domingo, 1 de julho de 2012

S. Francisco de Assis

S. Francisco de Assis
"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."


Posso não ser um homem religioso, mas não tenho dúvidas de que ao longo dos últimos séculos por lá passaram algumas das mais brilhantes mentes que a humanidade teve a honra de conhecer. Uma interessantíssima é a de S. Francisco de Assis, frade do século XIII e fundador da Ordem dos Franciscanos[1].

A frase (atribuída a este santo) com que comecei este artigo é de uma sabedoria intemporal e algo que deveria estar escrito em placards nas ruas de todo o mundo. É óbvia, mas não é levada a sério. É teórica mas de uma utilidade prática extrema. E é brilhante, porque nos coloca no nosso lugar enquanto nos exige que nos excedamos.

Penso muito nesta frase quando vejo a Grécia e Portugal a lutarem para manterem a cabeça fora de água, no meio de uma crise do qual nenhum dos dois países é responsável, mas cuja irresponsabilidade em tudo o resto fez com que esta nos batesse mais forte do que a todos os outros países europeus.

Nem Portugal nem Grécia conseguirão sozinhos sair desta embrulhada. Nenhum conseguirá promover o crescimento europeu, a estabilidade da moeda única, a integração europeia ou resolver o nível de endividamento criminoso em que todos os países da europa cairam. Mas existe muito que está nas suas mãos: tornar os serviços públicos mas eficientes e rápidos, uma justiça ao serviço da Justiça (propositadamente com "J" maiúsculo e reforçando que "justiça lenta não é justiça nenhuma"), um povo que consuma moderadamente e dentro das suas capacidades financeiras, um indústria que consiga competir dentro e fora da europa, uma balança comercial equilibrada, um dependência exterior engergética decrescente, etc. Temos muitas coisas que estão nas nossas mãos, e essas têm que correr bem. O que não está ao nosso alcance, teremos que nos contentar em esperar pelo melhor e fazer todos os esforços diplomáticos para que os verdadeiros decisores (no eixo Berlim-Bruxelas-Paris) decidam da melhor forma.

(Fonte da imagem:Grupo Fraternal Francisco de Assis)

9 comentários:

  1. olá, quando dizes:
    "Penso muito nesta frase quando vejo a Grécia e Portugal a lutarem para manterem a cabeça fora de água, no meio de uma crise do qual nenhum dos dois países é responsável"

    tenho de ser mauzinho e perguntar se estás a falar a sério?

    cada caso é um caso mas o portugues e o grego é 100% estupidez nossa. a crise só antecipou o que era inevitável. Anos a fio de convivio com a corrupção, com a cunha e com a incompetêcia

    Anos a fio a votar nos partidos mais populistas possiveis.

    corrupção em todos os seguementos sociais.
    uma justiça cega feita e aceite para que nenhum politico vá preso. (relembro só que por exemplo o video http://www.youtube.com/watch?v=2nmIcGdlZiM que é uma confissão de corrupção e que não é aceite como prova em tribunal, mas o seria na inglaterra ou na alemanha por exemplo)

    quando aceitamos isto, somos tudo menos irresponsáveis. se consegues encher a avenida da liberdade para manifestações a reivindicar o que não podemos ter/sustentar tambem o devias conseguir para exigir que vergonhas destas não passasem em claro.

    deixo-te o convite para veres o meu ultimo artigo de um video que acho interessante como o contexto molda as pessoas ... e nós o que temos é um problema de contexto/cultura.

    http://sacodenavalhas.blogspot.pt/2012/07/natureza-humana-e-nossa-moralidade.html

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    1. Boas boas

      A frase completa é: "Penso muito nesta frase quando vejo a Grécia e Portugal a lutarem para manterem a cabeça fora de água, no meio de uma crise do qual nenhum dos dois países é responsável, mas cuja irresponsabilidade em tudo o resto fez com que esta nos batesse mais forte do que a todos os outros países europeus."

      Portugal e a Grécia não estão na origem da crise do sub-prime e logo a seguir da crise financeira que se seguiu. Mas são totalmente responsáveis pela crise orçamental em que cairam, com uma intensidade para lá de todos os outros países que sofreram igual crise. Essa parte é totalmente da nossa responsabilidade. E, tal como dizes, fruto de opções erradas umas atrás das outras durante governos de diversos partidos, com o Eng? Sócrates no seu topo.

      Vou ver os links que enviaste.

