zionists at the time and likened them to Nazi Germany. Two years later, Shapira would be serving as the attorney general for the first Israeli government and would adopt these very laws to rule over the Arab minority.
Martial law was similar in many ways to the occupation we know today. During this period, the military government was empowered to deport people from their towns or villages, summon any person to a police station at any time or put under house arrest, use administrative detention or incarceration without charge, confiscate property, impose total or partial curfew, forbid or restrict movement and so on.
This, keep in mind, was not happening in Hebron or Nablus or Ramallah, this was taking place in what many today romanticise as the golden age of "democratic" Israel - inside the green line.
Discriminatory laws
After the depopulation, an Israeli member of the MAPAI secretariat remarked in 1949: "The landscape is also more beautiful. I enjoy it, especially when travelling between Haifa and Tel Aviv, and there is not a single Arab to be seen."
It is this kind of drive for ethnic homogeneity, present since the founding of the Israeli state, that underpins many of the laws that discriminate against Israel's Palestinian Arab citizens. A Jew from anywhere in the world, for example, can move to Israel - while a Palestinian Arab refugee, born within the present-day borders of Israel is not permitted to return. Likewise, laws also prevent Palestinian Arab citizens of Israel who have non-citizen Palestinian spouses from residing in Israel as a family. This is to prevent what the Israeli prime minister termed "demographic spillover". This restricts the population of Palestinian citizens of Israel from marrying from most of their kin because doing so would mean either having to live separately or living outside of Israel.
Budgetary spending is also discriminatory. Despite making up over 20 per cent of the population, Palestinian citizens of Israel have watched the state build hundreds of new towns for Israeli Jews, while a handful were built for the Palestinians. Even these towns, such as Rahat, were built in part to concentrate Palestinian Bedouin from unrecognised villages. Many Palestinian Bedouin villages remain unrecognised by the Israeli state, are not provided with civil resources and are left off the electric grid. Al-Arakib, a village in the Negev, has, as of this writing, been demolished by Israeli officials, and rebuilt by its residents, some 38 times.
Lingering in the psyche
Indeed, the Nakba is the central and uniting experience of Palestinians everywhere. It comes as no surprise then that Palestinian citizens of Israel alive today, who did not experience the Nakba first hand,still have political views shaped by the events of 1948.
Polls of Palestinian citizens of Israel, performed as recently as 2010, uncovered interesting trends in the views of respondents based on whether they have relatives who were refugees. Those who have refugee relatives were almost three times as likely to identify as Palestinian first (instead of Arab, Muslim or Israeli) than those who did not. They are twice as likely to support Iran's right to a nuclear program, twice as likely to reject Israel's defining itself as a "Jewish State" and twice as likely to oppose a loyalty oath to the state of Israel.
For Palestinians in Israel, it is clear that the Nakba still lingers as a major factor, determining their views toward the state that governs them.
In sum, the Nakba and its implications has, since the transformative events of 1948, continued to directly impact the Palestinian citizens of the Israeli state. While Palestinians exist across various borders as refugees, residents or citizens of different states, the Nakba continues to be the tie that binds them. This is not only because of a shared memory from the lives of their grandparents, but also because varying, often harsh, present realities rooted in events of the Nakba can only be relegated to distant memory if a peace, based on justice for the Nakba, can be achieved.
Artigo de opinião de Yousef Munayyer, sobre o isolamento dos palestinianos desde a criação do estado de Israel até hoje.
'It is beautiful... not a single Arab to be seen'
Israel is isolating its Arab citizens, despite its claims to democracy
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Yitzhak Rabin, an Israeli Brigadier General at the time, described how they perpetrated the ethnic cleansing of Lydda and neighbouring Ramle in July of 1948. To this day, however, the Israeli state prevents this description from being printed in Rabin's memoirs.
I often wonder what must have been going through my grandfather's head when he, and others among the few who managed to remain, realised the busy municipality that they had once called home had been reduced to a ghost town.
Perhaps they were in shock, an understandable reaction, given the circumstances. Perhaps they were busy attempting to care for the injured, of which there were plenty. Or maybe they were trying to secure their possessions from Israeli looters who ravaged the vacant homes and stores of businessmen-turned-refugees overnight. Israeli historians, such as Tom Segev, note that 1,800 trucks of possessions were looted from Lydda alone.
Once the dust cleared and the shock subsided, reality must have begun to set in. In a few months' time, the Palestinian Arabs had gone from being a majority living in their ancestral homeland, albeit amid tension, to being a minority living under a state that had just made refugees out of most of their kin and would refuse them re-entry.
Legalising theft
For Palestinian citizens of Israel, like Palestinians elsewhere, the Nakba was just beginning. The looting which took place was also a preliminary glimpse into the theft of land, property and identity that would ensue in the coming years.
Ironically, David Ben-Gurion, Israel's first prime minister, who Rabin said ordered the expulsion of Palestinians during Operation Dani, expressed shock that Israelis were simply stealing the possessions of Palestinians in Lydda and elsewhere. How he reconciled a moral defence of ethnic cleansing with moral outrage at looting is beyond my comprehension.
Nonetheless, with the establishment of the state of Israel on the ruins of Palestine, theft had to be disguised by legalisms. Prior to the war, Jewish ownership of land in Palestine was minimal. Now, after the depopulation, the vast majority of land controlled by the Jewish state was not owned by Jews and many of the owners now resided in refugee camps.
To solve this predicament, the Israeli legislature enacted various laws which allowed the state to assume control of 92 per cent of the land. The first step was using a century old Ottoman law (two-empires old at this point) to declare the land "absentee land". This meant that the owners of the land were not present (because they were refugees not permitted to return) and that the state could assume control of it.
But refugees weren't the only ones dispossessed by this measure. Palestinians who managed to remain inside the boundaries of the new Israeli state but were prevented from living on their land became internally displaced persons (IDPs). These IDPs falling victim to Israel's legalised land theft are known as "present absentees".
Martial law
With their society decimated, their family members and kin spread across the region in refugee camps from Lebanon to Jordan to Gaza, their properties looted and land confiscated, Palestinian citizens of Israel had to deal with another reality in the wake of the Nakba: living under martial law.
Israeli martial law, which governed Palestinian Arabs from the establishment of the state to 1966, was based on British Mandate-era emergency regulations. In the 1930s, the British used these regulations as the framework for the repression of the Palestinian Arab uprisings. Then in the 1940s, the British used them to crack down against Zionist dissidents. For this reason, such regulations were decried by Zionists prior to the establishment of the state. Yaacov Shapira, an Israeli attorney in 1946, did not mince words when criticising these laws used by the British against the Zionists at the time and likened them to Nazi Germany. Two years later, Shapira would be serving as the attorney general for the first Israeli government and would adopt these very laws to rule over the Arab minority.
Martial law was similar in many ways to the occupation we know today. During this period, the military government was empowered to deport people from their towns or villages, summon any person to a police station at any time or put under house arrest, use administrative detention or incarceration without charge, confiscate property, impose total or partial curfew, forbid or restrict movement and so on.
This, keep in mind, was not happening in Hebron or Nablus or Ramallah, this was taking place in what many today romanticise as the golden age of "democratic" Israel - inside the green line.
Discriminatory laws
After the depopulation, an Israeli member of the MAPAI secretariat remarked in 1949: "The landscape is also more beautiful. I enjoy it, especially when travelling between Haifa and Tel Aviv, and there is not a single Arab to be seen."
