quinta-feira, 24 de maio de 2012

Portugueses no Holocausto

Book Review

Da autoria de Esther Mucznik, este livro, cuja primeira edição acaba de ser imprimida, retrata de forma cuidada o envolvimento dos portugueses no holocausto, durante a segunda guerra mundial. Não só dos judeus de origem portuguesa que foram vítimas do holocausto por se encontrarem no país errado, tal como a França, Holanda ou Grécia ocupadas, mas também das origens desses portugueses, muitos deles descendentes de refugiados da inquisição no século XVI. Acrescenta a estes temas, o das movimentações dos diplomatas e políticos portugueses e a posição do governo de então.

António Oliveira Salazar, então presidente do conselho (o equivalente ao actual primeiro ministro) e ditador de Portugal, acumulando ainda as pastas de ministro dos negócios estrangeiros e da defesa, procurou manter Portugal fora da guerra, conseguindo tornar-se um "neutro útil" quer aos aliados (em especial à Inglaterra) quer ao eixo (nomeadamente à Alemanha). Dessa forma, o seu medo de provocar algum dos lados levou-o a indecisões que acabaram por custar a vida a muitos judeus portugueses, mesmo quando todos os países neutros receberam da Alemanha a permissão para retirar os seus nacionais - incluindo os judeus - dos territórios ocupados.

Mas se a política oficial portuguesa era hesitante, foram muitos os diplomatas portugueses que se mostraram extremamente corajosos ao darem vistos, fecharem os olhos a documentos forjados e confrontarem o governo português com as suas indecisões. Aristides de Sousa Mendes será sem dúvida o mais famoso de todos esses benfeitores, tendo salvo mais de 30 mil judeus, conquistando o seu lugar ao lado de Oscar Schindler (retratado no filme "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg) e muitos outros como um "Justo entre as Nações" (uma honra dada a não-judeus pelo estado de Israel para os que arriscaram as suas vidas para salvar judeus durante o holocausto).

Em Portugal, muitos desses judeus refugiados eram levados para longe de Lisboa, para cidades mais pequenas onde foram muito bem recebidos segundo os muitos testemunhos descritos neste livro. Embora muitos ficassem pasmados com o arcaismo de Portugal dos anos 40, a perspectiva da paz, segurança e uma possível viagem para o outro lado do atlântico foi uma dádiva dos deuses para estes judeus perseguidos pela fúria nazi.

Um livro extremamente interessante, de leitura fácil não obstante a seriedade do assunto e que nos ajuda a compreender a posição de Portugal e de muitos portugueses naquele que terá sido o maior crime alguma vez cometido na história da humanidade.

(o lançamento do livro será no dia 29 de Maio, às 18:30 no restaurante do piso 7 do Corte Inglês)

2 comentários:

  1. Bom dia António,
    quero agradecer os seus comentários encorajadores aos textos que tenho publicado no Blogue. Na verdade tenho tentado responder directamente, estou registado e tudo, mas não consigo. Há mesmo assuntos nos quais poderíamos iniciar algum debate profícuo a partir dos seus comentários. Tentarei efectuar novo registo um destes dias. O tempo é escasso.
    Uma vez mais, agradeço imensa as suas palavras e a sua simpatia.
    Forte abraço.

    Raúl M. Braga Pires

    Coordenador Blogue Maghreb / Machrek,
    www.expresso.pt/maghreb

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    1. Caro Raúl

      Muito obrigado pelas suas palavras. Tenho gostado imenso dos seus artigos e em muitos casos aprendido muito com eles. A minha experiência é maioritariamente no médio oriente, embora tenha viajado bastante por Marrocos e Sahara Ocidental por isso os seus artigos têm sido valiosos na compreensão do que se passa nesse lado do mundo islâmico.

      Compreendo que muitos portugueses estejam demasiado preocupados com o momento actual de Portugal e da Europa para olhar para os problemas dos outros "mundos", mas acredito que estamos todos tão interligados que temos mesmo que estar atentos ao que se passa à nossa volta.

      Eu faço os possíveis para acompanhar com bastante detalhe o que se passa no levante e península arábica. Para outras regiões, preciso mesmo que o Raúl e outros, nos mantenham a par do que se passa.

      Terei todo o gosto em iniciarmos debates sobre estes temas e espero vê-lo como utilizador registado em breve.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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