      Abraços

      António

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  2. sim tens razão, cortei-te a frase ... :) sorry (li meio de atravessado my bad)

    mas se formos a ver bem o sub-prime teve efeitos relativamente limitados em portugal e mesmo o facto de teres BCP e BPI a recapitalizar nos dinheiros da troika, só assim o é porque o crédito está generalizadamente "fechado" para portugal.

    o unico caso real de problemas na banca que tivemos foi o BPN, mas esse é um caso de policia acima de tudo.

    mas o ponto que eu queria tb marcar é que não podemos culpar so o governo central, portugal está "minado" até ao peixe miudo.

    as camaras municipais são uma central de corrupção e ineficiencia assombrosa. casos como os das receitas falsas ou evasão fiscal generalisada como na grecia que so 20% da população paga correctamente os impostos. por ai fora...
    todos nos conhecemos listas intermináveis de pequenas coisas que tudo somado resulta numa bola de neve.

    e vivemos com isso, não temos uma cultura de rigor, e respeito por regras, cada um tem de ser o chico esperto.

    pondo as coisas em perspectiva... na alemanha prenderam quem corrompeu no caso dos submarinos, em portugal ... nada, devem ter pago o suborno em milho para os pombos do rossio :) hehehe

    na alemanha o video do freeport (que é uma confissão) de corrupção era legalmente aceite e aposto que engaiolava o socrates e companhia, em portugal é o que vês.

    na alemanha até uma multa levei por atravessar uma rua a pé com sinal de peão vermelho. (tb abusam demais ... eu ainda sou tuga... hehehe)

    o ponto de fundo ... há muito que mudar em termos de identidade como povo e o que é socialmente aceite ou não.

    não quero com isto dar um ar de moralista, e espero não ser assim interpretado, eu tb sou bem tuga e conheço "trapalhadas" a mato e nada faço tb convivo com elas... faz parte de "ser tuga"
    cumps

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    1. Estou de acordo com tudo o que dizes. Mas como tu, centenas de milhares de portugueses vivem pelo mundo não dando quaisquer tipos de problemas, progredindo nas suas carreiras e fazendo vidas honestas e próprias de gente trabalhadora. Quem diria que vieram do caos que é o nosso país...

      Por isso eu defendo que não há nada de errado com os portugueses. Temos é um país terrível. Controlado por pseudo-capitalistas que na realidade são sanguessugas do estado e um sistema de financiamento partidário que garante que essa corrupção (quer ao nível central quer ao nível autárquico) se fortalece a cada dia que passa.

      Eu não quero ser um alemão ou suiço, mas tens toda a razão quando falas nos submarinos ou no freeport, ou em muitos outros casos como Sócrates, Relvas e tantos outros "low-life" que por aqui pupulam e fazem furor.

      Aquela frase final do S. Francisco de Assis compõe e explica as anteriores. Ele não deseja ser simplesmente um católico submisso. Quer também ser revolucionário. Mas com a sabedoria de saber que guerras lutar.

      Abraços

      António

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    2. que posturas tão fleumáticas. e lá vão progredindo nas carreiras silenciosamente. justamente os que alinham e que concordam e que dizem sim a tudo e mantêm os lugares a qualquer preço e perpetuam o sistema.mantêm-.se nele e nada contribuem para que se modifique e anulam quem tentam.
      entropia de tecnocratas...
      as vezes parecem ratos de porão...

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  3. "Por isso eu defendo que não há nada de errado com os portugueses."

    pois é ai que nós divergimos de opinião, nem que no limite seja a falta de discernimento para sabermos como povo que lutas lutar.

    gosto muito de dar o exemplo islandes, para mim é um épico exemplo de cidadania, aconteceu o que aconteceu. foi o povo que noite apos noite e aos fins de semana se reuniu em protesto, quando o governo caiu trataram de criar uma nova constituição (logo novo sistema) com participação popular(algo que a nossa proibe expressamente) de modo a corrigir um conjunto de situações graves que em alguns casos foram de censura nos media e não só, têm agora uma legislação das mais protectoras que existe da liberdade de imprensa, com novas eleições vieram prisão para banqueiros, referendos sobre como iam gerir a situação ...se assumiam ou não as dividas criminosas de banco privados, mais umas prisões de politicos corruptos e chegando até a vez do Primeiro ministro tb a ser julgado. com todo o pacote legislativo + constituição nova + democracia a funcionar nas questões importantes (e não a treta de "representação" que cá temos)e deixar claro que a corrupção não passa impune, passados 4 anos têm o demprego em 6.9%, e conseguem financiamento a 10 anos com juros a 6% (tendo em conta que ha 4 anos tinham rating de default é obra) e este ano crescem acima dos 6% do PIB.