It is this kind of drive for ethnic homogeneity, present since the founding of the Israeli state, that underpins many of the laws that discriminate against Israel's Palestinian Arab citizens. A Jew from anywhere in the world, for example, can move to Israel - while a Palestinian Arab refugee, born within the present-day borders of Israel is not permitted to return. Likewise, laws also prevent Palestinian Arab citizens of Israel who have non-citizen Palestinian spouses from residing in Israel as a family. This is to prevent what the Israeli prime minister termed "demographic spillover". This restricts the population of Palestinian citizens of Israel from marrying from most of their kin because doing so would mean either having to live separately or living outside of Israel.
Budgetary spending is also discriminatory. Despite making up over 20 per cent of the population, Palestinian citizens of Israel have watched the state build hundreds of new towns for Israeli Jews, while a handful were built for the Palestinians. Even these towns, such as Rahat, were built in part to concentrate Palestinian Bedouin from unrecognised villages. Many Palestinian Bedouin villages remain unrecognised by the Israeli state, are not provided with civil resources and are left off the electric grid. Al-Arakib, a village in the Negev, has, as of this writing, been demolished by Israeli officials, and rebuilt by its residents, some 38 times.
Lingering in the psyche
Indeed, the Nakba is the central and uniting experience of Palestinians everywhere. It comes as no surprise then that Palestinian citizens of Israel alive today, who did not experience the Nakba first hand,still have political views shaped by the events of 1948.
Polls of Palestinian citizens of Israel, performed as recently as 2010, uncovered interesting trends in the views of respondents based on whether they have relatives who were refugees. Those who have refugee relatives were almost three times as likely to identify as Palestinian first (instead of Arab, Muslim or Israeli) than those who did not. They are twice as likely to support Iran's right to a nuclear program, twice as likely to reject Israel's defining itself as a "Jewish State" and twice as likely to oppose a loyalty oath to the state of Israel.
For Palestinians in Israel, it is clear that the Nakba still lingers as a major factor, determining their views toward the state that governs them.
In sum, the Nakba and its implications has, since the transformative events of 1948, continued to directly impact the Palestinian citizens of the Israeli state. While Palestinians exist across various borders as refugees, residents or citizens of different states, the Nakba continues to be the tie that binds them. This is not only because of a shared memory from the lives of their grandparents, but also because varying, often harsh, present realities rooted in events of the Nakba can only be relegated to distant memory if a peace, based on justice for the Nakba, can be achieved.
Mais um nó cego?
Mais umas eleições e mais uma situação de desequilíbrio político na Grécia. Ao contrário do que previ no mês passado, o Syriza não ganhou as eleições embora tenha estado muito perto de o fazer. Os conservadores pró-Troika da Nova Democracia ganharam por uma unha negra mas não conseguem a maioria absoluta mesmo com o prémio de 50 deputados dados ao partido mais votado. O Pasok (Partido Socialista) poderia compor uma maioria absoluta mas já avisou que só entra num governo de coligação se o Syriza também o fizer.
Agora alguém terá que ceder. Ou teremos um governo minoritário, que acabaria por cair mais ano menos ano, ou o Pasok volta atrás na sua palavra e teremos uma maioria estável que terá que governar contra os 60% a 70% de gregos que votaram contra a austeridade ou, por fim, o Syriza aceite entrar num governo pró-Troika o que seria um harakiri político.
Nada mudou desde o início de Maio. O mesmo nó cego, a mesma impossibilidade de formação de um governo estável e o interesse das várias partes em conflito tal que as cedências dificilmente se tornam opções. Mas algo mudou e muito: hoje a Grécia tem menos um mês para resolver os seus problemas. E se tiverem que ir novamente a eleições é provável que vejam os cofres do tesouro vazios antes de terem um governo feito.
Márcia Rodrigues da RTP tem-nos mostrado o rápido colapso da sociedade grega numa sequência brilhante de entrevistas e peças jornalísticas. Há apenas uns dias revelou-nos que as fármacias tinham filas à porta desde a madrugada, não estão a ter reposição de stocks e todos os remédios deixaram de ser comparticipados.
Vejamos agora as próximas horas. Para bem de todos nós, e em especial dos gregos, que consigam chegar a um acordo, formar um governo e começar a trabalhar todos juntos no sentido da estabilidade política, económica e social. Não há dinheiro que resolva o problema se estas três componentes não voltarem a seguir o caminho do progresso.
Agora alguém terá que ceder. Ou teremos um governo minoritário, que acabaria por cair mais ano menos ano, ou o Pasok volta atrás na sua palavra e teremos uma maioria estável que terá que governar contra os 60% a 70% de gregos que votaram contra a austeridade ou, por fim, o Syriza aceite entrar num governo pró-Troika o que seria um harakiri político.
Nada mudou desde o início de Maio. O mesmo nó cego, a mesma impossibilidade de formação de um governo estável e o interesse das várias partes em conflito tal que as cedências dificilmente se tornam opções. Mas algo mudou e muito: hoje a Grécia tem menos um mês para resolver os seus problemas. E se tiverem que ir novamente a eleições é provável que vejam os cofres do tesouro vazios antes de terem um governo feito.
Márcia Rodrigues da RTP tem-nos mostrado o rápido colapso da sociedade grega numa sequência brilhante de entrevistas e peças jornalísticas. Há apenas uns dias revelou-nos que as fármacias tinham filas à porta desde a madrugada, não estão a ter reposição de stocks e todos os remédios deixaram de ser comparticipados.
Vejamos agora as próximas horas. Para bem de todos nós, e em especial dos gregos, que consigam chegar a um acordo, formar um governo e começar a trabalhar todos juntos no sentido da estabilidade política, económica e social. Não há dinheiro que resolva o problema se estas três componentes não voltarem a seguir o caminho do progresso.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
A minha vida é uma arma
Book Review
Da autoria de Christoph Reuter e publicado em Portugal pela editora Antígona, "A minha vida é uma arma, uma história moderna dos bombistas suicidas" leva-nos ao intrigante mundo dos que dão a sua vida por causas que consideram ser maiores do que o seu instinto de sobrevivência. É também, inevitavelmente, uma história do Médio Oriente moderno e do Islão das últimas quatro décadas, mesmo que esse fenómeno não seja um exclusivo nem desta região nem desta religião.
Resolve inúmeros mitos como o grau de religiosidade dos auto proclamados mártires, focando-se sobretudo na motivação destes e nos seus resultados a curto, médio e longo prazo. Acima de tudo, considero que o grande valor do livro está na capacidade de Reuter de fazer as perguntas certas, mesmo quando incómodas. É demasiado fácil - e inútil - considerar simplesmente estas pessoas como fanáticos religiosos que procuram destruir o mundo e ir para um paraíso repleto de virgens à sua disposição. Porque motivo não existiu um único bombista suicida palestiniano desde a criação do estado de Israel (em 1948) até aos anos 80? Porque motivo os atentados não foram constantes mesmo depois de aberto o precedente? O que explica que o Irão tenha utilizado mártires a uma escala de dezenas de milhares numa só batalha contra o Iraque? Qual a relação dos Kamikazes japoneses com tudo isto? Como é que a extremistas religiosos muçulmanos utilizam a via do suicídio quando este é expressamente proibido pelo Corão? Como é que a Al Qaeda (essencialmente Sunita) adquiriu esse fenómeno que era próprio da cultura sacrificial Shiita? Como é que esses métodos são depois "exportados" para o Sri Lanka ou a Tchechenia? Qual a relação entre os processos de paz e estes ataques?
Com apenas 5 bombistas suicidas, o Hizbullah conseguiu causar no início dos anos 80 mais de 500 mortes inimigas, entre americanos, franceses e israelitas. Repeliu para fora do Líbano três dos mais poderosos exércitos do mundo. Desde então, tornou-se numa máquina de propaganda que compreendeu que nenhuma missão é bem sucedida se não for filmada e mostrada ao mundo através da sua televisão Al Manar. Os seus planos de emitir em Hebraico e Inglês mostram a importância que dão a amplificar os seus feitos e causar terror nos seus inimigos.
A maioria das histórias deste livro aparecem descritas em muitos outros livros sobre o Líbano, Israel, Palestina, Irão e Iraque. No entanto, há algo diferente aqui, que é o ponto de vista. Reuter procura os traços comuns entre os vários ataque assim como aquilo que os distingue. Entrevista as famílias dos "mártires" e os sobreviventes de ataques falhados e descreve os terramotos políticos causados por estes.
Depois de acabar o livro dou comigo a pensar que, dado o sucesso militar (e terrorista) de muitos destes ataques, que nada impede que os poderemos ver em breve cometidos por pessoas de outras religiões ou sem qualquer religião. O Sri Lanka foi já um exemplo disso. Os comunistas laicos da PFLP (Popular Front for the Liberation of Palestine) também.
Não sobram muitas armas a quem luta numa situação de total desvantagem, e estes atentados são a pura essência do terrorismo moderno: a criação de terror incontrolável em países seus inimigos, conseguindo a vitória sobre potências que numa guerra convencional nunca perderiam. São métodos assustadores para todos nós que assistimos a estes conflitos de longe e ainda mais para as suas vítimas, mas não são inconsequentes nem irreflectidos.
Da autoria de Christoph Reuter e publicado em Portugal pela editora Antígona, "A minha vida é uma arma, uma história moderna dos bombistas suicidas" leva-nos ao intrigante mundo dos que dão a sua vida por causas que consideram ser maiores do que o seu instinto de sobrevivência. É também, inevitavelmente, uma história do Médio Oriente moderno e do Islão das últimas quatro décadas, mesmo que esse fenómeno não seja um exclusivo nem desta região nem desta religião.
Resolve inúmeros mitos como o grau de religiosidade dos auto proclamados mártires, focando-se sobretudo na motivação destes e nos seus resultados a curto, médio e longo prazo. Acima de tudo, considero que o grande valor do livro está na capacidade de Reuter de fazer as perguntas certas, mesmo quando incómodas. É demasiado fácil - e inútil - considerar simplesmente estas pessoas como fanáticos religiosos que procuram destruir o mundo e ir para um paraíso repleto de virgens à sua disposição. Porque motivo não existiu um único bombista suicida palestiniano desde a criação do estado de Israel (em 1948) até aos anos 80? Porque motivo os atentados não foram constantes mesmo depois de aberto o precedente? O que explica que o Irão tenha utilizado mártires a uma escala de dezenas de milhares numa só batalha contra o Iraque? Qual a relação dos Kamikazes japoneses com tudo isto? Como é que a extremistas religiosos muçulmanos utilizam a via do suicídio quando este é expressamente proibido pelo Corão? Como é que a Al Qaeda (essencialmente Sunita) adquiriu esse fenómeno que era próprio da cultura sacrificial Shiita? Como é que esses métodos são depois "exportados" para o Sri Lanka ou a Tchechenia? Qual a relação entre os processos de paz e estes ataques?
Com apenas 5 bombistas suicidas, o Hizbullah conseguiu causar no início dos anos 80 mais de 500 mortes inimigas, entre americanos, franceses e israelitas. Repeliu para fora do Líbano três dos mais poderosos exércitos do mundo. Desde então, tornou-se numa máquina de propaganda que compreendeu que nenhuma missão é bem sucedida se não for filmada e mostrada ao mundo através da sua televisão Al Manar. Os seus planos de emitir em Hebraico e Inglês mostram a importância que dão a amplificar os seus feitos e causar terror nos seus inimigos.
A maioria das histórias deste livro aparecem descritas em muitos outros livros sobre o Líbano, Israel, Palestina, Irão e Iraque. No entanto, há algo diferente aqui, que é o ponto de vista. Reuter procura os traços comuns entre os vários ataque assim como aquilo que os distingue. Entrevista as famílias dos "mártires" e os sobreviventes de ataques falhados e descreve os terramotos políticos causados por estes.
Depois de acabar o livro dou comigo a pensar que, dado o sucesso militar (e terrorista) de muitos destes ataques, que nada impede que os poderemos ver em breve cometidos por pessoas de outras religiões ou sem qualquer religião. O Sri Lanka foi já um exemplo disso. Os comunistas laicos da PFLP (Popular Front for the Liberation of Palestine) também.
Não sobram muitas armas a quem luta numa situação de total desvantagem, e estes atentados são a pura essência do terrorismo moderno: a criação de terror incontrolável em países seus inimigos, conseguindo a vitória sobre potências que numa guerra convencional nunca perderiam. São métodos assustadores para todos nós que assistimos a estes conflitos de longe e ainda mais para as suas vítimas, mas não são inconsequentes nem irreflectidos.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
A perda da inocência
Muitas revoluções começam por ser um levantamento popular genuíno em que o povo procura legitimamente maiores liberdades, honestidade na política, transparência nos serviços policiais e secretos, uma justiça cega e um estado de direito. Considero que, na sua generalidade, a Primavera Árabe representou, para as ruas do Cairo, Damasco, Tunis e muitas outras capitais, essa inocência e verdade de objectivos.
Mas a outra face da inocência e honestidade é a ingenuidade. E quando o sangue começa a banhar as ruas dessas mesmas cidades, os cálculos tornam-se mais frios e bárbaros. Como um predador em cativeiro desde a nascença, o perigo está em que conheça o sabor a sangue, transformando-o naquilo que na sua essência, ainda é. E o ser humano também o é: um animal selvagem que depois de conheçer o sabor do sangue dificilmente se livra desse instinto.
Tunísia e Egipto cairam rapidamente. Suficientemente depressa para os revoltosos conseguirem manter a sua inocência intacta. Mantiveram-se na posição de vítimas nunca deixando que crescessem para o lugar de opressores eles mesmos. No Yemen, Líbia e Síria, a situação prolongou-se até que os mais cínicos, pragmáticos e violentos dos revoltosos tomassem conta da revolta. O poder passou dos idealistas para os generais anti-governo.
E é aí que começam as minha dúvidas. Quando não temos um claro inocente na história. Quando da oposição pode sair algo igual ou pior do que o já lá está. E devemos ter sempre em conta que não existe nenhuma situação tão má que não possa ser piorada. Viu-se isso no Irão, onde depois de um corrupto bárbaro ser deposto do poder (o Xã e a sua família) um "homem santo" ascendeu à direcção dos destinos do país (o Ayatollah Khomeini) mostrando imediatamente uma face ainda mais déspota e sanguinária do que a do seu antecessor.
Tal como defende a ONG Avaaz, acredito que é necessário iniciar imediatamente um embargo de armas total ao governo sírio e à oposição. Criar uma no-fly zone sobre todo o território e se nada mais funcionar, seguir o exemplo da Bósnia fazendo uma intervenção directa da ONU, com tropas de vários países nomeadamente dos russos e americanos. Assad não tem nem nunca teve qualquer legitimidade para estar à frente do seu país, no entanto é preciso garantir que a sua deposição não é seguida de um ajuste de contas sobre as muitas minorias étnicas e religiosas existentes na Síria.
Perdeu-se o momento em que a revolução na Síria poderia ter corrido realmente bem. Bashar Al Assad não o permitiu e entrou num jogo de tudo ou nada que dificilmente ganhará.
Para o resto do mundo, e em especial para o Conselho de Segurança da ONU, agora é uma questão de tentar controlar os danos, não permitir que os massacres continuem e evitar que a guerra civil continue a escalar e eventualmente chegue aos países vizinhos.