    agora olha para portugal e para o que reivindicaram os portugueses, NADA foi reivindicado que mudasse o que fosse.
    ta tudo chateado com os audis ou os bms e mais uns subsidios e pronto não se passa disto, esta tudo revoltado com o carro do sr coelho ou com o ordenado dos deputados, mas não ha numeros para suportar por exemplo a iniciativa "auditoria cidadã à divida", cujo objectivo era ter um conjunto de auditores voluntários para sabermos o que se passa.

    temos um sistema politico fechado e criminoso, que não funciona... mas nada acontece neste campo, ou uma mudança de sistema ou imposição de primárias nas lideranças partidárias por exemplo. neste campo houve uma petiçõeszecas para reduzir o numero de deputados como se isso resolvesse alguma coisa, pq o povo acha que é os ordenados dos politicos que faliram o pais.

    tens transparencia 0 por exemplo nos contratos PPP.

    tens uma justiça esburacada para garantir que com o advogado certo prescrevem os processos ou não és condenado por erros processuais.
    repara por exemplo na alemanha um crime só precreve à data de abertura do processo em estando aberto o processo é para ir ate ao fim, ou por exemplo videos e escutas só não são aceites se forem falsas, se foram obtidas "ilegalmente" que processem quem as obteve por faze-lo mas servem de prova na mesma para o crime em questão (exemplo do dvd freeport), e por ai fora.

    é quase um "desporto" na alemanha cidadãos processarem os politicos(ele tb exageram ha lá gente completamente maluca), até quando foi a morte do bin laden um cidadão processou a merkel porque a lei não permite que se aplaudam actos ilegais, e a senhora veio a publico pedir desculpa.

    é esta atitude que falta em portugal, ou provavelmente só falta o "descernimento" que tão bem referiste, mas que falta algo falta.
    o que se passa neste pais não é "normal" ...

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  4. Boa Tarde

    ''Quanto maior a mentira, maior a provablidade de ser acreditada'' Adofl Hitler (não sou facista muito menos admiro suas ideologias politicas).

    Algum dia os EUA deixariam o Euro ser a moeda principal nas exportações? Claro que NÃO!!! Como foi possivel a América evitar tal ''desastre'' para a sua economia? Não vale a pena estar a explicar, pois voçes já devem saber o que aconteceu.

    A crise não existe, existe é uma guerra no auge, Euro vs Dollar, e esta guerra esta a prejudicar a Europa principalmente os paises periféricos (Portugal, Grécia e Espanha), como seria de esperar a agências são todas americanas, mesmo que agora se crie uma agência Europeia já é tarde, pois a credeblidade seria pouca nos mercados. A América está a fazer o seu jogo normal que perde algum potencial económico, mas não tanto caso o Euro se torna se moeda principal das exportações.

    Depois é claro, todos os govenos ''prostituiem'' a nossa pátria, deixam se influenciar pelo Iberismo espanhol, viram marionetas nas mãos da Alemanha e França, e como e obvio isto acontece naturalmente, pois o povo não os têm no sitio, preferem festivais e tabaco bebedeiras e charros, em vez de ir protestar para a rua como se deve, e mostrar ao governo que quem manda somos nós (nem que para isso se tenha de ter uma comportamento um pouco virado para o anarquismo), para num futuro próximo termos F.A ao nosso lado sem exitações.

    Eu particularmente não dou como certo que o mandado de Passos Coelho chegue ao fim, a unica oportunidade vai ser regressar aos mercados em 2013 e parar com austeridade.
    Portugal é uma própria e verdadeira bomba relógio neste jogo de gigantes, prestem atenção não é só o povo que anda farto de engolir em seco, quem sabe num futuro próximo infelizmente estaremos a discutir outro tipos crises.

    Comprimentos a administradores do blogue.

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    1. Caro Anónimo

      Se uma parte considerável dos países do mundo deixassem de utilizar o USD para usarem o EUR nas suas transações, a procura de USD iria baixar de tal forma que causava o colapso financeiro dos EUA e do resto do mundo por arrasto. Nem os EUA permitiriam isso, nem a UE, BRICS e companhia deixariam pois iriam levar por tabela (para além das reservas em USD teriam o problema de supervalorização da moeda que destruiria as suas exportações).