Mas a outra face da inocência e honestidade é a ingenuidade. E quando o sangue começa a banhar as ruas dessas mesmas cidades, os cálculos tornam-se mais frios e bárbaros. Como um predador em cativeiro desde a nascença, o perigo está em que conheça o sabor a sangue, transformando-o naquilo que na sua essência, ainda é. E o ser humano também o é: um animal selvagem que depois de conheçer o sabor do sangue dificilmente se livra desse instinto.
Tunísia e Egipto cairam rapidamente. Suficientemente depressa para os revoltosos conseguirem manter a sua inocência intacta. Mantiveram-se na posição de vítimas nunca deixando que crescessem para o lugar de opressores eles mesmos. No Yemen, Líbia e Síria, a situação prolongou-se até que os mais cínicos, pragmáticos e violentos dos revoltosos tomassem conta da revolta. O poder passou dos idealistas para os generais anti-governo.
E é aí que começam as minha dúvidas. Quando não temos um claro inocente na história. Quando da oposição pode sair algo igual ou pior do que o já lá está. E devemos ter sempre em conta que não existe nenhuma situação tão má que não possa ser piorada. Viu-se isso no Irão, onde depois de um corrupto bárbaro ser deposto do poder (o Xã e a sua família) um "homem santo" ascendeu à direcção dos destinos do país (o Ayatollah Khomeini) mostrando imediatamente uma face ainda mais déspota e sanguinária do que a do seu antecessor.
Tal como defende a ONG Avaaz, acredito que é necessário iniciar imediatamente um embargo de armas total ao governo sírio e à oposição. Criar uma no-fly zone sobre todo o território e se nada mais funcionar, seguir o exemplo da Bósnia fazendo uma intervenção directa da ONU, com tropas de vários países nomeadamente dos russos e americanos. Assad não tem nem nunca teve qualquer legitimidade para estar à frente do seu país, no entanto é preciso garantir que a sua deposição não é seguida de um ajuste de contas sobre as muitas minorias étnicas e religiosas existentes na Síria.
Perdeu-se o momento em que a revolução na Síria poderia ter corrido realmente bem. Bashar Al Assad não o permitiu e entrou num jogo de tudo ou nada que dificilmente ganhará.
Para o resto do mundo, e em especial para o Conselho de Segurança da ONU, agora é uma questão de tentar controlar os danos, não permitir que os massacres continuem e evitar que a guerra civil continue a escalar e eventualmente chegue aos países vizinhos.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Palestinian Refugees: From the Frying Pan into the Fire
Fonte: Uprooted Palestinians
Forced to flee, denied entry to Arab countries, and unable to return to their homeland, former Palestinian residents of Iraq are on the Iraqi-Syrian border, still waiting for somewhere to go.
The appeal arrived via Facebook. It was like a message in a bottle thrown into the sea with little hope. The sender said he was living in a camp on the Iraqi-Syrian border along with some 200 other Palestinian refugees. They had been left stranded on the dangerous frontier between a country that is facing a combined civil war and foreign onslaught, and another that has been occupied and now persecutes them as “Saddam remnants.”
The place is called al-Hol camp. The Palestinian embassy in Lebanon said it knew nothing about these Palestinians. UNRWA said they were not registered with it. How come?
We contacted the young man, named Firas Saidam, to ask. A few days later – the web in Syria is not in good shape – we succeeded. He replied that after Israel occupied Palestine in 1948, the Iraqi government undertook to care for Palestinians in its territory, in return for not contributing to UNRWA.
And so it was.
In the 1970s, after the Baath party came power, the Palestinians were accommodated at public expense in state-owned housing in the al-Baladiyat district and some other parts of Baghdad. But after Iraq was subjected to sanctions in 1990, Firas explained, living conditions worsened badly for Iraqis. Yet Saddam continued to boast of his support for the Palestinians, publicly pledging in 2002, for example, to donate one billion euros to Palestine, at a time when Iraqis were going hungry. “People became very poor,” he said, “and so they started hating us.”
Then came the American occupation, followed by anarchy and the outbreak of sectarian violence, especially after the bombing of Shia shrines. “The Palestinians were in trouble twice over. They were Sunni, and they were ‘Saddam’s pets.’ Either way, we had to escape,” he said.
Did they flee in fear, or actually face reprisals? He sighed and replied: “My dear, out of the two hundred people currently here, 90 percent have had relatives kidnapped or killed.”
Three refugee camps were initially established on the Iraqi-Syrian border: Al-Waleed camp on the Iraqi side; al-Tanf camp in the no-man’s land in between the two countries’ territories, and al-Hol some ten kilometers inside Syria and 50 kilometers east of the town of al-Hasaka.
“We are the left-over people from al-Tanf,” said Firas. He was referring to the closure of the al-Tanf camp by the UN High Commissioner for Refugees (UNHCR) in early 2010, after it arranged for the resettlement of most of the inhabitants to third countries. Others were moved to al-Hol, where 215 people remain today, including around 100 who have no solution to their cases in sight, according to Firas.
As Firas and fellow Palestinian refugees in Iraq were not placed under UNRWA’s jurisdiction in 1948, they are being dealt with by UNHCR. It provides refugees with one of three possible solutions: return to the country they came from, settlement in the host country, or resettlement in a third. Many of the displaced Palestinians in the border camps opted for the third option after 2006, when the Arab League signed an agreement with UNHCR stating that this would not prejudice their right of return to Palestine. But according to Firas, the resettlement program was discontinued when there were only some 200 cases left to process, due to a change of priorities at UNHCR.
What about returning to Iraq? “That would be impossible,” Firas said. “We heard news just a couple of days ago that they were still raiding our homes in al-Baladiyat and other areas ... Our lives are still in danger there. We cannot.”
How about settling in Syria? “We are grateful to the Syrians for hosting us for seven years even though they were not obliged to,” he said. “But Syria in its current state is not a solution.” Al-Hol camp is adjacent to a Syrian army base that recently came under attack from gunmen (on the night of April 28). Residents are in real danger, and living conditions are poor, with plastic sheets used as roofing. They feel abandoned by UNHCR.
According to Firas, the Commission only began paying serious attention to the plight of the refugees at al-Hol after they staged a strike in 2008. Resettlement then began to places like Canada, Australia and Sweden – as no nearer country was prepared to take them. A handful of the al-Hol camp’s residents have been there since 2006, and are still waiting for countries to accept them.
But with the issue of the Iraqi-Palestinian refugees fading from the media and the international public eye, fewer potential host-states countries have been prepared to consider taking them in. More than two thirds of the 215 remaining at al-Hol are women and children.
UNHCR reportedly tried to promote the idea of arranging for them to be moved permanently to Damascus. But this fell through as a result of events in Syria. While it is unclear if the Commission is indeed still seeking such a solution, it is one the remaining refugees themselves strongly oppose – for legal, practical, personal reasons.
Firas charged that the UNHCR had conveyed the false impression that all the cases in the camp had been resolved. In 2010, it offered some of them a chance of going to the United States, but many turned that down because they had been detained by US forces during the occupation, and for other reasons related to immigration procedures. He said the refugees had tried to reason with UNHCR, but facing an unknown future and worsening conditions, they decided to stage an open-ended protest, possibly leading to a hunger strike.
Their principal demand is to be resettled in countries where they have relatives – mostly outside the Arab world, as the supposedly “fellow” Arab states have refused to receive them, and they cannot go back to their occupied homeland.
In the meantime, they want to be moved to a safe location outside Syria, where having already fled persecution and death in Iraq, they now face new dangers.
Their case, incidentally, has not been taken up by any Palestinian agency, official or unofficial.
Forced to flee, denied entry to Arab countries, and unable to return to their homeland, former Palestinian residents of Iraq are on the Iraqi-Syrian border, still waiting for somewhere to go.
The appeal arrived via Facebook. It was like a message in a bottle thrown into the sea with little hope. The sender said he was living in a camp on the Iraqi-Syrian border along with some 200 other Palestinian refugees. They had been left stranded on the dangerous frontier between a country that is facing a combined civil war and foreign onslaught, and another that has been occupied and now persecutes them as “Saddam remnants.”
The place is called al-Hol camp. The Palestinian embassy in Lebanon said it knew nothing about these Palestinians. UNRWA said they were not registered with it. How come?
We contacted the young man, named Firas Saidam, to ask. A few days later – the web in Syria is not in good shape – we succeeded. He replied that after Israel occupied Palestine in 1948, the Iraqi government undertook to care for Palestinians in its territory, in return for not contributing to UNRWA.
And so it was.
In the 1970s, after the Baath party came power, the Palestinians were accommodated at public expense in state-owned housing in the al-Baladiyat district and some other parts of Baghdad. But after Iraq was subjected to sanctions in 1990, Firas explained, living conditions worsened badly for Iraqis. Yet Saddam continued to boast of his support for the Palestinians, publicly pledging in 2002, for example, to donate one billion euros to Palestine, at a time when Iraqis were going hungry. “People became very poor,” he said, “and so they started hating us.”
Then came the American occupation, followed by anarchy and the outbreak of sectarian violence, especially after the bombing of Shia shrines. “The Palestinians were in trouble twice over. They were Sunni, and they were ‘Saddam’s pets.’ Either way, we had to escape,” he said.
Did they flee in fear, or actually face reprisals? He sighed and replied: “My dear, out of the two hundred people currently here, 90 percent have had relatives kidnapped or killed.”
Three refugee camps were initially established on the Iraqi-Syrian border: Al-Waleed camp on the Iraqi side; al-Tanf camp in the no-man’s land in between the two countries’ territories, and al-Hol some ten kilometers inside Syria and 50 kilometers east of the town of al-Hasaka.
“We are the left-over people from al-Tanf,” said Firas. He was referring to the closure of the al-Tanf camp by the UN High Commissioner for Refugees (UNHCR) in early 2010, after it arranged for the resettlement of most of the inhabitants to third countries. Others were moved to al-Hol, where 215 people remain today, including around 100 who have no solution to their cases in sight, according to Firas.
As Firas and fellow Palestinian refugees in Iraq were not placed under UNRWA’s jurisdiction in 1948, they are being dealt with by UNHCR. It provides refugees with one of three possible solutions: return to the country they came from, settlement in the host country, or resettlement in a third. Many of the displaced Palestinians in the border camps opted for the third option after 2006, when the Arab League signed an agreement with UNHCR stating that this would not prejudice their right of return to Palestine. But according to Firas, the resettlement program was discontinued when there were only some 200 cases left to process, due to a change of priorities at UNHCR.
What about returning to Iraq? “That would be impossible,” Firas said. “We heard news just a couple of days ago that they were still raiding our homes in al-Baladiyat and other areas ... Our lives are still in danger there. We cannot.”
How about settling in Syria? “We are grateful to the Syrians for hosting us for seven years even though they were not obliged to,” he said. “But Syria in its current state is not a solution.” Al-Hol camp is adjacent to a Syrian army base that recently came under attack from gunmen (on the night of April 28). Residents are in real danger, and living conditions are poor, with plastic sheets used as roofing. They feel abandoned by UNHCR.
According to Firas, the Commission only began paying serious attention to the plight of the refugees at al-Hol after they staged a strike in 2008. Resettlement then began to places like Canada, Australia and Sweden – as no nearer country was prepared to take them. A handful of the al-Hol camp’s residents have been there since 2006, and are still waiting for countries to accept them.
But with the issue of the Iraqi-Palestinian refugees fading from the media and the international public eye, fewer potential host-states countries have been prepared to consider taking them in. More than two thirds of the 215 remaining at al-Hol are women and children.
UNHCR reportedly tried to promote the idea of arranging for them to be moved permanently to Damascus. But this fell through as a result of events in Syria. While it is unclear if the Commission is indeed still seeking such a solution, it is one the remaining refugees themselves strongly oppose – for legal, practical, personal reasons.
Firas charged that the UNHCR had conveyed the false impression that all the cases in the camp had been resolved. In 2010, it offered some of them a chance of going to the United States, but many turned that down because they had been detained by US forces during the occupation, and for other reasons related to immigration procedures. He said the refugees had tried to reason with UNHCR, but facing an unknown future and worsening conditions, they decided to stage an open-ended protest, possibly leading to a hunger strike.
Their principal demand is to be resettled in countries where they have relatives – mostly outside the Arab world, as the supposedly “fellow” Arab states have refused to receive them, and they cannot go back to their occupied homeland.
In the meantime, they want to be moved to a safe location outside Syria, where having already fled persecution and death in Iraq, they now face new dangers.
Their case, incidentally, has not been taken up by any Palestinian agency, official or unofficial.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Territórios Desocupados da Palestina
Ehud Barak - Ministro da Defesa israelita |
Já aqui tínhamos falado anteriormente sobre essa impossibilidade lógica de Israel ser um Estado Judeu e Democrático. Se quer ser um estado judeu, então uma parte dos cidadãos terão que ter menos ou nenhuns direitos. Se quer ser um estado democrático, então todos terão que ser iguais perante a lei independentemente da religião ou etnia. Se este situação é complicada nas fronteiras aceites internacionalmente (dos cerca de oito milhões de habitantes, dois milhões são árabes), então com a inclusão dos territórios ocupados o número de árabes provavelmente excederá rapidamente o da população judaica. Isto, aos olhos dos israelitas, faz com que seja totalmente impossível imaginar uma solução de um estado binacional já que os muçulmanos e cristãos palestinianos teriam a maioria do parlamento, com a complicação acrescida dos israelitas estarem bastante mais divididos em partidos relativamente pequenos enquanto os palestinianos concentram todos os seus votos em apenas dois partidos.
Yitzahk Rabin, prémio Nobel da Paz e Primeiro Ministro de Israel até ao seu assassinato em 1995 às mãos de um extremista judeu, explicou a sua assinatura dos tratados de Oslo de uma forma semelhante. Na sua opinião, não seria possível a Israel manter a sua identidade se tivesse que governar milhões de cidadãos hostis. Ao colocar em causa o bíblico projecto de Eretz Yisrael, as forças mais conservadores do seu país moveram-se para colocar um fim à sua vida.
Eretz Yisrael - Grande Israel |
Já antes Ehud Barak se tinha afastado destas ideias, e numa frase resumiu de forma brilhante a situação de Israel:
"Cada tentativa de manter estas regiões [Gaza e Cisjordânia] (...) leva necessariamente a um estado não-democrático ou a um estado não-judeu. Porque se os palestinianos votarem, isto será um estado bi-nacional, e se não votarem será um apartheid."[3]
Embora compreenda o pensamento do ministro da defesa israelita (e que poderá mesmo significar uma mudança de rumo de todo o governo dada a recente inclusão do partido Kadima no governo de coligação), tenho dúvidas se o unilateralismo será a melhor solução. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, acabou por ser a grande vítima da retirada unilateral de Gaza que foi transformada pelo Hamas numa vitória da sua resistência armada contra Israel. Seria provavelmente do interesse de Israel que o equilíbrio de poder na Palestina desequilibrasse para o lado Abbas e uma retirada pacífica, coordenada e acordada entre os dois conseguiria isso mesmo. Para além disso, poderia ser utilizada como um primeiro passo para a retoma do processo de negociação de paz, congelado há 3 anos.