      Mas a crise existe. E não é simplesmente uma guerra USD vs EUR. Tem muitas componentes e a parte cambial é apenas uma delas. E algumas dessas componentes são nacionais e não globais. O preço das casas em Portugal sem que o valor do PIB ou o crescimento populacional justificasse isso. Aumentou porque o dinheiro estava mais disponível, com juros baixos e análises de risco perfeitamente criminosas. Os déficits orçamentais do estado são norma desde o tempo da guerra colonial. Qualquer família compreende o conceito de que se gastar todos os meses mais do que recebe, e se o fizer durante 50 anos as suas finanças vão estourar. Pelos vistos os nossos dirigentes não compreendem isto.

      Em relação às agências de notação financeira, é - na minha opinião - um caso de polícia. O que eles fizeram manipulando os rates de produtos financeiros (e países) dos seus melhores clientes é um caso de manipulação financeira e quem decidiu e implementou essas políticas devia estar na barra de tribunal a responder pelo que fez. Uma agência europeia seria bem vinda, mas provavelmente sofreria das mesmas pressões e rapidamente juntar-se-ia a este grupo de malfeitores que vendem pareceres positivos a troco de (muito) dinheiro.

      Quanto aos protestos, não tenho a certeza de que sejam a melhor forma de se resolver o problema. Eu seria capaz de protestar na rua para exigir justiça em relação ao BPN (vida, nacionalização e privatização), às PPPs (tudo, desde os anos 80), à corrupção nas Camaras Municipais, governo central, empresas sanguessugas que ganham contratos estatais sem concurso público. Mas ir para a rua pedir empregos, quando o governo não os tem para dar ou pedir dinheiro quando os cofres estão vazios não me parece que dará qualquer resultado positivo. E não sei se na Grécia, esses protestos (os violentos) não ajudaram a destruir a economia do turismo, a confiança dos credores, etc.

      A primeira república portuguesa seguiu o estilo da Grécia: revoltado e violento. O resultado foi o que se viu. É só uma opinião, mas eu não irei para a rua pedir coisas que não acredito que o governo (este ou outro qq) tenha para dar.

      Espero que o Passos Coelho chegue ao fim do mandato. Como desejei que o Sócrates o fizesse, o Santana, o Durão e Guterres. Os governos são para chegarem ao fim. E tem que lhes ser dado tempo para fazerem o trabalho deles com paz e respeito, mesmo que não tenhamos votado neles. Quando os governos começam a cair, os novos governos passam a governar à vista. Se muitos dos nossos problemas são causa de problemas óbvios que foram empurrados com a barriga para 4 anos para a frente, imagine se começarem a empurrá-los para a semana que vem. A situação piora... e piora mesmo.

      Mas concordamos numa coisa. Portugal está nos limites. E tem rapidamente que conseguir ver esperança novamente. O desemprego a baixar, o PIB a subir e as contas do estado controladas. Espero que a UE compreenda o esforço honesto e dedicado que Portugal está a fazer e que esteja ao nosso lado para algo do tipo Plano Marshall. Mas não o fará enquanto países como a Grécia (e quiça Portugal, talvez só o saberemos mais tarde) continuarem a fazer cosmética contabilística e a fugir ao que assinaram.

      O tempo dirá. Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcançe, e esperar que os outros também o façam já que somos um peão no meio dos grandes poderes do mundo.

      Os melhores cumprimentos,

      António

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  5. Caros ha muito que deviam ter um projeto supra partidario em portugal. ha muito que se devia ter ultrapassado a dicotomia na qual dividiram literalmente o país e as áreas de negócio.
    Ha falta de liderança, ha problemas de credibilidade,de confiança, transparência, ética.ha falta de projeto a longo prazo, de visão.os estratagemas, os esquemas, o circuito fechado, a mentalidade, a falta de conhecimento. a arrogância. problema de identidade, de falta de identificação de valores de referência, de esperança.

    vou seguir um cidadão comum, que se levante cedo, que se esforce, que se dignifique, que dignifique os outros, que trabalhe, que tenha visão, sentido de humor, inteligencia, generosidade, humildade, que sirva os portugueses e nao se sirva do país... que declare os rendimentos a entrada e a saída, que seja de curta duração a passagem, que seja de rotatividade, que se torne desinteressante para o poder económico,que frequente o metro, o comboio, o avião.que faça parte da comunidade´. que seja eleito por quem vota e nao por quem manda... gosto da ideia multi partidária na qual nenhum poderia governar sozinho... muito caminho a percorrer...

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