Um último dado será certamente a Primavera Árabe. A indefinição do futuro próximo dos seus vizinhos é certamente um risco para Israel. O Líbano está tão agitado como sempre, com um Hizbullah que mantém a sua força e acumula stocks de armamento. A Síria está em guerra civil e o resultado é uma interrogação. O Egipto poderá em breve estar totalmente controlado pela Irmandade Muçulmana. Apenas a Jordânia se mantém calma devido à mestria com que o seu monarca tem gerido a Primavera Árabe.
Solucionar a questão Israelo-Palestiniana não é só importante, mas também urgente. Por muita pouca esperança que os intervenientes tenham neste processo de paz, a bem de todos os habitantes da região nenhuma das partes tem o direito de desistir.
domingo, 3 de junho de 2012
Egipto - Um beco sem saída?
Mubarak durante a leitura da sentença |
A contribuir para uma desconfiança total no sistema judiciário está ainda a questão de Mubarak ter sido considerado culpado apenas de não ter evitado os massacres, quando a generalidade da população acredita que ele foi o mandante. Que o seu crime não é de negligência, mas premeditado e ordenado pessoalmente.
Na realidade, todo o sistema da era Mubarak ainda se mantém de pé. A sua polícia secreta (mukhabarat), os seus tribunais, toda a economia, forças militares e polícias são as mesmas que das últimas três décadas. Não admira por isso que Mubarak não tenha ainda passado uma noite na cadeia. Todo este tempo, desde a sua detenção até hoje, foi passado num hospital de Sharm El Sheikh devido à necessidade de cuidados de saúde. Este, como seria de imaginar, torna o descrédito ainda maior.
Em paralelo, as eleições presidenciais resumem-se a apenas dois candidatos: Mohamed Morsi do Partido Liberdade e Justiça (ou seja a Irmandade Muçulmana) e Ahmed Shafik, independente, mas conotado com o regime de Mubarak e último primeiro ministro deste. Ou seja, a democracia egípcia tem apenas dois caminhos que são o de voltar atrás ou de avançar para um regime dominado na presidência e no parlamento pelos conservadores islâmicos (não utilizo o termo fundamentalista porque ainda temos os salafistas que fazem a irmandade parecer liberal).
Para todos os cristão, ateus, muçumanos moderados ou seculares, ter que fazer uma escolha destas é quase tão mau como quando não eram sequer chamados a decidir o seu líder.
O facto do ditador egípcio não ter recebido a pena de morte que todos esperavam, acrescido de nem sequer estar a ser julgado pelos crimes cometidos pelo seu regime durante três décadas, pode ser visto ainda como uma forma de ganhar tempo até que Shafik ganhe as eleições, altura em que o poderá eventualmente salvar de toda esta humilhação. O sistema é poderoso, rígido e antigo e combate a mudança - qualquer que ela seja - com todas as suas forças.
Esta história não ficará por aqui. Os militares não parecem ter qualquer vontade de entregar o poder a civis e mesmo depois das eleições poderão tentar aguentar a sua junta militar no poder até que uma constituição esteja escrita e aprovada no parlamento, o que poderá demorar algum tempo.
O maior dos sonhos do mundo árabe poderá transformar-se num pesadelo se as forças militares egípcias e a irmandade muçulmano não souberem estar à altura do momento histórico que vivem.
Enquanto olhava para as imagens de Hosni Mubarak atrás das grades, no tribunal do Cairo, lembrei-me das últimas palavras de Khalid Islambouli, o homem que assassinou o anterior presidente do Egipto, Anwar Sadat, durante uma parada militar em 1981: "Morte ao Faraó". Neste país, estas palavras têm muita força. Um Faraó é alguém que se julga Deus, que concentra em si o poder absoluto. Perguntei-me em silêncio se Mubarak teria sido o último. Ou só mais um.
sábado, 2 de junho de 2012
Dennis Kucinich - Patriot Act
Dennis Kucinich - Partido Democrata |
Em 2008, o partido Democrático americano iniciava as suas eleições primárias que levariam à escolha do seu candidato presidencial. À medida que foi avançando, os candidados cairam até ficarem apenas dois: Hillary Clinton e Barack Obama. O final desta história é conhecido por todos, dando a vitória a Obama que depois de se tornar presidente dos EUA chama a senhora Clinton para a pasta dos negócios estrangeiros.
Este video que aqui vos trago hoje, é de um dos primeiro debates das primárias, com todos os 8 candidatos ainda na corrida (entre eles Joe Biden, que seria depois escolhido por Obama para Vice Presidente e do qual falei aqui recentemente). Concentra-se nas perguntas e respostas feitas a um único dos candidatos, Dennis Kucinich, personagem desconhida na europa, mas que em tudo parece europeia. As suas propostas são um decalque do que é uma social democracia europeia: saúde e educação universal, política de imigração que não vá contra os imigrantes, legalização dos imigrantes ilegais, sindicatos com força, etc. Não achei possível ouvir um político americano falar desta forma.
Mas o motivo porque escolhi este video, foi para relembrar algo que ainda está activo, que continua a causar vítimas, mas que está esquecido e que é um ataque aos direitos do homem, o Patriot Act de Outubro de 2001[1] criado no fervor vingativo pós 11 de Setembro.
Wolf Blitz da CNN, que conduz o debate, pergunta:
I believe you were the only person on this stage that had the
chance to vote against the Patriot Act.
E a resposta imediata de Kucinich:
That's because I read it!
Esta legislação foi extendida em 2011 por Obama por mais 4 anos, o que significa que deve ser tida em consideração ainda hoje, mais de uma década depois do 11 de Setembro de 2001. Através desta lei, o estado americano permite-se a detenções por tempo indefinidas (semelhantes à detenção administrativa usada por Israel), entrada e pesquisa em domicílios e estabelicimentos comerciais sem o conhecimento dos seus proprietários e utilização de escutas de telefone, email e contas bancárias sem uma autorização judicial. Vários tribunais federais consideraram várias das actuações feitas ao abrigo desta lei como inconstitucionais, mas a verdade é que esta se mantém vigente.
Hans Blix, Irão e Coreia do Norte
Hans Blix e Mohamed ElBaradei |
Já aqui escrevi anteriormente sobre o relatório da AIEA de 18 de Novembro de 2011 [1] que é bastante crítico do Irão e que foi utilizado por muitos como prova cabal de que o Irão está a produzir uma bomba nuclear. Falei de um deles, Itamar Rabinovich, em fevereiro, depois de este antigo embaixador de Israel nos Estados Unidos ter publicado um artigo no jornal "O Público" com o título "A globalização da ameaça nuclear iraniana" onde defendia que a finalização de uma bomba nuclear iraniana estaria iminente [2]. Muitos outros, quer em Israel (nomeadamente ligados ao partido Likud de Benjamin Netanyahu) quer nos Estados Unidos seguiram a mesma linha de raciocínio.
Não foi a leitura que fiz do relatório de 19 de Novembro, e pelos vistos não sou o único. Hans Blix, um diplomata sueco que dedicou grande parte das últimas décadas aos problemas nucleares do mundo é referenciado regularmente nas páginas deste blog. Entre outras missões, acompanha Mohamed ElBaradei nas missões da ONU para procurar armas de destruição massiva no Iraque em 2003 e ajudou a União Soviética no evento do desastre nuclear de Chernobyl em 1986.
Sobre este relatório, Blix afirma que continuam a não existir provas, e que as constantes ameaças feitas por Israel e Estados Unidos só conseguem piorar a situação e reafirma a necessidade de acalmar os animos em ambos os lados. Avisa ainda que o aumento contínuo da capacidade de enriquecimento de urânio por parte dos iranianos está a colocar uma pressão tremenda na diplomacia internacional e que estes deveriam ter em conta esses efeitos na normalização das relações diplomáticas entre o Irão e o mundo ocidental.
Em relação a Newt Gingrich relembra as palavras deste ex-candidato às primárias do Partido Republicano, onde ele ameaça com uma mudança de regime no Irão. Blix pergunta ironicamente, se Gingrich pretende uma mudança usando o modelo iraquiano ou o modelo afegão. Este ex-candidato já tinha mostrado anteriormente os seus vastos conhecimentos sobre o médio oriente e a sua posição sobre este quando conseguiu no espaço de semanas referir-se aos palestinianos como "um povo inventado" e depois reduzindo-os a "essa gente [os palestinianos] são terroristas"
A parte mais relevante da entrevista, na minha opinião, refere-se à necessidade de criar um "Nuclear Weapons Free Middle East", i.e. nenhum país do médio oriente ter armas nucleares. Uma solução deste tipo pode tocar um pouco nos possíveis objectivos do Irão, mas é acima de tudo uma lembrança a Israel de que ninguém se esqueceu das ogivas nucleares na sua posse. Não podem exigir aos outros que não as tenham enquanto as guardam para qualquer eventualidade. As armas nucleares israelitas são precisamente o motivo porque o Irão poderia querer ter uma(s). Para procurar um equilíbrio do estilo MAD (Mutual Assured Destruction) semelhante ao que os Estados Unidos e a União Soviética tiveram durante quase meio século. Por outro lado, se o Irão conseguisse efectivamente construir uma, todos os estados árabes do golfo iriam procurar obtê-las também, para se poderem defender de uma possível ameaça do outro lado do golfo. Esta corrida ao armamento é incrivelmente perigosa, em especial quando esta região está numa instabilidade acrescida devido à Primavera Árabe.
Blix analisa também a mudança de liderança na Coreia do Norte e realça a importância de não provocar este país num momento em que o regime se encontra particularmente agitado.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
A Era da Mentira
Book Review
Eleito livro internacional do ano, o prémio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei leva-nos ao interior das intrigas internacionais no mundo da proliferação nuclear. Revela um conjunto de histórias interessantes e alguns momentos muito pessoais ligados à história recente e que ainda estão bem vivos na memória de todos. Como director da Agência Internacional de Energia Atómica das Nações Unidas (AEIA), esteve directamente ligado aos esforços para controlar a proliferação nuclear militar, assim como na ajuda aos estados membros na construção de capacidade nuclear civil.
Aborda muitos temas quentes, tais como o programa nuclear iraniano, o véu de mentiras que cobriu a invasão do Iraque em 2003, a capacidade nuclear israelita, o programa clandestino da Coreia do Norte e o bazar nuclear de A. Q. Khan. Em todos eles, apercebemos-nos de como a reação da comunidade internacional se revela completamente diferente dependendo não das acções, crimes ou atropelos aos tratados, mas sim pelo nível da relação das principais potências do mundo (em particular os EUA e o Reino Unido) em relação aos prevaricadores.
Não resisti a copiar quatro parágrafos que considerei particularmente esclarecedores. Acredito não estar a infringir os direitos de autor e possivelmente até a contribuir para suscitar interesse neste livro cuja compra recomendo vivamente:
O problema mais elementar do regime de não-proliferação nuclear é, em si mesmo, um exemplo de duplo critério: a assimetria inerente, ou desigualdade, entre os que têm nuclear e os que não têm, exacerbada pela contínua dependência dos Estados que têm armas nucleares em relação a estas e a sua falta de progresso no desarmamento nuclear. Mais grave, em vez de agirem no sentido de cumprirem o seu compromisso de desarmamento, a maior parte deles modernizou o seu arsenal e continuou a desenvolver novos tipos de armas. Para países que não têm tais armas, e que não estão abrigo de acordos de protecção nuclear, como a NATO, isto reforça a percepção de a aquisição de armas nucleares é um caminho seguro para o poder e o prestígio, uma apólica de seguro contra ataques.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas também é parte do problema, em parte devido ao poder de veto dos P5, os cinco estados com armas nucleares. O dever do Conselho de Segurança é manter a paz e a segurança internacionais e responder a ameaças contra elas. Certamente nem todas as violações de um acordo de salvaguardas da AIEA são graves o suficiente para chegarem ao Conselho de Segurança. No entanto, nessas raras ocasiões, quando tais violações são encaminhadas, o Conselho deve responder apropriadamente: deve ser ágil, resoluto, enérgico quando é necessário e, acima de tudo, consistente nas suas acções.
De acordo com estes critérios, o registo das actuações do Conselho de Segurança em resposta a ameaças nucleares tem sido insondável. Em 1981, depois de Israel ter destruído o reactor iraquiano de Osirak, o Conselho de Segurança condenou o bombardeamento e também instou Israel a colocar as suas instalações nucleares ao abrigo das salvaguardas da AIEA. Israel ignorou a resolução e o Conselho de Seguranças não fez mais nada em relação ao assunto. Em 1998, depois dos testes nucleares da Índia e do Paquistão, o Conselho de Segurança condenou os testes e pediu a ambos os países que parassem o desenvolvimento de armas nucleares e de sistemas de distribuição. Quando essas resoluções foram ignoradas o Conselho voltou a recuar. No caso da Coreia do Norte, quando a Agência referiu o seu não cumprimento, em 1993, e em 2003, quando o país saiu do TNP, o Conselho não tomou nenhuma acção significativa; em vez disso, deixou que os Estados Unidos tomassem a dianteira através do Quadro Acordado, no anos 90 e, mais tarde, deixou a China liderar as Conversações a Seis.
Por outro lado, em 1990, o Conselho de Segurança impôs sanções ao Iraque que levaram a escandalosas violações dos direitos humanos de milhões de civis iraquianos e que culminaram com a guerra de 2003 sem o consentimento do Conselho. Para agravar ainda mais a situação, o Conselho de Segurança continuou a manter certas sanções contra o Iraque, anos depois da invasão de 2003, quando era claro para todos que o Iraque não tinha qualquer programa de armas nucleares. O Conselho foi incapaz de concordar em como acabar com os mandatos da UNMOVIC e da AIEA no Iraque e fechar o ficheiro das armas de destruição massiva. E, sobrecarregados pela devastação de uma guerra que nunca deveria ter ocorrido, os iraquianos foram obrigados a financiar a UNMOVIC por mais quatro anos, enquanto esta estava parada, em Nova Iorque.
Eleito livro internacional do ano, o prémio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei leva-nos ao interior das intrigas internacionais no mundo da proliferação nuclear. Revela um conjunto de histórias interessantes e alguns momentos muito pessoais ligados à história recente e que ainda estão bem vivos na memória de todos. Como director da Agência Internacional de Energia Atómica das Nações Unidas (AEIA), esteve directamente ligado aos esforços para controlar a proliferação nuclear militar, assim como na ajuda aos estados membros na construção de capacidade nuclear civil.
Aborda muitos temas quentes, tais como o programa nuclear iraniano, o véu de mentiras que cobriu a invasão do Iraque em 2003, a capacidade nuclear israelita, o programa clandestino da Coreia do Norte e o bazar nuclear de A. Q. Khan. Em todos eles, apercebemos-nos de como a reação da comunidade internacional se revela completamente diferente dependendo não das acções, crimes ou atropelos aos tratados, mas sim pelo nível da relação das principais potências do mundo (em particular os EUA e o Reino Unido) em relação aos prevaricadores.
Não resisti a copiar quatro parágrafos que considerei particularmente esclarecedores. Acredito não estar a infringir os direitos de autor e possivelmente até a contribuir para suscitar interesse neste livro cuja compra recomendo vivamente:
O problema mais elementar do regime de não-proliferação nuclear é, em si mesmo, um exemplo de duplo critério: a assimetria inerente, ou desigualdade, entre os que têm nuclear e os que não têm, exacerbada pela contínua dependência dos Estados que têm armas nucleares em relação a estas e a sua falta de progresso no desarmamento nuclear. Mais grave, em vez de agirem no sentido de cumprirem o seu compromisso de desarmamento, a maior parte deles modernizou o seu arsenal e continuou a desenvolver novos tipos de armas. Para países que não têm tais armas, e que não estão abrigo de acordos de protecção nuclear, como a NATO, isto reforça a percepção de a aquisição de armas nucleares é um caminho seguro para o poder e o prestígio, uma apólica de seguro contra ataques.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas também é parte do problema, em parte devido ao poder de veto dos P5, os cinco estados com armas nucleares. O dever do Conselho de Segurança é manter a paz e a segurança internacionais e responder a ameaças contra elas. Certamente nem todas as violações de um acordo de salvaguardas da AIEA são graves o suficiente para chegarem ao Conselho de Segurança. No entanto, nessas raras ocasiões, quando tais violações são encaminhadas, o Conselho deve responder apropriadamente: deve ser ágil, resoluto, enérgico quando é necessário e, acima de tudo, consistente nas suas acções.
De acordo com estes critérios, o registo das actuações do Conselho de Segurança em resposta a ameaças nucleares tem sido insondável. Em 1981, depois de Israel ter destruído o reactor iraquiano de Osirak, o Conselho de Segurança condenou o bombardeamento e também instou Israel a colocar as suas instalações nucleares ao abrigo das salvaguardas da AIEA. Israel ignorou a resolução e o Conselho de Seguranças não fez mais nada em relação ao assunto. Em 1998, depois dos testes nucleares da Índia e do Paquistão, o Conselho de Segurança condenou os testes e pediu a ambos os países que parassem o desenvolvimento de armas nucleares e de sistemas de distribuição. Quando essas resoluções foram ignoradas o Conselho voltou a recuar. No caso da Coreia do Norte, quando a Agência referiu o seu não cumprimento, em 1993, e em 2003, quando o país saiu do TNP, o Conselho não tomou nenhuma acção significativa; em vez disso, deixou que os Estados Unidos tomassem a dianteira através do Quadro Acordado, no anos 90 e, mais tarde, deixou a China liderar as Conversações a Seis.
Por outro lado, em 1990, o Conselho de Segurança impôs sanções ao Iraque que levaram a escandalosas violações dos direitos humanos de milhões de civis iraquianos e que culminaram com a guerra de 2003 sem o consentimento do Conselho. Para agravar ainda mais a situação, o Conselho de Segurança continuou a manter certas sanções contra o Iraque, anos depois da invasão de 2003, quando era claro para todos que o Iraque não tinha qualquer programa de armas nucleares. O Conselho foi incapaz de concordar em como acabar com os mandatos da UNMOVIC e da AIEA no Iraque e fechar o ficheiro das armas de destruição massiva. E, sobrecarregados pela devastação de uma guerra que nunca deveria ter ocorrido, os iraquianos foram obrigados a financiar a UNMOVIC por mais quatro anos, enquanto esta estava parada, em Nova Iorque.
Mubarak não é um ditador
Joe Biden - Vice Presidente dos EUA |
Por exemplo, Saddam era muito mau porque tinha utilizado armas de destruição massiva em cima do seu próprio povo e porque torturava os adversários, tal como disse Tony Blair no parlamento inglês a 25 de Fevereiro de 2003 (três semanas antes do início da invasão):
(...) the tens of thousands imprisoned, tortured or executed by his barbarity every year. The innocent die every day in Iraq—victims of Saddam—and their plight, too, should be heard.
(...) To those who say we are rushing to war, I say this: we are now 12 years after Saddam was first told by the UN to disarm; nearly six months after President Bush made his speech to the UN accepting the UN route to disarmament; nearly four months on from resolution 1441; and even now, today, we are offering Saddam the prospect of voluntary disarmament through the UN. I detest his regime—I hope most people do—but even now, he could save it by complying with the UN's demand. Even now, we are prepared to go the extra step to achieve disarmament peacefully [1].
Quando as potências ocidentais invadiram o Iraque utilizando urânio empobrecido e torturando em Abu Graib, Guantánamo, Diego Garcia e outras prisões da CIA, não o fazem por serem maus. Fazem-no porque o inimigo é mau e os obriga a isso. É uma lógica retorcida (e que já agora, podia ser utilizada por ambos os lados), mas aparentemente aceite desde o mais comum dos mortais até aos grandes líderes do mundo. Curiosamente o facto de Saddam Hussein ter utilizado armas químicas e biológicas sobre os iranianos de Ayatollah Khomeini (durante a guerra Irão-Iraque nos anos 80 [2]) não é nunca dado como exemplo da vilania do ditador iraquiano. É que afinal de contas, os maus - nessa altura - eram os iranianos. O Saddam era dos bons e tinha o apoio da Arábia Saudita, dos estados do golfo e das potências ocidentais. As armas químicas utilizadas por Saddam tinham sido produzidas com o apoio da Alemanha, Itália, França, Brasil, Estados Unidos da América, Reino Unido, Áustria, Singapura, Holanda, Egipto, Índia, Luxemburgo, Espanha e China [3]. Como se pode ver, os telhados de vidro são amplos e cobrem quase todos os cantos do mundo.
Aqui temos mais um caso que demonstra que esta hipocrisia continua viva e de boa saúde. Em plena Primavera Árabe, com um milhão de pessoas na praça Tahrir no Egipto prestes a destituirem o ditador Hosni Mubarak que durante décadas torturou e corrompeu o berço da civilização mundial, o vice presidente americano Joe Biden é alvo da seguinte pergunta:
PBS: (...) should Mubarak be seen as a ditactor?
JB: Look [haaaa....] Mubarak has been an ally of ours in a number of things. He has been very responsible on relative to geo political interest in the region... [haaaa....] [haaaa...] [haaaa...] [he...] middle east peace... [he...] [he..] [ha...] efforts... [he...] [ha...] the actions Egypt is taking relative to [ha...] [ha...] normalize relationship with [ha...] with Israel [hum...] and I... I think that [ha...] [hum...] it would be... I... I would not refer to him as a ditactor.
Obviamente Joe Biden sabe melhor do que qualquer um de nós que Mubarak era mesmo um ditador. Que a sua polícia secreta - a temida Mukhabarat - comete violações dos direitos humanos numa base diária. Que as eleições eram totalmente falsificadas. Que os oponentes políticos eram presos e torturados. Que era líder de um país totalmente corrupto e em que ele próprio era um líder desse mesmo crime organizado. Que tinha uma fortuna acumulada de dezenas de milhares de milhões de dólares que não podem ser explicados pelo salário dele enquanto presidente, etc. Mas era um ditador útil. E por isso não pode ser chamado pelo que ele é. Mesmo quando nesse preciso momento a sua polícia reprimia violentamente manifestações no Cairo, Alexandria, Suez e outros pontos do Egipto com um nível de violência quase ilimitado.
Esta frase fez-me ainda recordar um momento extremamente infeliz de Franklin D. Roosevelt, presidente americano durante a segunda guerra mundial, que terá dito a seguinte frase sobre o ditador da Nicarágua, e aliado anti-comunista, Somoza, em 1939:
"Somoza may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch"
A única coisa que faz sentido na frase de Joe Biden é a dificuldade que ele tem em dizer tamanha mentira. Contei cada uma das hesitações e marquei-a no texto acima com os sons haaaa, he, ha e hum. São só 62 segundos. Vale a pena ver. E não esquecer.
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